quinta-feira, 17 de abril de 2014

Morre Gabriel Garcia Marques

Ainda me lembro do maravilhamento causado por "Cem Anos de Solidão" em mim, no final da década de setenta. As polêmicas que travávamos sobre o realismo mágico e sua vinculação com aspectos da América Latina, e um suposto abandono de um complexo de colonizado, que percorria todos os países dessa parte do mundo. O bordão Rodrigueano do "Complexo de Vira Lata", que caracterizava os brasileiros. Havia então, a emergência de um forte terceiro mundismo, que celebrava a necessidade de nos embrenhar pelos "Macondos" de nosso continente, procurando entender o fenômeno de uma cultura ao mesmo tempo mágica, objetiva e incompleta. Uma cultura com uma carência imensa de fatos, uma presença doentia da violência, com uma ausência total de uma narrativa explicadora, e sempre incompleta. Enfim, onde talvez seja melhor inventar estórias, do que entender:

"...O emissário trazia uma ordem altamente confidencial do Coronel Aureliano Buendia, que não estava de acordo com os termos do armistício. O Coronel Gerineldo Márquez devia selecionar cinco dos seus melhores homens e se preparar para abandonar com eles o país. A ordem foi cumprida dentro do mais absoluto segredo. Uma semana antes que se anunciasse o acordo, e no meio de uma saraivada de boataos contraditórios, o Coronel Aureliano Buendia e dez oficiais de confiança, entre eles o Coronel Roque Carniceiro, chegaram sigilosamente a Macondo depois da meia noite, dispersaram a guarnição, enterraram as armas e destruíram os arquivos. Ao amanhecer já haviam abandonado o povoado com o Coronel Gerineldo Marquez e os seus cinco oficiais. Foi uma operação tão rápida e confidencial que Úrsula não soube de nada a não ser na última hora, quando alguém deu umas pancadinhas na janela do seu quarto e murmurou: 'Se a senhora quer ver o Coronel Aureliano Buendia, chegue na porta agora' Úrsula pulou da cama e saiu na porta de camisola, e só conseguiu perceber o galope da cavalaria, que abandonva o povoado no meio de uma silenciosa poeirada..."
Página 132 de Cem anos de Solidão - editora Record Rio de Janeiro 1979

Ainda não conheço Arataca na Colômbia onde ele nasceu...

Exposição do arquiteto Harry Seidler

Está exposto na sede do IAB-RJ a obra de Harry Seidler, arquiteto austríaco, que viveu na Austrália desde o final da segunda guerra mundial até o começo do século XXI. A exposição fica exposta na sede do IAB-RJ do dia 11 de abril a 16 de maio de 2014, mostrando um interessante painel da prática de projeto do segundo pós guerra, até o inicio do século XXI. Harry Seidler nasceu em Viena em 1923 numa familia judaica, com a invasão de Hitler da Austria em 1938, a familia se dividiu, tendo sua mãe ido para a Australia e o jovem Seidler ido para a Inglaterra. Até aqui a narrativa parece se referir a uma série de relatos ocorridos nas décadas de trinta e quarenta, com o início da segunda guerra mundial.

No entanto, o video mostrado na exposição, logo em seu inicio apresenta um intrigante acontecimento, ocorrido na Inglaterra logo no inicio da segunda guerra mundial, com o jovem Harry Seidler, sem explicitar uma justificativa para tais acontecimentos. Seidler, então com dezessete anos é preso na Inglaterra a princípio por ser um imigrante ilegal, e é deportado para o Canadá, onde viverá num campo de concentração no Novo Mundo na cidade de Quebec. No video há uma narração impressionante de Seidler sobre a viagem num navio entre a Inglaterra e o Canadá, onde os oficiais nazistas ocupam os espaços da primeira classe, enquanto ele e outros deportados são instalados nos porões do navio. A prisão e a deportação de Seidler da Inglaterra é realizada no ano de 1940, portanto no ano seguinte da sua declaração de guerra à Alemanha. O mais estranho é que Seidler é instalado num campo para deportados no Canadá? E, compartilha o alojamento com um comunista austríaco, que havia lutado na Guerra Civil Espanhola. Pensei em várias hipóteses para explicar o ocorrido:

1. Essa era reação corriqueira dos aliados ocidentais aos deportados judeus da Alemanha?
2. Judeus e comunistas eram vistos na época como criminosos pelos aliados?

De qualquer maneira ficam as dúvidas relativas aos tratamentos privilegiados dispensados aos oficiais alemães no navio no qual Seidler empreende sua viagem. Vale a pena conferir na sede do IAB-RJ, na rua do Pinheiro, 10 bairro do Flamengo, perto da estação do Metrô do Largo do Machado.