sábado, 12 de março de 2016

Seminário Desenho[...] Cidade - Moderna no IAB-RJ

Na mesa de debates; Diogo Pereira, Lucas Andrade, Francesco
Maggiore, Miguel Baptista-Bastos, Luisa Sol e Pedro da Luz


Nos dias 07,08 e 09 de março de 2016 foi realizado no auditório do IAB-RJ o III Seminário Internacional Arquiteturas Imaginadas sobre o tema Desenho [...] Cidade - Moderna, um debate que reuniu arquitetos brasileiros, portugueses, espanhóis e italianos. A ideia do seminário reuniu abordagens sobre um tema central para o ofício da arquitetura e do urbanismo, sobre as investigações escritas ou acadêmicas, as imagens e o ato de projetar. A organização do Seminário foi capitaneada pelos arquitetos, português Pedro Janeiro, e a brasileira, Cessa Guimarães, que possuem reflexões importantes sobre a arquitetura moderna, e sua capacidade de doutrinação dos mundos da vida.

No dia 08 de março participei da mesa de abertura, que foi mediada pelo arquiteto Miguel Baptista-Bastos, contando com as palestras - Imagens Fotográficas e Desejos de Cidades Modernas: Rodoviárias no Arquigrafia - dos arquitetos Diogo Pereira e Lucas Andrade de São Paulo - Territórios do Cinema: Quartos, Lugares, Paisagens - pesquisa do arquiteto Francesco Maggiore da Itália, e - Cidade Moderna, Cidade Pós-Moderna e Espaço-Representado em 'Anarchitekton' de Jordi Colomer - da arquiteta portuguesa Luisa Sol.

A minha palestra abordou o tema do Desenho e Projeto Moderno, que procurou problematizar os tres conceitos do título, mais a ideia de cidade, dentro de nossa contemporaneidade, que já não pode mais ser considerada essencialmente moderna, ou com a mesma carga dada aos termos no início do séculoXX. Já na abertura, enfatiazei o paradoxo do termo moderno a partir de dois versos de um poeta americano denominado Charles Olson que na década de sessenta declamava;

"What does not change,/is the will to change."
"O que não muda,/é a vontade de mudar." Charles Olson ANDERSON 1999 página15

Esse presente contínuo e interminável do moderno perpassa experiências humanas desde o século XI no ocidente, que se auto-definiram como tal, em contraposição a atitudes arcaicas ou ancestrais, calcadas na tradição, ou numa inércia do fazer. O termo moderno carrega portanto um problema, pois só pode ser qualificado de forma referenciada à tradição, ao passado e à ortodoxia, na medida que o moderno se institucionaliza ele perde sua potência, se cristalizando no acadêmico ou ortodoxo, que são suas antíteses.

A erosão contínua dos princípios do modernismo, no nosso mundo contemporâneo se iniciam com as explosões das bombas atômicas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em 1945, que determinaram uma profunda desconfiança frente a técnica, o industrialismo e a padronização crescente. Implanta-se o discurso da alteridade, onde as lutas materialistas (salário, seguridade), dão lugar às reinvindicações simbólicas (relações interpessoais, experiências da subjetividade). Emerge também um forte discurso anti-ocidente, ou anti-europeu, que recupera práticas e ritos alternativos, conforme o historiador Toymbee já havia assinalado em 1934; 


“As comunidades ocidentais tornaram-se modernas tão logo conseguiram produzir uma burguesia numerosa e competente o bastante para se tornar o elemento predominante na sociedade… o contemporâneo já não apresentaria essa predominância, mas uma inteligência fora do ocidente e muitas vezes contra ele. ” TOYMBEE 1934 Study of History

No cenário brasileiro, Brasília assinala a conquista pelo modernismo como forma de expressão oficial do Estado, com uma iconografia assentada nos traçados de Lucio Costa e Oscar Niemyer, que acabou se infiltrando no imaginário coletivo da nação. O paradigma do bem viver passa a ser dominado por um rodoviarismo, articulado com a baixa densidade da unidade unifamiliar, isolada num lote em subúrbios cada vez mais afastados. A cidade européia densa, que representara fortemente a burguesia na longa transição do feudalismo para o capitalismo, como o lugar do livre comércio, agora era descartada, substituída pela aproximação idílica com o campo.

Em 1979 Margareth Thatcher é eleita primeira ministra da Inglaterra, um ano depois Ronald Reagan assume a presidência dos EUA determinando o declínio do estado de bem estar social e a ascensão do neo-liberalismo. Desenvolve-se então um forte declínio do setor industrial e a ascensão do setor de serviços na demanda de empregos, apontando nos anos noventa uma forte hegemonia do capital financeiro frente ao capital industrial. O mundo passa a ser governado por uma lógica financista, muitas vezes afastada do setor produtivo, sofrendo variações especulativas com forte impacto em diversas economias 

Também em meados dos anos 1990, o filósofo Habermas decreta num texto, no qual ironiza a tendência contemporânea de se utilizar continuamente do prefixo pós, para caracterização do nosso tempo, a incompletude do projeto moderno. O texto de Habermas faz uma distinção importante entre a modernidade, e o modernismo, dizendo que a pretensão humana de desígnio do seu futuro, que era uma pretensão da modernidade, e que as revoluções americana e francesa tinham expressado permanecia inalcançado.O projeto, portanto da modernidade de construção do livre arbítrio humano, da auto-determinação de nosso vir a ser estava incompleto e permanecia uma aspiração alcançável.

Habermas, também constroe sua teoria da racionalidade comunicativa, que se contrapõe a racionalidade meramente instrumental, determinando que a razão não deve estar carregada de personalismos, mas construída a partir de consensos, acordos e eleição de linhas de prioridade construídas coletivamente. Há um claro resgate da razão, que superando sua subjetividade, alcança uma dimensão do diálogo, das diferenças e das possibilidades criadas a partir da explicitação dos conflitos.

Enfim, o que pretendi demonstrar são as infinitas possibilidades para o projeto da sociedade contemporânea, a partir da ampliação democrática. Abaixo a entrevista de Pedro Janeiro, um dos organizadores do Seminário Desenho [...] Cidade Moderna ao jornal O Globo