terça-feira, 29 de setembro de 2015

Debate no IAB-RJ sobre a demolição do viaduto da Perimetral no Rio de Janeiro

Janot, eu e Geronimo Leitão
No último dia 28 de setembro de 2015 no auditório do IAB-RJ foi mostrado o filme "Perimetral: memória e reflexão" do Laboratório de Mídias Urbanas (LAMUR) da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (EAU-UFF), seguido de um debate com os professores Luiz Fernando Janot e Geronimo Leitão. O LAMUR é composto pelos jovens arquitetos; Christian Guitton, Diogo Braga, Isabella Rocha e Juliana Pajek, que demonstraram grande capacidade de manipulação da linguagem dos documentários e do cinema. O grupo faz parte de um núcleo do IAB-RJ, que promove uma série de sessões de cinema na instituição, que tem como tema a ocupação humana do território. Durante o debate também se registrou a ausência do professor Alfredo Britto, que também fez depoimento no filme, e que foi convidado para participar dos debates, mas em função de problemas de saúde não pode participar.

O grupo do LAMUR antes da projeção
Os debates rondaram em torno dos benefícios e custos envolvidos, com a demolição do viaduto da Perimetral na cidade do Rio de Janeiro, e também sobre a necessidade de se atingir uma maior participação nos projetos urbanos. A demanda contemporânea para ampliação da transparência dos debates em torno da cidade que estamos produzindo é uma premência, não só no Brasil, mas no mundo todo. O filme do LAMUR, longe de se alinhar de forma automática de um lado ou de outro traz uma reflexão madura de como a cidade contemporânea vem sendo produzida. Há um espaço promissor para o debate e para a objetivação de transformações variadas no mundo contemporãneo. A participação não pode mais ser fator de imobilismo e de manutenção da cidade tal como está.

Enfim, foi uma tarde noite proveitosa...

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Exposição casa, cidade, mundo dia 03 de outubro no Hélio Oiticica

A exposição Casa Cidade Mundo, a beleza possível será inaugurada nesse sábado dia 03 de outubro de 2015 no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, perto da Praça Tiradentes no Rio de Janeiro. Na mostra estou apresentando um trabalho, que envolve uma proposta para uma quadra habitacional para as cidades brasileiras. Nessa quadra de 100 por 100 metros procurei implantar habitações diferenciadas de diferentes tipologias, agregando também usos comerciais. A proposta pretende debater uma configuração de uma quadra habitacional com pluralidade de usos (comércio e habitação), diversidade de tipologias e variedade de extratos sociais para o problema habitacional brasileiro.

Enfim é uma excelente oportunidade para debater  e pensar sobre as formas e forças que vem construindo a cidade brasileira...

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O arquiteto português Nuno Martins esteve no auditório do Instituto de Arquitetos do Brasil departamento do Rio de Janeiro (IAB-RJ) nessa quinta feira dia 17 de setembro de 2015, discutindo as ações de sua ONG Building 4 Humanity, na sigla em inglês. A palestra recebeu o título de “Arquitetura humanitária: desenhando para o risco, construindo resiliência. 

O termo resiliência, no campo da arquitetura e do urbanismo nos últimos tempos, vem sendo recorrentemente utilizado, assim como sustentabilidade, chegando mesmo perto da exaustão. As palavras quando utilizadas nessa intensidade tendem a não significar mais nada, pois denominam tudo. Diferentes conceitos, atitutes e posicionamentos estão abrigados numa palavra tão usada, fazendo de sua própria definição algo fluido, capaz de se moldar em diferentes formatos.

Apesar disso, percebe-se na atitude do arquiteto a emergência de um novo tipo de profissional, que tende a valorizar o processo de construção da benfeitoria, que toda arquitetura envolve, mais que o próprio produto final que essa constrói. De uma maneira geral, tendo a achar essa atitude preconceituosa, apontando uma atitude do arquiteto diferente quando se defronta com a precariedade, e outra quando está diante da plenitude de recursos. Mas quando se verifica a obra apresentada de Nuno Martins, nas difíceis condições da África em Guiné Bissau, percebe-se também um compromisso com o resultado final, que denota uma atitude ética e moral, que muito observa as características culturais, sociais, psicológicos, espirituais e econômicos.

Vale a pena visitar o site da ONG no link abaixo;

https://buildinghumanity.wordpress.com/about/declaracao-de-principios/

Mais uma indicação de como o projeto é desarticulado na cidade brasileira


Cadeirante sofre humilhação para acessar bondes
Já escrevi aqui sobre os problemas da obra do bonde de Santa Teresa na cidade do Rio de Janeiro, de como existe por parte dos governos, nas três esferas - federal, estadual e municipal - uma segmentação de ações, ao invés da coordenação e articulação inerentes ao projeto. Mais um exemplo desse tipo de prática vem a tona com a matéria publicada no jornal O Globo do dia 18 de setembro de 2015, que mostrou a ausência de qualquer previsão para garantir o acesso de cadeirantes no sistema de bondes, que ainda está funcionando em teste, da Estação Carioca até a Curvelo.

As obras do bondinho de Santa Teresa estão mais uma vez paradas, sem qualquer previsão de retomada dos serviços, e ainda mostra essa clara manifestação de desarticulação das suas ações, típica de quem não investe em projeto e planejamento.

Abaixo link da matéria no jornal O Globo...


http://oglobo.globo.com/rio/atleta-cadeirante-enfrenta-dificuldade-de-acesso-em-cartoes-postais-da-cidade-do-rio-17527787

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Matéria no O Globo fala de cidade inclusiva

A Favela do Vidigal no Rio de Janeiro
O arquiteto norte americano Alexandros Washburns, de mãe grega e pai dos EUA, foi entrevistado na coluna do jornal O Globo, "Conte algo que não sei", defendendo a ideia da produção de uma cidade inclusiva. O arquiteto esteve no Rio de Janeiro em função da Cúpula dos Prefeitos, e também celebrou implantações como as favelas do Vidigal no Rio de Janeiro e de Paraisópolis em São Paulo, como formas de luta "pela igualdade de condições e por cidades que sejam possíveis para todos", velhas bandeiras dos arquitetos brasileiros e do IAB-RJ.

A cidade pode efetivamente ser um equipamento promotor de inclusão, pois é o lugar de oportunidades variadas para diversos agentes e atores, disponibilizando espaços de acesso à cultura, à educação, ao lazer, ao emprego. As redes de solidariedade presentes nesses assentamentos muitas vezes garantem a sua população o acesso a perspectivas de melhoria de vida num espaço de poucos anos. A cidade na verdade é o local com maior concentração de oportunidades, não só de empregos, mas também, de lazer, cultura, educação, que impulsionam transformações na vida de agentes e atores diversificados.

Abaixo o link da matéria...

http://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei/alexandros-washburn-arquiteto-vidigal-paraisopolis-lembram-grecia-17497909

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Visita ao curso de arquitetura da PUC-RIO para divulgar o IAB-RJ

Apresentação do IAB-RJ no atelier do Prof. Marcelo Bezerra
Nessa segunda feira, dia 14 de setembro de 2015 estive no curso de arquitetura da PUC-Rio, para divulgar o papel relevante do Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento do Rio de Janeiro (IAB-RJ), como uma organização sem fins lucrativos, e que luta por uma maior valorização das ações de plano e de projeto na sociedade brasileira.

O IAB-RJ está prestes a completar cem anos de existência, o que é um fato memorável no contexto brasileiro, de reconhecida pouca importância para as organizações da sociedade civil. Fundado em 1921, como Sociedade Central de Arquitetos na então Escola Nacional de Belas Artes na Avenida Rio Branco no centro do Rio de Janeiro, a entidade desde sua fundação defendia a ideia de promoção de concursos públicos de projetos para obras de relevância. Aspecto esse, considerado fundamental para ampliar a transparência das obras públicas no Brasil, tanto no que se refere aos seus custos, benefícios e adequação a melhoria da qualidade de vida da população brasileira. Em nossa contemporaneidade podemos mesmo imaginar, como os problemas de corrupção e superfaturamento de obras públicas poderia ser evitado se tivéssemos uma sociedade onde plano e projeto fossem melhor considerados.

Nesse sentido, um dos aspectos que também destaquei foi a realização do Congresso Internacional de Arquitetura da União Internacional de Arquitetos (UIA), que se realizará no Rio de Janeiro no ano de 2020. O Congresso foi conquistado pela rede nacional do IAB para a cidade do Rio de Janeiro, no último congresso da UIA em Durban na África do Sul em 2014, no qual também concorreram as cidades de Melbourne na Austrália e Paris na França.

Na verdade, o UIA RIO 2020 pode ser uma oportunidade ímpar para promover as atividades de planejamento e de projeto, como importantes ações para ampliação da transparência das obras públicas brasileiras, até sua realização. A pretensão da rede nacional do IAB é que o plano e o projeto são instrumentos que possibilitam a participação ampla do conjunto da sociedade na definição da cidade que queremos construir. Nas suas fases iniciais, tanto o plano, quanto o projeto são os únicos instrumentos de pré-figuração das mudanças pretendidas, permitindo que os custos e benefícios sejam avaliados por um amplo espectro de atores e agentes.

Portanto, a conquista pode vir a ser um importante avanço para o conjunto da sociedade brasileira...

Palestra na Universidade Estácio discute o projeto de cidade que estamos construindo



As linhas de transporte hidroviário previstas no PDTU de 2002,
que não foram implantadas
Na última quinta feira dia 10 de setembro de 2015 fui convidado para apresentar uma palestra sobre a questão da mobilidade na cidade do Rio de Janeiro, que procurei articular com a determinação presente no projeto de cidade que estamos construindo. Procurei apresentar como o desenvolvimento histórico da cidade metropolitana do Rio de Janeiro teve como premissa a exclusão de amplos setores da nossa sociedade, do conjunto das benfeitorias urbanas, que não estão distribuídas de forma equânime no seu território.

A cidade metropolitana do Rio de Janeiro, com seus 12 milhões de habitantes, que se desenvolveu no entorno da Baía de Guanabara apresenta algumas características que precisam ser mudadas se pretendemos ter uma sociedade baseada numa maior equidade. Essas características também estão presentes no conjunto das cidades brasileiras e podem ser descritas por quatro tendências inerciais muito claras:
  • Cidade dispersa e espalhada, sem a universalização das infraestruturas urbanas para todos, com a presença do abandono dos antigos centros históricos. 
  • Cidade baseada na estratificação das diversas classes e extratos sociais, que geram guetos de ricos e pobres e ou áreas monofuncionais ( centros de negócios e áreas dormitórios). 
  • Cidade com uma mobilidade desestruturada, determinando forte exclusão a partir da ausência ou tarifação cara do transporte público. 
  • Cidade com uma aproximação predatória dos seus biomas naturais particulares, acabando por gerar fortes impactos ambientais. 

Precisamos reverter essas tendências ampliando a prática do debate do plano e do projeto em nossa sociedade, apresentando de forma transparente e ampla o tempo e as ações a serem implementadas no território da cidade. Não podemos mais nos esconder por trás de discursos abstratos e complexos do plano ou do projeto, que não são compreendidos pelo conjunto da população. Há uma necessidade premente de se olhar para o cotidiano imediato desses contingentes populacionais, que são penalizados pela falta de urbanidade buscando formas de melhoria imediata para suas vidas. Os jovens arquitetos precisam compreender que a construção de uma sociedade com maior equidade de distribuição de oportunidades depende de uma melhor estruturação do espaço de nossas cidades.




segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Thomas Piketty, o livro O Capital no século XXI e a educação

A situação da divisão de renda do mundo contemporâneo é o principal assunto do livro O Capital no século XXI do economista francês Thomas Piketty. Além da questão de uma falsa meritocracia do sistema neo-liberal capitalista, onde quem nasce pobre permanece pobre, e quem nasce rico, torna-se mais rico. A pobreza é corretamente classificada como a falta de liberdade de escolha.

Segundo dados do livro, coletados junto ao Banco Crédit Suisse, 0,7% da população mundial se apropriam de 41% da riqueza do planeta (patrimônio acumulado). Enquanto, do outro lado 68,7% da população se apropria de apenas 3% da riqueza. Segundo Piketty a riqueza vem se concentrando desde o final da década de 1970, quando com as eleições de Margareth Thatcher e Ronald Reagan, no mundo anglo-saxão primeiro, e logo depois no restante dos países começam a desonerar de impostos as grandes riquezas, e a desregulamentar o sistema financeiro internacional.

Há uma clara emergência da hegemoinia do capital financeiro no mundo, que possibilita o cada vez maior enrriquecimento improdutivo dos milionários. Segundo o livro, os ricos mantém em paraísos fiscais de US$21 a US$32 trilhões, sem pagar qualquer imposto. Para Piketty apenas de 1945 a 1975, os anos clássicos da social democracia, o mundo capitalista teve uma ampliação distributiva importante, impulsionada pelas duas guerras mundiais, pelo crack da bolsa de Nova York, e pela presença do socialismo real. Entre 1973 e 2007, os salários reais por hora de trabalho caíram de valor em 4,4%, enquanto no periodo de 1947 a 1973 o salário horário havia crescido 75%.

A partir da década de oitenta e noventa com o declínio dos setores industriais tradicicionais, a regressão da interlocução com os sindicatos, o desenvolvimento da sociedade de serviços e das tecnologias de informação instala-se a hegemonia de grandes grupos financeiros e rentistas. Dos 147 grupos corporativos mais poderosos do mundo, que controlam 40% do capital corporativo do mundo, simplesmente 3/4 deles são bancos, capital improdutivo. Dos anos de 2005 a 2010 os depósitos dos cinquenta maiores bancos do mundo elevaram-se de US$5,4 para US$12 trilhões.

A preferência das democracias nos investimentos no mundo contemporâneo tende claramente para as atividades rentistas e financeiras, em detrimento de atividades impulsionadoras de uma maior equidade, como a educação. Os 25 gestores de fundos de investimentos mais bem pagos ganharam em 2013 US$21 bilhões, mais que o dobro da soma dos rendimentos de cerca de 150 mil professores primários norte americanos.

Tudo isso indica de forma clara e inequívoca, qual é a inércia do mundo contemporâneo e para onde ela nos leva...

sábado, 5 de setembro de 2015

Matéria de hoje no O Globo traz o problema do tipo da cidade e a violência

Foto da matéria do jornal O Globo de 05-09-2015
Hoje dia 05 de setembro o jornal O Globo publicou matéria com uma fala minha, sobre a questão da tipologia espacial da cidade e a violência urbana, em função da recente morte de Ana Lucia Neves no Recreio dos Bandeirantes, na cidade do Rio de Janeiro. A questão da violência urbana é muito complexa para ser reduzida a apenas um aspecto, e acaba por provocar reações por parte dos atingidos por ela de legítima revolta.

A questão que procurei colocar é que a violência urbana também precisa ser espacializada, e pensada sob a ótica do tipo de cidade que no Rio de Janeiro e no Brasil tornou-se a forma hegemônica de sua reprodução. A dispersão desproporcional, a baixa densidade, a total dependência dos deslocamentos feitos por automóvel individual, os condomínios clubes com pretensão a auto-suficiência, e a estruturação de centros comerciais análogos aos shopping centers acabam determinando um espaço público com ausência de pessoas e transeuntes, que potencializa a insegurança e a realização de crimes.

A Barra da Tijuca e o Recreio dos Bandeirantes na cidade do Rio de Janeiro concentram essas características, mas ela também é reproduzida pelo mercado imobiliário e por consumidores que buscam novas unidades em várias partes da cidade. O tipo portanto encontra grande acolhimento no conjunto da sociedade, envolvendo uma cultura arraigada na sociedade brasileira. A íntegra da minha fala está reproduzida abaixo:
"Para urbanistas ouvidos pelo GLOBO, o modelo de crescimento da região potencializou a violência. Segundo o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Pedro da Luz Moreira, Barra e Recreio têm um modelo que ele classifica como “rodoviarista”, que isola moradores e os divide em estratos sociais:— O modelo seguro é aquele em que você tem várias camadas sociais diversificadas, como é o caso de Copacabana, que também tem o comércio voltado para a rua. Isto aumenta a circulação de pessoas, cria autossegurança. No modelo rodoviarista, você tem o seu carro, mas quando para no sinal, ou vai estacionar, há espaços, mas não há calçadas nem pessoas. O comércio funciona em shoppings onde você não vê a calçada, mas apenas uma massa de veículos. O risco é potencializado — explicou Pedro da Luz."
O link abaixo traz a íntegra da matéria;

http://oglobo.globo.com/rio/com-menos-moradores-que-barra-da-tijuca-recreio-registra-mais-roubos-de-veiculos-17412388

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Debate "Políticas Habitacionais nas Regiões Metropolitanas do Rio de Janeiro e Buenos Aires" no IAB-RJ

O deputado Javier Gentilli falando sobre a experiência em BAs
Na última terça feira dia 01 de setembro de 2015 foi realizado no Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento do Rio de Janeiro (IAB-RJ), um debate com arquitetos e deputados da Argentina, que mostraram as experiências da cidade de Buenos Aires com o enfrentamento das favelas locais. Os membros da comitiva argentina eram; o Deputado Javier Gentilli, a Arquiteta Alicia Gerscovich,  a Deputada Cecilia de la Torre, Deputado Jorge Aragón, e a Assessora da Comisión de Vivienda Romina Righetti. Também falaram de suas experiências profissionais, os arquitetos brasileiros, Luiz Carlos Toledo e Demetre Anastassakis, tanto no enfrentamento do problema da urbanização das favelas, quanto na política habitacional do Brasil.

O debate foi extremamente rico e revelou a expressiva presença da informalidade na cidade de Buenos Aires, que segundo os argentinos atinge 10% da população da cidade metropolitana portenha, o que significa um contingente de 1,6 milhão de pessoas. Nos últimos anos as cidades no mundo vem sofrendo com as políticas neo-liberais, que determinarm o declínio do papel dos governos na gestão e modelagem da cidade que queremos produzir. Tal prática determinou a ampliação expressiva da auto-construção e dos territórios informais nas cidades, gerando uma cidade estratificada e segmentada entre ricos e pobres.

O IAB desde o ano de 1963 durante o governo do presidente João Goulart, no Encontro sobre Reforma Urbana realizado no Hotel Quitandinha em Petrópolis, já defendia a ideia de que a urbanização de favelas, devereia ser um dos ítens da política habitacional do país. Na verdade, percebe-se no país um estágio muito atrasado na produção da habitação social. O programa Minha Casa, Minha Vida repete erros históricos do antigo BNH.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Reunião no IAB-RJ debate ação de ONGs em favelas

Na mesa do IAB-RJ, Mariana Estevão, eu, Caroline Mignot e Javier Abi-Saab
Na última segunda feira dia 31 de agosto de 2015 estiveram no auditório do Instituto de Arquitetos do Brasil departamento do Rio de Janeiro (IAB-RJ) organizações não governamentais (ONGs) que prestam assessoria aos movimentos sociais no Brasil em diversos contextos. Estiveram na mesa debatendo com o público presente; Javier Abi-Saab da Ong Teto, que tem origem em Santiago do Chile, Caroline Mignot da Um litro de luz das Filipinas, com sede no Brasil em Florianópolis e a arquiteta Mariana Estevão da Soluções Urbanas, que tem sede em Niterói.

O debate gerou em torno do termo resiliência, e da questão da articulação estrutural ou pontual de soluções, que hoje domina alguns fóruns, que vem demonstrando um certo cansaço com relação ao aparelhamento das discussões desses temas. Uma certa supremacia ou emergência da atuação imediata.

Caroline Mignot da ONG Litro de Luz
A ONG Teto fornece habitações de madeira pré-construídas para familias em áreas de extrema pobreza, no Rio de Janeiro atuaram na Vila Beira Mar, uma comunidade próxima ao antigo lixão de Gramacho em Duque de Caxias. A ONG fornece uma casa de madeira pré-fabricada com 18M2, que é montada junto com a familia em dois dias

A ONG Litro de Luz nasce de uma tecnologia bastante simples desenvolvida no Brasil, que se utiliza de garrafas PET enchidas com alvejante para iluminar ambientes. Na experiência apresentada no auditório do IAB-RJ, na mesma comunidade de Vila Beira Mar em Gramacho foram instalados postes de iluminação, usando garrafas PET e células foto votaicas para as ruas da comunidade.

Por último, a ONG Soluções Urbanas milita em comunidades faveladas de Niterói e presta serviço assessorando moradores, que pretendem reformar suas casas, dentro dos princípios da lei de Assistência Técnica aprovada no Congresso Nacional em 2008, que garante o direito à populações carentes dos serviços de arquitetura.

Todas as ONGs militam no campo da produção de uma cidade com maior equidade, o problema que coloquei para todas elas é a excessiva pontualidade das atuações, que se limitam a resolver problemas localizados e imediatos dessas comunidades, não se envolvendo com uma maior estruturação das origens. Todas deram uma resposta convincente de que os probllemas do cotidiano imediato no qual elas se engajam podem iniciar um processo de construção de uma cidadania mais efetiva e duradoura, celebrando o processo, mais que os resultados.

Abaixo o link das tres ONGs, que devem ser conhecidos:

https://www.techo.org/paises/brasil/amigos-do-teto/

http://www.litrodeluz.com/

http://solucoesurbanas.org.br/

Mais um texto sobre A ética protestante e o 'espírito' do capitalismo

Como já assinalado, num texto anterior aqui no blog Arquitetura, cidade e projeto o livro de Max Weber, com o título A ética protestante e o 'espírito' do capitalismo é uma incrível oportunidade para refletir sobre o processo histórico de longa duração, que acabou consolidando o sistema capitalista como forma hegemônica de operar. No outro texto assinalei uma certa tendência do sistema  a anular a concorrência, em nome da construção de monopólios, em função da polêmica do UBER e dos táxis, que dominou a agenda há alguns dias atrás.

A longa transição entre o feudalismo e o capitalismo, que criou nuances históricas entre estados nacionais, como o capitalismo mercantilista, uma certa manutenção de princípios feudalistas, ou ainda um capitalismo financeiro, desembocaram em nossa contemporaneidade, onde o sistema parece ter dominado toda a face do planeta Terra, e quando, se percebe uma clara hegemonia do sistema financeiro. Weber coloca de forma apropriada a lenta conquista dos corações e mentes pelo sistema capitalista, na qual as mentalidades e as práticas cotidianas geradas pela reforma desempenharam importante papel;
"Para que essas modalidades de conduta de vida e concepção de profissão adaptadas as peculiaridades do capitalismo pudessem ter sido 'selecionadas', isto é, tenham podido sobrepujar outras modalidades, primeiro elas tiveram que emergir, evidentemente, e não apenas em indivíduos singulares isolados, mas sim como um modo de ver portado por grupos de pessoas...Por ora, é suficiente para nosso propósito indicar: que na terra de Benjamim Franklin (o Massachusetts) o 'espírito do capitalismo' no sentido por nós adotado existiu incontestavelmente antes do 'desenvolvimento do capitalismo'." Página 48 WEBER, 2004
Weber aponta o abandono da condenação da prática da usura, a concepção do esforço profissional de cada um como uma forma de louvação a Deus, e a idéia de pré-destinação como fundadores de práticas, que impulsionaram a forma de operar do capital, todas presentes no protestantismo. Interessante também os dados apresentados mostrando a maior aproximação dos protestantes com as carreiras técnicas, enquanto os católicos permaneciam nas áreas humanas, apesar da clara tendência de um maior investimento na formação profissional por parte da reforma. A palavra alemã Beruf, que pode ser traduzida por vocação ou profissão, e que muitas vezes envolve o imbricamento dos dois registros, podendo ser; vocação profissional ou profissão como vocação, esclarece muito das concepções divergentes entre católicos e protestantes. Weber irá contrapor a forma de encarar a vida monástica pelos católicos, à maneira de entender as profissões intra mundanas pelos protestantes, esmiuçando a visão desses últimos;
"Ora, a conduta de vida monástica é encarada não só como evidentemente sem valor para a justificação perante Deus, mas também como produto de uma egoística falta de amor que se esquiva aos deveres do mundo. Em contraste com isso, o trabalho profissional mundano aparece como expressão exterior do amor ao próximo.." Página 73 WEBER, 2004
Weber também aponta nuances na visão de mundo dos protestantes, apontando que o luteranismo permaneceu condenando a usura e celebrando esse afastamento do mundo dado pela vida monástica. Aponta também uma maior generosidade com o mundo por parte dos jesuítas, católicos da contra-reforma, que promoveram maior adaptação ao cotidiano, pelo probabilismo e uma clara vertente de inclusão de uma diversidade de visões.

A construção da hegemonia de determinadas ideias é sem dúvida um processo de longa duração, mas volta e meia é importante perguntar. Como suportar o cotidiano, nessas condições?