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Os membros do Conselho Superior do IAB, com a cúpula-
cone da catedral de Maringá ao fundo |
Estive na cidade de Maringá do interior do estado do Paraná, para o encontro do Conselho Superior (COSU) do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), entre os dias 25 e 28 de janeiro de 2017, no qual participei de uma mesa redonda em torno do tema; Uma agenda para as cidades brasileiras. A cidade de Maringá é uma agradável surpresa no cenário geral das aglomerações urbanas brasileiras, principalmente por seu padrão de desenho urbano. Fruto de um desígnio de um engenheiro paulista Jorge de Macedo Vieira, que elaborou o plano urbanístico em 1942 a partir da demanda de um empreendimento privado inglês, através da Companhia de Terras do Norte do Paraná. A empresa inglesa comprou no nordeste do Paraná, uma extensão de 515mil alqueires, que envolvia as cidades e a produção agrícola de Londrina, Maringá, Cianorte e Umuarama se articulando a rede ferroviária de São Paulo. Os núcleos urbanos estão espaçados entre si de cerca de 100quilômetros, tendo o planejamento regional uma dimensão que envolvia o parcelamento das terras rurais, a abertura das cidades, a venda dos lotes urbanos, os transportes rodoviários e ferroviários.
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Planta da cidade de Maringá |
O primeiro núcleo urbano de Maringá envolvia apenas oito quadras, conforme assinalado na Planta da cidade de Maringá, que nos mostra o arruamento geral proposto pelo engenheiro Jorge de Macedo Vieira de 1942. Interessante notar a influência do urbanismo das
Garden Cities inglesas, com seu lançamento de logradouros arqueados para se adequar a topografia do sítio. As duas grandes áreas verdes, o Parque do Ingá e o Parque do Bosque são exatamente fundos de vale, para proteção dos mananciais, garantindo ao aglomerado urbano a presença da natureza. As caixas das avenidas e ruas seguem o padrão de Barcelona (1848), que já havia sido aplicado em La Plata(1882) e Belo Horizonte (1897); 35metros para as primeiras e 20 metros para os logradouros menores. Tanto as avenidas, quanto as ruas apresentam forte arborização, apesar de também apresetarem a rede de distribuição elétrica aérea, o que volta e meia ainda sacrifica a sua poda. As avenidas invariavelmente se assentam nas cumeadas topográficas, estando desenhadas com um canteiro central generoso, duas pistas de rolamento, mais um estacionamento lateral, e calçadas adjacentes aos lotes de grandes dimensões. Na planta, o logradouro pontilhado assinala o leito da antiga rede ferroviária, que era o limite norte da aglomeração urbana, que será rebaixado nos seus 7.360metros de extensão no ano de 2012. Esse rebaixamento da rede de trilhos poderá vir a ser o embrião de um sistema da transporte de massas, que a cidade ainda não possui.
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O skyline da cidade de Maringá |
Apesar dessa qualidade em seu desenho urbano, a arquitetura construída da cidade não apresenta o mesmo padrão de desenvolvimento, mostrando-se em grande número a partir de uma lógica autônoma do lote isolado. Tal configuração acaba por enfatizar uma excessiva autonomia da obra construída com relação aos seus vizinhos imediatos, e ao conjunto da quadra, exibindo um perfil descontínuo de implantações e desenvolvimentos. O desenvolvimento em torres isoladas já ocorre na cidade nas áreas mais valorizadas do centro, determinando uma radicalização da autonomia de padrões, acabamentos e soluções arquitetônicas, que desvela toda a crise de conjunto da cidade contemporânea.
A cidade de Maringá, apesar de seus problemas apresenta ao final uma experiência urbana notável. na qual se manifesta a presença de uma ação continuada de plano e projeto, essas trazem para a população uma certa celebração desse lugar no contexto do Brail. Esse é o valor maior de Maringá para o conjunto das cidades brasileiras, essa capacidade de apontar que o investimento no espaço para as próximas gerações é fundamental se queremos gerar melhor qualidade de vida para o conjunto da população, e não apenas para uma minoria.
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