sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Livro sobre Mobilidade Urbana traz um artigo meu

Capa do livro da FGV
Foi lançado pela Fundação Getúlio Vargas e pelos organizadores Armando Castelar Pinheiro e Claudio Frischtak o livro Mobilidade Urbana: Desafios e Perspectivas para as cidade brasileiras, que traz um artigo meu. É uma grande oportunidade para as cidades brasileiras, que nesses tempos de crise precisam se repensar e se reestruturar para construir aglomerações urbanas que se pautem por uma maior equidade. A questão da mobilidade é fundamental para construção de um panorama mais inclusivo nas cidades brasileiras, sinalizando no cotidiano da sua população pelo abandono do paradigma do automóvel individual e adoção dos modais de alta capacidade, como trens e metrôs.

A mobilidade urbana, não só nos deslocamentos impositivos do dia a dia, como casa-trabalho e casa-escola assumem uma dimensão central na sociedade contemporânea, pois garantem ao conjunto da população acesso a oportunidades diversas e a interação social mais intensa, que também é geradora de novas oportunidades. Muitos dos textos defendem a idéia de se construir uma maior proximidade entre casa-trabalho de forma a demandar menos dos sistemas de mobilidade das cidades. Não concordo com essa visão, pois os vínculos entre trabalho e indivíduo nas sociedades contemporâneas tendem a ser menos estáveis. Além disso, o comportamento atual de intensificação das interações sociais demandam cada vez mais dos sitemas de transportes deslocamentos complexos, muito além dos pendulares. O monitoramento da eficiência do serviço de transportes deve ser constante indicando sempre melhorias para o conjunto da população, que tende a abraçar os projetos como importantes para melhoria de seu cotidiano.

No meu artigo abordo de forma mais aprofundada a questão da cidade metropolitana do Rio de Janeiro, que apesar de uma malha de trens urbanos de dimensões grandiosas vem apresentando uma performance muito fraca, servindo sua população de forma muito precária. Tal situação decorre de uma baixa importância dada as ações de planejamento e projeto, que são instrumentos fundamentais para a democratização das transformações propostas. A leitura vale a pena...

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Encontro com AIA dos EUA e IAB-RJ debate a participação dos usuários nos projetos

Wayne Feiden, Pedro da Luz Moreira, Erin Simmons e Joel
Mills no auditório do IAB-RJ
Nos dias 17 e 18 de agosto, na última segunda e terça feira foi realizado um encontro com a American Institut of Architecture (AIA) dos EUA, o Instituto Pereira Passos (IPP) da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro e o Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento do Rio de Janeiro (IAB-RJ), debatendo a participação de usuários nos planos e projetos de melhorias do seu ambiente construído. Na segunda feira, dia 17 de agosto foi realizado no auditório do IAB-RJ um encontro aberto debatendo o programa denominado AIA Communities by Design, que mobiliza arquitetos dos EUA interessados em trabalho voluntário para comunidades. E, na terça feira dia 18 de agosto foi realizado um encontro mais reservado com arquitetos brasileiros e americanos que possuem experiência no desenvolvimento de planos e projetos participativos. Nesse segundo dia o arquiteto Luiz Carlos Toledo apresentou sua rica experiência na favela da Rocinha no Rio de Janeiro, com projeto participativo.

O arquiteto Luiz Carlos Toledo apresenta sua experiência na favela da Rocinha no Rio de Janeiro
O destaque dos dois debates foi a constatação de que a sociedade civil nos EUA desfruta de uma autonomia para se pensar e para refletir sobre a forma da sua ocupação do território, contando com o instituto americano de arquitetura (AIA), que também é uma organização da sociedade civil. Ao contrário do Brasil e dos países de tradição Ibérica, os governos instituídos sejam; municipais, estaduais ou federal não são inicialmente envolvidos, percebe-se uma quase autonomia da esfera da sociedade civil. O plano e o projeto desenvolvidos pelos arquitetos de forma voluntária, com a chancela da AIA passam a ser instrumentos para captação de verbas, que podem ser aportados pelo governo ou pela iniciativa privada.

Outro aspecto prioritário destacado pelos americanos é a sustentabilidade das comunidades, que muitas vezes a partir de uma reordenação de seu espaço físico conseguem atingir um outro patamar de desenvolvimento econômico, garantindo para seus membros a prosperidade. As equipes da AIA são compostas de forma multidisciplinar, sendo coordenadas por arquitetos e possuem desenvolvedores econômicos, assistentes sociais, engenheiros de infraestrutura, etc... Os trabalhos apresentados tiveram naturezas diversificadas envolvendo cidades como Birminghan no Alabama, que foi assolada por um tornado, ou Sacramento na Califórnia, ou ainda Hampton na Virginia e recebem muitas vezes como demanda das diversas comunidades o combate a sua própria pobreza ou o declínio de alguns de seus bairros.

Abaixo o link da AIA.

http://www.aia.org/aiaucmp/groups/aia/documents/pdf/aiab099668.pdf


terça-feira, 18 de agosto de 2015

Entrevista no RJ TV da Globo destaca a questão da mobilidade

Nessa última segunda feira, dia 17 de agosto de 2015 fui convocado para uma entrevista a respeito do Planejamento do Rio de Janeiro para os próximos cinquenta anos, quando a cidade completará quinhentos anos de fundação, para o Jornal da TV Globo denominado RJ-TV. Na entrevista abordei uma série de temas, dentre os quais foi destacado a questão da mobilidade das pessoas na cidade metropolitana do Rio de Janeiro, que deveria ter indices muito claros e objetivos de medição permitindo que a população participe da construção da melhora de sua própria vida. Um dos temas centrais contemporaneamente nas cidades de todo o mundo é a participação, que acaba construindo a verdadeira cidadania.

Dentre os assuntos que não foram ao ar destaco; a questão do planejamento a longo prazo, que precisa apresentar mecanismos de monitoramento de curto prazo para que a sociedade acompanhe os objetivos maiores. Mencionei também a questão da identificação de prioridades, que envolvem uma hierarquia dos objetivos traçados, que no meu entender deveriam envolver a mobilidade, o meio ambiente e o saneamento básico, como pontos mais importantes. E, por último abordei a questão de que a cidade do Rio de Janeiro precisa assumir o protagonismo de ser o centro mais importante no conjunto de municípios que compõe a cidade metropolitana do Rio de Janeiro, que se desenvolveu historicamente no entorno da Baía de Guanabara.

A iniciativa da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro é louvável, mas precisa ser acompanhada de estratégias que impulsionem a participação de todos na transformação das condições de sua própria vida. O planejamento nos últimos anos tendeu a ter um discurso abstrato e pouco afeito a compreensão do conjunto da sociedade, construir um plano legível e compreensível é possível, se esse se referenciar fortemente a base física da cidade concreta, e possuir índices de monitoramento baseados no cotidiano diário de sua população, como tempo de deslocamento, níveis de violência, ou de saneamento e de despoluição, dentre outros.

O link da entrevista pode ser visto abaixo.

http://globotv.globo.com/rede-globo/rjtv-2a-edicao/t/edicoes/v/prefeitura-lanca-projeto-rio-visao-500-para-planejamento-da-cidade/4400553/

domingo, 16 de agosto de 2015

O livro A Ética protestante e o "Espírito" do Capitalismo de Max Weber, Táxis e Uber

O livro A Ética protestante e o "espírito" do capitalismo de Max Weber olhava para mim impassível na prateleira de minha estante desde 2004, na sua versão traduzida por José Mariani de Macedo da editora Companhia das Letras do mesmo ano. Nesses nossos tempos de UBER contra táxis resolvi encará-lo, procurando algo capaz de esclarecer a imensa força daquilo que já foi conceituado como destruição criativa, tão presente no espírito do capitalismo e na peleja em questão.

Interessante assinalar que Weber escreveu uma primeira versão desse texto, publicando-o na revista Archiv für Sozialwissenchaft em dois momentos, uma primeira parte em 1904 e uma segunda parte em 1905, nas quais já contava a palavra espírito entre aspas, e, que na sua revisão de 1920 será suprimida. Também é importante assinalar que entre a primeira parte publicada em 1904 e a segunda em 1905, Weber visitou os EUA, conforme consta de um depoimento de sua viúva Marianne Weber;
"A primeira parte foi concluída antes da viagem à América, no início do verão de 1904; a segunda parte apareceu um ano depois e revela a influência dessas suas experiências recentes. Uma das tantas razões, com certeza não a menor, para que essas experiências tenham instigado Weber tanto assim foi que nos Estados Unidos ele pôde observar por todo canto os rastros vivos das origens do espírito do capitalismo moderno, e esse espírito mesmo na pureza de um ´tipo ideal."
A tradição do pensamento social alemão desde Marx parece reforçada pela comparação com o estrangeiro, a América do Norte, potência emergente no começo do século XX, que serve na construção do raciocínio como espelho da diferença, que mostra ao pensador alemão suas amarras e condicionamentos. No livro são constantes as citações de Weber a Benjamim Franklin, um dos father foudings dos EUA, uma das mais longas é usada para definir o "espírito" do capitalismo, que como um sermão define os pontos relevantes de uma prática cotidiana pretensamente exemplar.

Primeiro, "lembra-te que tempo é dinheiro", com a qual Benjamim Franklin condena o tempo livre quando se abre a possibilidade para vagabundear. Logo depois ele menciona "lembra-te que crédito é dinheiro", com isso defende a ideia de quem tem bom crédito pode fazer bom uso dele. Em terceiro determina, "lembra-te que o dinheiro é procriador por natureza e fértil." defendendo a ideia de que dinheiro bem investido produz mais dinheiro de forma independente. Em quarto menciona, " lembra-te que um bom pagador é senhor da bolsa alheia", no qual defende a idéia de rígido cumprimento do pagamento dos empréstimos, para garantir a continuidade do crédito. E, em quinto e último afirma, "guarda te de pensar que tudo o que possuis é propriedade tua e de viver como se fosse", no qual defende a ideia de uma justa contabilidade de receitas e despesas, para que se tenha consciência dos pequenos gastos cotidianos que se avolumam em grandes somas. Fechando toda essa pregação Weber conclui;
"'Do gado se faz sebo; das pessoas dinheiro', então salta à vista como traço próprio dessa 'filosofia da avareza' o ideal do homem honrado digno de crédito e, sobretudo, a ideia do dever que tem o indivíduo de se interessar pelo aumento de suas posses como um fim em si mesmo."
Outro aspecto importante do livro é a distinção feita dentro da ética protestante, entre o luteranismo dominante na Alemanha e o calvinismo presente na França, Holanda, Inglaterra e Nova Inglaterra (EUA). Na mesma direção de um pensamento social, que busca o outro para pensar sobre si mesmo, o alemão Weber identifica na doutrina calvinista o verdadeiro impulso do espírito capitalista, que continuamente promove o auto enrriquecimento. Mais uma vez, há aqui a presença de um posicionamento recorrente na sociologia alemã, que se envolve com uma baixa estima própria, ou complexo de vira-latas, na definição de Nelson Rodrigues. Penso no livro A ideologia Alemã de Marx, onde o grande pensador social alemão do século XIX se propõe a explicar o paradoxo entre o grande desenvolvimento da filosofia germânica, e seu atraso na construção do seu governo próprio. Afinal, o atraso alemão na constituição de seu estado nacional e na construção de uma democracia era um fato frente a França e a Inglaterra, que já haviam promovidos suas revoluções.

Mas o que parece ficar de uma reflexão complexa de Weber, que envolve estudos aprofundados sobre as diversas correntes do protestantismo, como o calvinismo, o prebisterianismo, o pietismo, e outras é que a ética da produção do auto-enriquecimento é um forte impulso do capital e das religiões da reforma, e que, quase sempre envolve uma tendência monopolista. Onde apenas poucos realizam essa tendência, e muitas vezes suprimindo com a concorrência, seja ela qual for.

sábado, 1 de agosto de 2015

Os temas de debate para o Congresso da UIA 2020



O Conselho Superior (COSU) do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) está se reunindo em São Paulo, nos dias de 28,29 e 30 de julho de 2015, quando foram definidos os temas anuais a serem debatidos no âmbito da preparação do Congresso da União Internacional de Arquitetos (UIA) de 2020, que se realizará no Rio de Janeiro. Esse congresso internacional é visto pela rede do IAB como uma oportunidade para que as ações de plano e de projeto estejam consolidadas como práticas corriqueiras da sociedade brasileira. 

Além disso, acredita-se que a construção desse Congresso Internacional de 2020, que acontecerá ao longo desses cinco anos é tão importante quanto o evento em si. Os temas selecionados para os debates anuais são;



Arquitetura e Cultura: que trata do reconhecimento do valor cultural da arquitetura, e que envolve a questão da existência e da produção futura do patrimônio construído do país, como elemento singular e característico. A especificidade desse patrimônio construído e a construir envolve uma imensa diversidade de situações, que reproduzem a riqueza do país e a adequação dos espaços construído pelo homem nas várias regiões do país.

Arquitetura Popular: que aborda a auto construção e a produção da habitação pelo próprio usuário, e que é uma realidade nas cidades brasileiras e de muitos países. O tema problematiza uma realidade existente e pretende qualificar essas áreas da cidade, implantando as infraestruturas urbanas que conformam a urbanidade.

Cidade e Ambiente: que abarca a questão de que as cidades já abrigam mais de 50% da população mundial, elas ocupam menos de 2% do território do planeta Terra, no entanto concentram grande parte do impacto ambiental, que provém principalmente da geração de esgotos e efluentes nos mananciais e da emissão de CO2 na atmosfera. Portanto, pensar e problematizar as várias formas de ocupar o território, sua arquitetura e urbanismo, é fundamental para mitigar esses efeitos.

Urbanismo e o Desenho da Cidade: que se reporta as características físicas e espaciais das cidades, bem como sua capacidade de sustentar economicamente sua população. A capacidade do espaço físico das cidades de potencializar, otimizar e incrementar as diversas atividades econômicas que garantem a sustentabilidade de sua população. Os impactos das ações de planejamento e projeto sobre o espaço físico concreto das cidades.

Metrópoles e cidades médias: que pensa a coesão e governança das cidades metropolitanas, e a importância das cidades médias na estruturação do desenvolvimento dos países. As cidades passaram a ser pontos chaves para a promoção do desenvolvimento e atração de empreendimentos diversos e sustentação de modos diferenciados de vida.


Todos os temas pretendem debater a ocupação do território do planeta Terra pelo homem dentro do que foi proposto como conceito chave do Congresso da UIA Rio de Janeiro 2020; “Todos os Mundos. Um só mundo. Arquitetura 21.”