sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

E, Marx tinha razão...

Interessante, como a análise feita por Marx do sistema capitalista é uma apurada interpretação dos nossos tempos contemporâneos. Algumas das tendências do sistema capitalista foram descritas por ele em meados do século XIX, e permanecem atuais e se materializando diante dos nossos olhos.



A tendência do sistema a buscar a forma monetária, o papel moeda que realiza o lucro, e acaba por desenvolver um imenso processo especulativo, onde a representação da produção (ação) se desvencilha da efetiva realidade das empresas, ganhando uma espiral especulativa, onde moeda ganha capacidade de gerar mais moeda, é um fato. A hegemonia do capital financeiro em nosso mundo contemporâneo, onde o mercado de produtos financeiros produz uma febre especulativa capaz de quebrar o sistema de financiamento de casas nos EUA no ano de 2008 é também um fato, e está entre as previsões do autor do O Capital. A fetichização de algumas mercadorias, que passam a encarnar valores muito além de seu uso efetivo, passando a simbolizar status e poder por si só, também é uma tendência da contemporaneidade. Por tudo isto o sistema tendia a uma constante instabilidade e volatilidade, que se repete em ciclos de crises que se repetem ao longo de sua história.



"...o máximo desenvolvimento da força produtiva e a máxima expansão da riqueza existente coincidirão com a depreciação do capital, a degradação do trabalhador e o mais estrito esgotamento de suas capacidades vitais. Essas contradições levam a explosões, cataclismos, crises, nas quais, pela suspensão momentânea do trabalho e a destruição de grande parte do capital, este último é violentamente reduzido até o ponto em que pode seguir empregando plenamente suas capacidades produtivas sem cometer suicídio. Contudo essas catástrofes regularmente recorrentes levam a sua repetição em uma escala mais elevada...." MARX, Karl - Grundissse - apud HARVEY, David - Os limites do Capital - Editora boitempo São Paulo 2009 pg 280



Ver abaixo o que publicou a Rolling Stones sobre o mesmo assunto...



http://www.rollingstone.com/music/news/marx-was-right-five-surprising-ways-karl-marx-predicted-2014-20140130

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Concurso não segue boas práticas

Prezados companheiros leitores deste blog, nos últimos dias tomamos conhecimento do lançamento de um concurso público de projetos para o edifício anexo do BNDES no Rio de Janeiro, promovido por esta entidade, e com clausulas absolutamente inaceitáveis principalmente no que concerne a integridade do projeto e com relação a autoria. O item que denuncia uma intenção perversa do citado Banco de Desenvolvimento com relação a integridade do projeto e sua autoria está presente na página 06 do citado edital, na qual consta a seguinte redação:

"Para a formatação deste Concurso, o BNDES procurou adotar as melhores práticas de mercado dos concursos de arquitetura conjuntamente com o entendimento do Tribunal de Contas da União no sentido da impossibilidade da contratação do vencedor do concurso para o desenvolvimento dos projetos básicos e executivo decorrentes do anteprojeto vencedor (conforme Acórdão n.º 3361/2011 e revogação da Súmula 157). "

Melhores práticas? Ou, preservação de interesses das empreiteiras? Fica claro, no texto acima a intenção de não contratar o projeto vencedor para seu desenvolvimento até a materialização da obra. Por que?

Além deste ponto o concurso traz no seu anexo IV os termos que definem os critérios da cessão integral da autoria do anteprojeto, que reforçam a interpretação de um procedimento que não privilegia o projeto em sua integridade. Um verdadeiro absurdo!

Por estas e por outras é que se desaconselha a participação num certame desta natureza, onde o projeto é visto de forma fragmentada e fragilizado. 

Abaixo o link do concurso

http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Hotsites/Concurso_Anexo_BNDES/Edital/

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Concurso do BNDES não segue boas práticas

O concurso de projetos lançado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social  (BNDES), para construção do seu anexo na Avenida República do Paraguai na cidade do Rio de Janeiro não segue as boas práticas desta matéria. Para começar, o concurso não garante a contratação do vencedor para desenvolvimento do projeto executivo, fatiando a atividade, e tirando a importância da questão da autoria. Um segundo ponto a ser destacado é que o concurso destaca o famigerado Acórdão no 3361/2011, que proclamou o absurdo; "da impossibilidade de contratação do vencedor do concurso para o desenvolvimento dos projetos básicos e executivos decorrentes do anteprojeto vencedor" (Página 06 do Edital do BNDES). Esse acórdão do TCU é um verdadeiro absurdo, pois afirma que a concepção inicial de um projeto não pode ser desenvolvida até sua materialização como obra construída, pelo mesmo autor. A questão é muito grave, pois nos mostra de forma clara e transparente como um judiciário desinformado, da efetiva prática do projeto, pode determinar procedimentos pouco transparentes na contratação de obras públicas. Por essas duas questões percebe-se que o Edital não dá protagonismo a atividade de projeto, mantendo-a na minoridade, sem a carga de responsabilidade que ela demanda, tanto na questão da autoria, quanto no problema da integridade do processo. Esta atitude sinaliza que o BNDES  permanece se resguardando por trás de uma atitude intransparente, que pretende esconder as reais intenções do desenho da sua futura edificação Porque?

Por estas questões é  que o IAB-RJ não está a frente da promoção deste concurso, pois se recusou a aceitar tais condições...

Abaixo entrevista que concedi a EBC.

http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2014-02/bndes-lanca-concurso-publico-para-escolha-de-projeto-de-arquitetura

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Artigo no O Globo de hoje discute Guaratiba

O meu artigo no jornal O Globo de hoje, 22 de fevereiro de 2014 discute a área de Guaratiba, que entrou na pauta da cidade com a visita do papa Francisco em julho de 2013. Defendo a idéia de que Guaratiba deve ser preservada e conservada devido suas fragilidades ambientais. Defendo também que a área consolidada da região receba as infraestruturas urbanas, tais como esgoto sanitário, drenagem, abastecimento de água, iluminação, calçamento, arborização, etc..., garantindo a quem mora nessa região as comodidades da vida urbana. Aliás não é aceitável, que em pleno século XXI a oitava economia conviva com cidades com os atuais índices de saneamento (52% dos domicílios brasileiros não destinam de forma correta seu esgoto).

Guaratiba é um exemplo notável da situação em que se encontra a cidade brasileira, uma região periférica, uma imensa área intocada até recentemente, que se disponibiliza para uma ocupação imobiliária intensa, dentro de uma lógica imediatista, rasteira e apressada. É importante lutar, a partir do caso de Guaratiba, para a transformação do modus operandi da cidade brasileira, revertendo uma lógica perversa que governa essas expansões impensadas.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A aceleração do mundo, pressa para quê?

Em 1867 Karl Marx escreveu sobre as mudanças tecnológicas que determinaram a diminuição do tempo de circulação das mercadorias, e uma certa aceleração do momento;

"Mas a revolução no modo de produção da industria e da agricultura provocou também uma revolução nas condições gerais do processo de produção social, isto é, nos meios de comunicação e transporte, que foram gradualmente ajustados ao modo de produção da grande industria por meio de um sistema de navios fluviais transatlânticos a vapor, ferrovias e telégrafos." MARX, Karl - O capital - editorial Boitempo 2013 São Paulo

Em nossa época, os aviões, os carros e a internet garantem um grau de conectividade à produção que é assustador. O tempo que o capital tende a ficar imobilizado antes de realizar o lucro diminuiu de forma acentuada, o mundo parece tender para uma aceleração cada vez mais intensa. Neste inicio de ano de 2014, todos temos a sensação de estarmos acelerados, sempre conectados e interligados. As demandas do trabalho chegam nas mais diversas horas e nas ocasiões mais diversas, estamos condenados a receber e a gerar demandas a todo momento. Basta que alguém te ligue ou mande uma mensagem, que logo nos reprogramamos para ativar circuitos e redes. No entanto esta aceleração da quantidade de informações que manipulamos e geramos acabou significando a perda de sentido e de direção para o mundo, uma certa dissolução do objetivo. Corremos muitas vezes sem ter um objetivo maior, um sentido para nossa pressa, simplesmente respondemos pois estamos sendo solicitados a responder. Por isso, selecionei algumas frases de mestres para combater a febre da pressa:

"Não se alcança o coração de alguém com pressa" Luiz Fernando Veríssimo

"Não se afobe não. Que nada é pra já. O amor não tem pressa. Ele pode esperar em silêncio. Num fundo de armário. Na posta restante. Milênios, milênios..." Chico Buarque de Holanda

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Filme destaca a tradição e a modernidade das pedras portuguesas

O filme de Marco Antonio Pereira destaca a tradição de nossas calçadas em pedras portuguesas. A promoção do filme seleciona dois trechos de uma entrevista minha feita no Boulevard 28 de setembro em Vila Isabel, projeto do Rio Cidade do escritório Archi 5 arquitetos associados, do qual fui sócio durante muitos anos. Muito além dos depoimentos, acho importante enfatizar a necessidade que as cidades brasileiras possuem de valorizar seus espaços públicos, como locais que deveriam privilegiar o caminhar dos seus pedestres. A celebração das calçadas promovida pela técnica das pedras portuguesas nos remetem ao caminhar urbano, como um cotidiano que deveria ser privilegiado pelas gestões municipais.

Veja a promo do filme abaixo

https://www.youtube.com/watch?v=YDk964pkJxI&feature=youtu.be

Guaratiba, em busca de maior participação

Na mesa de debates no IAB _RJ: Dr. Carlos Bacha do Polo
Gastronômico de Guaratiba, Dr. Pedro Paulo da Associação
de Moradores de Cinco Marias, o arquiteto Pedro da Luz
presidente do IAB-RJ,  o procurador Sandro Machado do
MP Estadual e a arquiteta Marisa Valente da SMU
Na última segunda feira dia 17 de fevereiro de 2014 foi realizado na sede do IAB-RJ debate sobre a imensa região de Guaratiba no extremo oeste da cidade metropolitana do Rio de Janeiro. Com a abertura do únel da Grota Funda e a implantação do Arco Metropolitano,  a região de Guaratiba torna-se um forte pólo de atração de investimentos, correndo o risco de ter uma ocupação predatória. A fragilidade ambiental da região, que se configura como uma planície alagável, onde o regime de diversos rios que descem do maciço da Pedra Branca, se encontram com as variações de marés da baía de Sepetiba, precisa ser levada em conta no planejamento do seu futuro. Os eventos observados na área, particularmente no Campus Fidei, que receberia o encontro da Jornada Mundial da Juventude com o papa Francisco, no mes de junho de 2013, e, que não puderam se realizar devido as chuvas, demonstraram toda a complexidade ambiental da região e sua fragilidade frente a ocupações apressadas e improvisadas.

O debate na verdade reafirmou o documento entregue pelo IAB-RJ ao prefeito do Rio de Janeiro em outubro de 2013, que cobrava do poder público um maior protagonismo na definição do futuro da área, uma cobrança por um planejamento sistêmico e uma gestão e controle cotidiano de Guaratiba. Além disto, o debate também enfatizou a necessidade de ampliação da participação da população local na definição do seu futuro. As questões envolvidas no tema de Guaratiba, transcendem em muito os interesses locais e apontam para a possibilidade de estabelecimento de uma nova forma de interação entre população e planejamento territorial.

Para mais detalhes, veja o link abaixo...

http://www.iabrj.org.br/debate-publico-reforca-importancia-da-elaboracao-de-plano-geral-para-guaratiba

Debate sobre viagem a Cuba em 1963 por estudantes brasileiros para congresso da UIA

O debate com o autor Cesar Dorfmann no IAB-RJ
No último dia 10 de fevereiro de 2014 foi realizado no IAB-RJ um debate informal com o autor Cesar Dorfmann de um livro de memórias sobre a visita feita a Cuba em 1963, por um grupo de estudantes brasileiros. O debate transcorreu de maneira informal, abordando lembranças sentimentais de diversos arquitetos, que participaram da viagem a Cuba em 1963 para participar do VII Congresso da União Internacional dos Arquitetos. Interessante notar que no mesmo ano foi realizado no Brasil o famoso Congresso do IAB, no Hotel Quitandinha em Petrópolis, que propos a reforma urbana e a unificação das caixas de pecúlio que então financiavam a habitação de interesse social no país. No ano de 1963 no Brasil havia um intenso debate sobre as reformas de base em nossa sociedade, que foram barradas pela instalação da ditadura militar em 1o de abril de 1964.

Uma das questões levantadas no debate no dia 10 de fevereiro no IAB-RJ foi exatamente sobre os debates mais candentes, que perpassavam as falas dos estudantes de arquitetura na ida a Cuba. O autor do livro Cesar Dorfmann afirmou que a discussão política dominava os debates, deixando de lado as questões relativas à arquitetura e ao urbanismo. Estranho, como seria possível abordar questões relativas a ocupação do espaço, ou da construção do ambiente humano, apenas enquanto técnica ou instrumental, sem menção à política? O nosso mundo contemporâneo parece me muito mais complexo, perpassado por uma impossibilidade de separação destas esferas.

Mas o mais importante do evento é que ele resgata uma tradição importante, que deveria ter um cunho mais sistemático; o resgate de vivências diferenciadas que nos faz refletir sobre as atuações profissionais mais variadas. O depoimento dos vários participantes da viagem formam um interessante conjunto sobre os impasses e possibilidades do ofício da arquitetura, e, deveria ser uma atividade mais recorrente entre nós...

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Istambul, uma cidade maravilhosa

Vista da cidade de Istambul da torre de Galata para o casco
mais antigo
A reunião da UIA (União Internacional dos Arquitetos) foi realizada nos dias 06 e 07 de fevereiro na cidade de Istambul na Turquia. Em função da candidatura do Rio de Janeiro, que pretende sediar o Congresso Internacional desta mesma união em 2020, estivemos Sérgio Magalhães, presidente do IAB, e eu, Pedro da Luz Moreira, presidente do IAB-RJ na cidade de Istambul para esta reunião. A cidade de Istambul na beira do estreito de Bósforo é uma das mais belas capitais da Europa. Para nós de filiação portuguesa, ela lembra um pouco o Porto em Portugal ou Salvador no Brasil, com seus contrastes entre cidade baixa e alta. Pontilhada de mesquitas e minaretes, sobre uma topografia com uma série de colinas, ela é uma das mais antigas cidades do mundo. Foi fundada como colônia grega em 657 A.C. Muito além deste passado monumental a cidade continua viva, com seus atuais quinze milhões de habitantes, e com um centro histórico cheio de atividades econômicas e muita vida; banhos turcos antigos, comércio variado, especiarias. Enfim, uma vitalidade contagiante.

A grande diversidade do Grand Bazar
No dia 05 de fevereiro estivemos numa loja de tapetes no Grand Bazar, cujo o dono falava um português fluente, e, nos disse que ele era a inspiração para a composição do personagem Mustafá na última novela da Globo, Salve Jorge. Segundo este mesmo personagem, a autora Glória Perez, era sua amiga e se utilizara de seus relatos de vida para compor o personagem Mustafá. Muito além desta folclórica história, o que impressiona no Grand Bazar, assim como no comércio do centro de Istambul é sua pulverização em uma grande variedade de agentes e lojas. Muito longe da tendência de padronização e domínio de grandes cadeias, como Zara, Starbucks, Mc Donald e outras, há um comércio local poderoso, que negocia mercadorias únicas, que só se encontram em Istambul, e que acabam por dar uma personalidade toda especial a esta cidade entre o Oriente e o Ocidente. Ao contrário de uma certa museificação, que dominou as cidades mais antigas do mundo, o centro da cidade de Istambul é um local vivo, que garante a sobrevivência de uma variedade de atores e agentes. O resultado é a presença de uma cidade com personalidade única, um lugar que só pode ser desfrutado ali - a Istambul contemporânea - que deveria ser o principal objetivo das agências governamentais de turismo do mundo. Ao contrário da homogeneização do comércio, o fomento de uma atividade comercial única e particular.

Por outro lado, há na cidade de Istambul na gênese da sua morfologia de espaços públicos (ruas e praças) outra importante lição para nós arquitetos. A espacialidade de suas ruas, vielas, becos e mesmo pequenas praças se assemelha em muito ao desenvolvimento de nossas favelas no Brasil. Ambas seguem a tradição da cidade árabe e também medieval, que possuem uma gênese na qual, a casa, o espaço particular ou privado, antecede ao espaço público, da rua, como primeira conformação. Muito além de uma simplificação celebratória, o que Istambul nos ensina é que o espaço da favela possui potencialidades e qualidades, que quando recebem as devidas atenções públicas, via urbanização e oferecimento de infraestrutura urbana adequada podem se tornar em espaços muito agradáveis e aprazíveis.