quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Debate em São Paulo sobre Operação Urbana Consorciada

O cartaz do evento
Participei de um debate nesta segunda feira, dia 14 de outubro de 2013 em São Paulo sobre as Operações Urbanas Consorciadas (OUC). Este novo instrumento do Estatuto das Cidades vem sendo aprimorado, e, possui em São Paulo uma grande concentração de experiências práticas já instaladas. Os primeiros resultados não podem ser celebrados como exitosos, pois apresentam claramente uma vertente ansiosa por promover uma cidade; especializada no uso corporativo, centrada no desenvolvimento da torre, e numa busca excessiva por ícones arquitetônicos isolados. Mas apesar disto percebe-se na cidade de São Paulo um processo em andamento, que procura aprimorar a apropriação da valorização da terra urbana pelo poder público. As experiências implantadas possuem o mérito de se comprometer com o operativo e com o risco da realização. Na minha mesa pela manhã falaram o vereador Nabil Bounducki,  a arquiteta Camila Maleronka e eu.

Minha exposição se centrou sobre as experiências em curso no Rio de Janeiro (Porto Maravilha) e Niterói (Centro da Cidade). Minhas ponderações foram que a cidade metropolitana do Rio de Janeiro com uma forte personalidade paisagística e imagética, de ícones geológicos como o Pão de Açucar, o Corcovado, o Morro do Estado e etc..., não admitia a transferência mecânica de modelos que invariavelmente se pautam pela produção ansiosa de expressões arquitetônicas exacerbadas. O sítio da cidade metropolitana do Rio de Janeiro pontuado por maciços graníticos de forte personalidade merecia por parte da arquitetura e do urbanismo uma atitude de conformação de contínuos mais homogêneos, que negasse a pontuação personalista da torre. Busquei também assinalar que está em curso uma fragmentação excessiva das ações sobre a cidade, que ao definir perímetros específicos de atuação, como os da OUC, acabam se esquecendo da mútua interdependência das intervenções sobre o território da cidade. Considerei fundamental alinhar um conjunto de quatro pontos que deveriam pautar a cidade brasileira que pretendemos construir no futuro;

1.  uma cidade densa e que reforce a centralidade do antigo centro histórico,
2. uma cidade com multiplicidade de extratos sociais e de usos,
3. uma cidade de mobilidade urbana ampliada baseada numa rede de transporte público, e,
4. por último uma cidade com uma convivência positiva com os biomas naturais próximos.

No meu entendimento nenhum destes princípios vem sendo alcançados pelas OUCs em andamento em São Paulo e no Rio de Janeiro. Neste sentido o cartaz escolhido pela Hiria como imagem do evento é bastante sintomático. Nele, veja imagem anexa, a cidade mostrada é pontuada por torres, com personalidades arquitetônicas excessivas que se negam ao diálogo e a formação de conjuntos mais contínuos, sem pedestres e dominada por obras rodoviárias e por carros. Será que é esta cidade que desejamos?