terça-feira, 25 de dezembro de 2018

O espaço da Europa em 1848, e o nosso tempo contemporâneo

Mapa da região da atual Alemanha em 1848, ano de publicação do
Manifesto Comunista
Karl Marx nasceu em 1818 na Prussia, e morreu em 1883 em Londres, é portanto um típico homem do século XIX, com alguns traços burgueses e conservadores, característicos do seu tempo notadamente em suas relações familiares e pessoais. Uma das mais belas sínteses sobre essa faceta da vida do filósofo alemão é o livro da sua biógrafa inglesa, Mary Gabriel, Amor e Capital, a saga da família de Karl Marx e a história de uma revolução, que nos revela sua vida afetiva. Um dos aspectos mais destacados por Mary Gabriel é o amor e a dedicação da nobre prussiana Jenny von Westphalen, que foi sua mulher durante toda sua vida. Mas, uma das questões apresentadas logo no começo do livro, que exatamente assinalam essa condição de um homem do século XIX é o mapa da ainda inexistente Alemanha em 1848, mesmo ano da publicação do Manifesto Comunista. A pequena cidade de Treveris aonde Marx nasceu em maio de 1818 ao norte de Berlim, mau está assinalada no mapa. A Prússia que domina a costa do Mar do Norte ainda se estende em sua parte oriental, com o nome de Prússia Polonesa. O Império Austríaco, com sua capital na cidade de Viena ainda domina uma ampla região no sul, mantendo fronteira com o Império Otomano, chegando ao que foi a Hungria. Esse mesmo Império também denominado de Austro Húngaro, alcançava o Mar Adriático, dominando a região da Lombardia-Venecia, que envolve a atual região do Veneto da Itália, e que abriga uma das cidades mais marcadamente italianas do nosso tempo, a charmosa Veneza. A Alemanha atual ainda está partida em uma série de reinos e feudos, como; a Silésia, a Baviera, a Saxônia, a Westphalia, e outros, sendo denominada como Confederação Germânica. No mesmo ano de 1848, a Itália também está partida em uma série de pequenos reinos, iniciando o processo do que se denominou, o risorgimento, que foi sua unificação.

O segundo mapa apresentado por Mary Gabriel é o da Europa também em 1848, com uma nota esclarecedora de que grande parte das fronteiras da Europa haviam sido definidas pelo Congresso de Viena de 1815, que após a queda de Napoleão haviam consolidado fronteiras a oeste da França de monarquias, apesar dos clamores pelas liberdades democráticas. Vários historiadores destacam o papel de Napoleão na disseminação dos ideais da Revolução Francesa, através das Guerras Napoleônicas no continente europeu.  Nessa mesma nota, também assinala-se, que no ano de 1848 ocorerram uma série de rebeliões, que reforçavam as demandas por liberdades democráticas, e que foi a única revolta continental da história europeia, segundo a biógrafa inglesa. Tal fato, explica a veemência da frase inicial do Manifesto Comunista, que se inicia com o anuncio de que; "Um espectro ronda a Europa, o espectro do comunismo."

Mais uma questão também se destaca no mesmo livro, as condições de salubridade da Londres da Rainha Vitória, aonde a família do velho Marx viveu, que não era das melhores e que acabou determinando a morte de dois de seus filhos, devido a epidemias como cólera, típicas das condições sanitárias e das péssimas formas de sustentação. O mapa de Londres ao lado, assinala o ano da morte de Marx 1883, mas em 1851 quando chegou a cidade o filósofo alemão estava com 33 anos e a cidade mantinha as mesmas condições. Marx e sua mulher, Jenny von Westphalen e cinco filhos ocuparam um sótão na Dean Street no terceiro andar sem instalações sanitárias refugiados primeiro da França e depois da Bélgica. Apesar disso, a cidade se destacava no cenário europeu como destino preferencial de irlandeses, alemães, franceses, húngaros, italianos refugiados de seus países por conta das rebeliões contra as monarquias de seus países.

"Eram refugiados políticos após tentativas fracassadas de derrubar a monarquia e lutavam pelas liberdades mais fundamentais. Agora, castigados pela chuva e pelo frio cortante, até a ideia de lutar pelos próprios direitos parecia absurda. O farol que Londres parecia ser se provara uma miragem; a cidade lhes abrira as portas, mas não lhes dera nada. Morriam de fome. Dia e noite uma cacofonia de vozes aflitas se esgoelava para se fazer ouvir em meio ao rumor da capital. Para sobreviver, os recém-chegados vendiam tudo o que podiam – cortes de tecido, botões, cadarços. O mais frequente, contudo, era venderem-se a si mesmos, por hora ou por dia, no trabalho ou na prostituição. " GABRIEL 2013 página21

Apesar dessa grande força de atração das diferentes nacionalidades, as condições sanitárias de Londres e de Manchester eram absolutamente degradantes, envolvendo densidades inimagináveis e condições habitacionais insuportáveis, nunca antes vistas. As cidades na Inglaterra, e logo depois na Europa explodem com um número de população nunca visto, Manchester em 1760 tinha 12mil habitantes, em 1850 atinge 400mil. Engels descreveu as terríveis condições desse crescimento explosivo das cidades industriais inglesas dessa época, reconhecendo a perda de uma certa unidade comunitária, para uma diversidade de grupos culturais e de raças. As condições da infância eram aviltantes, não havendo qualquer proteção contra o trabalho infantil nas fábricas, nas ruas, muitas vezes oferecendo seus próprios corpos para exploração sexual.

"Em Manchester, os ricos se empenharam para não ver os pobres - a cidade era disposta de modo que as classes ricas pudessem viver sem de fato jamais encontrar nenhuma pobreza. Em Londres tais esforços nunca tinham sido feitos. Ricos e pobres parilhavam as mesmas ruas, mas era como se fossem duas espécies diferentes, tão socialmente afastados, que era como se não existissem a não ser como objetos da exploração.. Em Manchester, os bairros operários se espraiavam como ervas daninhas ao longo do rio, mas em Londres os cortiços eram verticais, e os pobres lotavam edifícios de quatro andares do porão ao sótão. Cada centímetro, inclusive as escadas era ocupado. Algumas pessoas alugavam apenas um lugar na cama, nem mesmo uma cama inteira... A industria do sexo que reunia os pobres em Soho Square, St. Giles e no Strand era lendária. Crianças imitando adultos proferiam suas ofertas repulsivas para qualquer passante que pudesse lhes dar um centavo" GABRIEL2013 página127 e 128

Por tudo isso, percebe-se a condição de homens do século XIX tanto de Marx, como de Engels, apesar disso, a construção feita por eles do sistema capitalista, ainda mostra algumas permanências na sua forma de operar. Sem dúvida, o mundo capitalista e sua própria espacialidade mudaram de forma brutal do século XIX para o XXI, as formas de atuação e operação mudaram havendo uma clara aceleração dos processos, no entanto a lógica de procurar na forma monetária a segurança da realização do lucro permanece intocada. E, esse fato acarreta uma série de permanências que não parecem mudar. Uma certa aproximação inevitável, e inexorável com as crises. Aquilo que SCHUMPETER 2017 denominou como destruição criativa do capitalismo, uma forma constante de revolucionar as formas de atuação. Marx no século XIX já apontava essa marca do sistema capitalista de funcionamento, que tendia a procurar a forma monetária, tendendo inexorávelmente a especulação e ao rentismo para de certa forma se livrar da forma mercadoria. Essa capacidade de descrever criticamente o sistema capitalista é talvez o principal legado de Marx e Engels, que identificaram nas crises cíclicas da economia um modo atávico de realizar o lucro para poucos, e sempre concentrar renda. O historiador francês Fernand Braudel, na sua imensa obra fazia uma distinção, que me parece importante entre mudanças superficiais, que ocorrem na superfície do mar fustigado por ventos e ondas, enquanto as grandes profundidades se mostram imutáveis, e funcionando do mesmo jeito. Na sua analogia Braudel, se referia a longa transformação, sofrida entre o feudalismo e o capitalismo, fixando um certo padrão de repetição no capitalismo, no qual a última metamorfose era sempre a fase de predominância financeira, da realização do lucro, ou sua monetarização.

"O ponto de partida de nossa investigação foi a afirmação de Fernand Braudel, de que as características essenciais do capitalismo histórico em sua longue durée - isto é, durante toda suas existência - foram a flexibilidade e o ecletismo do capital, e não as formas concretas assumidas por ele em diferentes lugares e épocas: 'Permitam-me enfatizar aquilo que me parece ser um aspecto essencial da história geral do capitalismo: sua flexibilidade ilimitada, sua capacidade de mudança e de adaptação. Se há, segundo creio, uma certa unidade no capitalismo, da Itália do século XIII até o ocidente dos dias atuais, é aí, acima de tudo, que essa unidade deve ser situada e observada.'" BRAUDEL 1982 pagina 433, citado por ARRIGHI 1996 página4

Os ciclos repetidos do capitalismo são sem dúvida uma constante na sua história desde o século XIII europeu, conforme demonstrado por ARRIGHI 1996, aonde a sucessão de hegemonias dominadoras assinalam o processo apontado por Braudel. Uma fase de intensa produção, aonde a mercadoria parece ser a própria representação da riqueza, seguida por uma fase aonde a moeda passa a ser centralidade da prosperidade. ARRIGHI 1996, também assinala, que no século XIX o capital parecia ter encontrado uma nova casa, algo inusitado até então, que eram as unidades fabris de produção da revolução industrial, que pareciam ter ancorado o capital na produção. Mas logo, a repetição das crises em 1870 e 1929 mostraram que o padrão de busca pelo padrão rentista e especulativo se repetia da mesma forma. Desde os banqueiros genoveses do século XV, que descobriram que era mais seguro emprestar dinheiro aos reis da península ibérica, aos investidores de Wall Street em Nova York em 1929 ou em 20018, vale mais apostar do que produzir. As crises das duas grandes guerras na Europa determinaram para ARRIGHI 1996 a emergência de um novo modo de regulação, notadamente depois do segundo pós guerra, orientados pelo fordismo e pelo keynesianismo. Ainda, segundo o autor italiano, único momento em que o sistema distribuiu renda, mesmo assim apenas nas economias centrais, a partir da super exploração das economias emergentes e periféricas, que mantiveram as condições da acumulação primitiva, também apontada por Marx. No entanto, o modelo de regulação, pelo fordismo e keynesianismo começa a demonstrar esgotamento, com a crise do petróleo dos anos setenta, determinando nova desregulação representada pela ascensão de Thatcher (1979) e Reagan (1981). O mundo dos anos oitenta e noventa reencontra o liberalismo, a partir de sua nova face, o neoliberalismo, que primeiro no mundo anglo-saxão, e depois da Queda do Muro de Berlim, no resto do mundo ditam a celebração da concorrência, e a recusa a qualquer tipo de solidariedade. Diferentemente do liberalismo do final do século XIX e início do XX, o neo-liberalismo elege como fundamental a conquista e domínio do Estado, como aparato regulador da economia, e portanto, criador das regras de sua própria autoajuda.

"Superpondo-se parcialmente a essa biografia, numerosos estudos seguiram os passos da "escola de regulação" francesa, interpretando as atuais mudanças no modo de funcionamento do capitalismo como uma crise estrutural do que eles denominam de "regime de acumulação" fordista-keynesiano. Esse regime é considerado uma fase particular do desenvolvimento capitalista, caracterizada por investimentos em capital fixo que criam uma capacidade potencial para aumentos regulares da produtividade e do consumo em massa. Para que esse potencial se realize, são necessárias uma política e ação governamental adequadas, bem como instituições sociais, normas e hábitos comportamentais apropriados (o"modo de regulação"). O keynesianismo é descrito como o modo de regulação que permitiu que o regime fordista emergente realizasse todo o seu potencial. E este, por sua vez, é concebido como a causa da crise da década de 1970." ARRIGHI 1996 página2

Mais uma vez retornamos a Marx, e constatamos o poder convincente de sua argumentação no distante século XIX, que já naquele tempo entendia os Estados Nacionais como uma construção de ordenação do mercado, e portanto profundamente vinculado aos interesses da burguesia. A falsa dicotomia construída pela mídia conservadora entre estatismo e mercado demonstram como a esquerda foi se limitando em um raciocínio cada vez mais defensivo de posições a manter, do que a conquistar. Em Marx, Engels e até meados do século XX, o pensamento de esquerda mais estruturado afastava-se da defesa incondicional do Estado como representação do interesse público geral, e enfatizava seu caráter classista, e seus interesses inexoravelmente vinculados à burguesia. E mais, Estado e mercado eram estruturas que se constituíram mutuamente, viabilizando-se a partir de regulações que estruturavam a possibilidade de existência de ambos. A força de convencimento do argumento neo-liberal, que repete menos Estado e mais mercado é exatamente pelo recalque da interdependência. O mercado imaginado pelos economistas clássicos liberais era uma verdadeira utopia, inexistente em nenhum lugar ou qualquer época da história humana, pois era um espaço onde os agentes econômicos estavam horizontalmente nivelados, sem a dominação hierárquica dos monopólios, que são outra tendência inevitável do Capital. Afinal, qual a capacidade de resistência de uma cerveja artezanal no cenário econômico do Brasil, diante do monopólio do mercado exercido pela AMBEV? O argumento neo-liberal, repetido ad-infitum, "de que não existe almoço de graça" deveria ser substituído por; porque deram tanto almoço grátis aos monopólios e aos grande grupos econômicos, que acabam sendo defendidos pelos Estados por serem muito grandes para quebrar? Termino por aqui, citando o grande historiador Eric Hobsbawn, que em um de seus últimos livros colocou de forma apropriada nosso problema contemporâneo, que contrapôs o socialismo de Estado, aos fundamentalistas do mercado;

"Paradoxalmente, ambos os lados tem interesse em voltar a um importante pensador cuja a essência é a crítica do capitalismo e dos economistas que não perceberam aonde levaria a globalização capitalista, como ele previa em 1848. Mais uma vez é óbvio que as operações do sistema econômico devem ser analisadas tanto historicamente, como uma fase da história, e não como seu fim, quanto de forma realista, isto é, em termos não de um equilíbrio de mercado ideal, e sim de um mecanismo integrado que gera crises periódicas capazes de transformar o sistema. A crise atual pode ser uma dessas. Mais uma vez, fica patente que, mesmo no intervalo entre grandes crises, "o mercado" não tem nenhuma resposta para o principal problema com que se defronta o século XXI; o fato de que o crescimento econômico ilimitado e cada vez mais tecnológico, em busca de lucros insustentáveis, produz riqueza global, mas às custas de um fator de produção cada vez mais dispensável, o trabalho humano, e, talvez convenha acrescentar, dos recursos naturais do planeta. O liberalismo econômico e o liberalismo político, sozinhos ou combinados, não conseguem oferecer uma solução para os problemas do século XXI. Mais uma vez chegou a hora de levar Marx a sério. " HOBSBAWM 2001 página375


BIBLIOGRAFIA:

ARRIGHI, Giovanni - O longo século XX, dinheiro, poder e as origens do nosso tempo - editora Unesp São Paulo 1996
BRAUDEL, Fernand - The Wheels of Commerce - Harper & Row, Nova York 1982
GABRIEL, Mary - Amor e Capital, a saga da família de Karl Marx e a história de uma revolução - editora Zahar Rio de Janeiro 2013
HOBSBAWM, Eric - Como Mudar o Mundo, Marx e o marxismo de 1840-2011 - Editora Companhia das Letras São Paulo 2011
SCHUMPETER, Joseph A - Capitalismo, socialismo e democracia - Editora UNESP São Paulo 2017

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

A premiação Arquiteto do Amanhã de 2018

A premiação Arquiteto do Amanhã 2018
A premiação denominada Arquiteto do Amanhã do IAB-RJ completou nesse ano de 2018 sua trigésima quinta versão, premiando arquitetos a partir do quinto período nas Escolas de Arquitetura do Rio de Janeiro. Sem dúvida nenhuma é um feito que deve ser comemorado, tanto por sua recorrência, como por sua qualidade. Nesse ano tivemos 38 projetos do estado do Rio de Janeiro e de outros estados como São Paulo e Espírito Santo. O júri foi constituído pelos arquitetos Noêmia Barradas, Claudio Crispim e César Jordão, que selecionaram cinco projetos para concorrerem ao Prêmio do CAU-RJ, Arquiteto Grandjean de Montigny, que oferece ao primeiro colocado uma viagem a uma capital sul americana. De uma maneira geral, os trabalhos tiveram um nível bastante alto, havendo um claro incremento de projetos de escala regional, talvez pela retomada no Rio de Janeiro do plano de escala metropolitana, que o Estado promoveu nos dois últimos anos, após a extinção da FUNDREM em 1989.

As escolas de arquitetura são um importante ponto de debates sobre a inserção e a utilização pela sociedade brasileira da prática de plano e projeto. E, portanto são elementos chaves num debate, que entende o maior desenvolvimento social justamente na adoção e intensificação de práticas prospectivas, isto é, a capacidade de programação de nosso vir-a-ser ou futuro. O ambiente acadêmico, pelo seu distanciamento crítico com relação a operação efetiva do ofício, oferece a possibilidade de se arriscar por proposições de contra-plano ou contra-projeto mais contundentes com relação a forma inercial de reprodução da cidade brasileira, da ocupação do espaço do país, ou da habitação. Essa condição traz para as amostras estudantis de uma maneira geral, uma maior capacidade crítica, um frescor de questionamento frente a prática profissional operante, que só lhe faz bem.

O júri do Prêmio IAB-RJ Arquiteto do Amanhã escolheu os seguintes trabalhos mostrados abaixo, sendo os identificados como prêmio, os que foram encaminhados para o júri do CAU-RJ, que foi composto pelos arquitetos; Luiz Carlos Toledo, Celso Girafa e Tainá de Paula. Os projetos, que estão com imagens adjacentes foram os selecionados pelo júri do CAU-RJ, como Grande Prêmio Grandjean de Montigny.


CATEGORIA ARQUITETURA DE EDIFICAÇÕES



MENÇÕES HONROSAS



Trabalho 105-A

ESPORTE DE ALTO RENDIMENTO: REQUALIFICAÇÃO DOS CIEPs A PARTIR DA LÓGICA DOS GEOS

Autora: Isabella Lopes Farias

Orientador: Luciano Alvares

Universidade: PUC



Trabalho 106-A

A Entre Objeto e Cidade: Autonomia e Resistência no Campo da Arquitetura

Autora: Júlia de Carvalho Carreiro

Orientadores: Diego Aníbal Portas e Guilherme Carlos Lassance

Faculdade: FAU/UFRJ



PRÊMIO:



Trabalho 103-A

OVO - Gastronomia com Origem - Uma Escola de Ecogastronomia em Botafogo - RJ


Autor: Thais Lendrick Souto Alves

Orientadores: Anna Rachel Baracho e Eduardo Julianelli

Faculdade: UFF

1o PRÊMIO ARQUITETO GRANDJEAN MONTIGNY DO CAU-RJ




CATEGORIA ARQUITETURA DE EQUIPAMENTOS CULTURAIS



MENÇÃO HONROSA



Trabalho 202-A

Centro Musical Urbano – Revitalização e Expansão da Casa de Shows Áudio Rebel

Autor: João Brum Rodrigues

Orientadores: João Calafate e Suzane Queiroz

Faculdade: PUC-Rio



CATEGORIA TECNOLOGIA E INOVAÇÃO NA ARQUITETURA



MENÇÃO HONROSA



Trabalho 404-A

Soluções em madeiras laminadas coladas: arquitetura projetada por catálogo

Autora: Taissa Fontenelle Sily de Assis

Orientador: Denise Solot

Faculdade: PUC-Rio



PRÊMIO



Trabalho 403-A

TENDAS ILÊ



Autora: Maria Clara Barsotti

Orientadores: Vera Hazan e Fernando Betim

Universidade: PUC



3o PRÊMIO GRANDJEAN DE MONTIGNY DO CAU-RJ

 


CATEGORIA URBANISMO E PAISAGISMO



MENÇÕES HONROSAS



Trabalho 502-A

Projeto Urbano na Central do Brasil

Autor: André Ricardo Paiva dos Santos

Orientador: Fabiana Izaga

Faculdade: FAU/UFRJ



Trabalho 504-A

RETERRITORIALIZAÇÃO PÓS-GUERRA. O LUGAR DE RETORNO A PARTIR DO CONCEITO DE URBANIDADE.

Autora: Natalie Przechacki

Orientadores: Leila Beatriz Silveira e Vera Hazan

Universidade: PUC



Trabalho 505-A

A Infraestrutura, Monumento e Paisagem

Autor: Igor Machado

Orientador: Guilherme Lassance

Faculdade: FAU/UFRJ



PRÊMIO



Trabalho 506-A

Experiência no Sertão: Paisagem e Vivências às Margens do São Francisco

Autor: Natalia Ávila Brandão Ferreira

Orientadores: Duarte Vaz e Vera Hazan

Faculdade: PUC-Rio



CATEGORIA IMPACTO METROPOLITANO:



MENÇÕES HONROSAS



Trabalho 703-A

Porto de Itaguaí: Logística, Indústria e Infraestrutura Verde

Autor: Lucas Di Gioia

Orientador: Marcos Osmar Favero

Faculdade: PUC-Rio



Trabalho 704-A

A Infraestrutura e reterritorialização: a reivindicação da Orla do Guaíba no 4º Distrito

Autor: Philip Daniel Shoes

Orientador: Luciano Alvares

Faculdade: PUC-Rio





Trabalho 708-A

A Interfaces Fluídas, Especulações sobre Logística e Cidade

Autor: Julia Novaes Tabet

Orientador: Gabriel Nogueira Duarte

Faculdade: PUC-Rio



PRÊMIOS



Trabalho 702-A

H.I.T. – Hack de Infraestruturas de transporte

Autor: Rodrigo D’Avila

Orientadores: Guilherme Lassance e Pedro Varella

Faculdade: FAU/UFRJ



Trabalho 709-A|

OCUPAÇÕES RIBEIRINHAS: DA DEPENDÊNCIA PETROLÍFERA À RESILIÊNCIA LOCAL DA INTEGRAÇÃO COMERCIAL



Autora: Tainá Lopes


Orientadores: Carlos Eduardo Spencer

Universidade: PUC

2o PRÊMIO ARQUITETO GRANDJEAN MONTIGNY DO CAU-RJ

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

A 56a Premiação Anual do IAB-RJ de 2018 e uma reflexão

Vista da Amostra de projetos
A premiação anual do Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento do Rio de Janeiro (IAB-RJ) de 2018 vem se realizando a 56 anos de forma ininterrupta, com formatos variados e diferentes categorias, que agrupam diferentes propostas. Atualmente, existe uma comissão curadora constituída por arquitetos de diferentes estados do Brasil, que selecionam e indicam trabalhos de colegas, que são avaliados com um certo grau de qualidade. Tal maneira de atuar foi consolidada a partir de 2017, garantindo que a exposição dos trabalhos apresentados no IAB-RJ seja uma expressiva mostra da produção arquitetônica dos últimos três anos. O interessante na amostra é a recorrente convicção de que a arquitetura brasileira segue sendo um braço importante da cultura no país, mostrando para a sociedade que a produção de seu espaço precisa ser qualificado. E, que grande parte da produção arquitetônica média do Brasil segue sem sequer imaginar sua inadequação, seu desprezo pela cidade pré-existente e pela cidade que será legada às futuras gerações. Enfim, a mediocridade impera num país que possue uma elite endinheirada sem cultura, que prefere esbanjar suas posses consumindo no exterior, e que no país prefere se encastelar em condomínios fechados, carros blindados e shopping centers anti-urbanos. O debate sobre a qualidade arquitetônica, a adequação do que será construído ao contexto existente, e qual cidades estamos reproduzindo é fundamental para as próximas gerações. Estudos recentes mostram, que o parque construído das cidades brasileiras terá que produzir nos próximos 20 anos, o correspondente a 45% do que já está realizado, apenas em função da demanda habitacional. A dinâmica populacional brasileira, já apresenta tendências de estabilização de seu crescimento vegetativo, tal demanda virá da redução da relação de pessoas por domicílio, que nos próximos 20 anos declinará de 2,9 pessoa/ domicílio para 2,0 pessoa/ domicílio. Enfim, apenas no campo habitacional teremos que produzir nos próximos 20 anos, arquitetura em larga escala para atender essa demanda, que deve a todo custo ser produzida onde já temos cidade pronta e infraestruturada, evitando-se a expansão urbana a todo custo. Portanto, cada vez mais teremos que produzir reformando estruturas pré-existentes, onde já há cidade, recusando a expansão de ruas, calçadas, iluminação, coleta de esgoto, distribuição de água, coleta de esgoto, etc..., aprimorando o uso desses serviços, onde já estão instalados.

Como em todas as premiações do IAB-RJ, o júri é soberano e se pauta por sua particular reunião de subjetividades, que deve ser plural e diferenciada na sua visão do ofício da arquitetura e do urbanismo. Assim como na arte a avaliação da arquitetura é carregada de subjetividades, e é apenas do debate entre os jurados diante do conjunto de inscritos, que se consubstancia suas decisões, que partem de premissas preliminares, que a partir do embate entre jurados e trabalhos são relativizados e mudados. Muitas vezes a argumentação e persuasão entre os membros do júri flexibiliza os posicionamentos preliminares, levando a uma reestruturação de posicionamentos. Em toda arquitetura de qualidade há um componente auto biográfico, assim como na arte, determinadas escolhas e decisões do projeto do outro nos incomodam e provocam a pensar. Do ponto de vista geral, percebe-se nessa premiação uma significativa ampliação da apresentação de reformas, reusos, retrofits, ou aproximações com objetos preservados, - 14 trabalhos em 52 projetos - que exatamente apontam para a tendência de construir sob o existente. Em 2018, o júri da 56a Premiação Anual foi composto pelos arquitetos; Pablo Benetti. Mauro Neves Nogueira e Guilherme Figueiredo, que escolheram os seguintes projetos nas seguintes categorias:

CATEGORIA ARQUITETURA DE NOVAS EDIFICAÇÕES

Menção Honrosa: Trabalho 105-P: Picadeiro Hípica


Autores: Sergio Conde Caldas, João de Sousa Machado e Miguel Pinto Guimarães.

Membros da Equipe: Marcos Scorzelli, Glauco Lobato, Caleb Chaves e Julia Chaves.



Menção Honrosa: Trabalho 108-P: Lurixs Galeria de Arte

Autor: Miguel Pinto Guimarães.

Membros da Equipe: Renata Duhá, Adriana Moura, Natália Lopes e Aline Soares.






Menção Honrosa: Trabalho 112-P: Casa das Praças

Autores: Daniel Mangabeira, Henrique Coutinho e Matheus Seco.

Membros da Equipe: Marina Lira, Tatiana Lopes e Victor Machado









Prêmio: Trabalho 103-P: Casa Firjan da Indústria Criativa

Autores: Priscila Marinho de Matos e Nanda Eskes

Membros da Equipe: San Jandrey, Fernando Bonini, Rodrigo Bocater e David Serrão





Prêmio: Trabalho 115-P: Edifício Aruá

Autores: Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz

Membros da Equipe: Sonia Gouveia, Ana Paula Barbosa, Alessandra Musto, Caroline Endo e Wanessa Simoe


Outros Participantes: Rodrigo de Moura, Adriana Pastore e James Smaul




CATEGORIA ARQUITETURA DE RESTAURO E TRANSFORMAÇÃO DE USO DE EDIFICAÇÕES

Menção Honrosa: Trabalho 201-P: Centro Universitário Maria Antonia - USP

Autores: Fernanda Barbara, Fabio Valentim, Cristiane Muniz e Fernando Felippe.

Membros da Equipe:
Ana Paula Castro, Andre Ciampi, Apoena Amaral e Almeida, Camila Lisboa, Clovis Cunha, Fernanda Neiva e Felipe Noto.




Prêmio: Trabalho 204-P: Estúdio de Gastronomia em Muriaé

Autora: Isabela Canêdo Montesano Miranda

Membro da Equipe: Fernado Delgado Páez







CATEGORIA ARQUITETURA DE INTERIORES

Menção Honrosa: Trabalho 309-P: Restaurante Xian
Autor: Miguel Pinto Guimarães.
Membros da Equipe: Renata Duhá, Adriana Moura, Natália Lopes e Tati Viany.

CATEGORIA PRODUÇÃO TEÓRICA

Menção Honrosa: Trabalho 505-P: Arquitectura para la salud en América Latina
Autores: Fábio Bitencourt e Luciano Monza (org.).

Prêmio: Trabalho 504-P: Presença Estrangeira: Arquitetura no Rio de Janeiro
Autores: Maria Cristina Cabral e Rodrigo Cury Paraizo
Membros da Equipe: Denise Vianna Nunes, Niuxa Dias Drago, João Magnus Pires, Gustavo Badolatti Racca, Leonardo Rabaça Falcão, Fernanda Lobianco Araujo, Ravisia Avelar e Nina Zonis Nepomuceno.

GRANDE PRÊMIO IAB/RJ 2018

O Júri resolveu, por unanimidade, conceder o Grande Prêmio IAB/RJ 2018 ao Trabalho 115-P: Edifício Aruá

CATEGORIA URBANISMO E PAISAGISMO

402-P: Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano Integrado
Autores: Jaime Lerner e Câmara Metropolitana do Rio de Janeiro

CATEGORIA FOTOGRAFIA DE ARQUITETURA

601-P: Moradas da Saúde, um lugar tranquilo no Porto do Rio,
conjunto de registros documentais elaborados
Autor: Philippe Leon Anastassaki

602-P: intitulado Origens, composto por conjunto de imagens fotográficas artísticas
Autor: Oscar Liberal

sábado, 15 de dezembro de 2018

A presença de Josep Maria Montaner e Zaida Muxi no RJ

A arquiteta Claudia Escarlate (IRPH), Josep Maria Montaner, Zaida 
Muxi e Pedro Évora (PCRJ)
Nos dias 05 e 06 de dezembro de 2018 estiveram presentes na cidade do Rio de Janeiro, os arquitetos; Josep Maria Montaner e Zaida Muxi, críticos ligados a Escola Superior Técnica de Barcelona (ETSAB), que agora estão engajados em compromissos políticos palpáveis, na área da cidade metropolitana da Catalunha. A arquiteta argentina Zaida Muxi, na localidade de Santa Colona de Gramenet, um município da periferia da capital da Catalunha. E, o arquiteto catalão Josep Maria Montaner, que na eleição de 2015 foi eleito Consejal de Vivienda, na cidade mesmo de Barcelona.  No dia 05 de dezembro, os dois fizeram uma palestra no Planetário da Gávea, para lançamento dos livros; Uma Agenda Contemporânea da Arquiteura de Montaner e Mujeres, casas y ciudades de Zaida Muxi. O livro de Montaner já foi comentado aqui no blog, tendo ido para o portal Vitruvius, selecionado como resenha de publicação. E, no dia 06 de dezembro no Museu de Arte do Rio (MAR) para apresentação dos seus trabalhos profissionais mais contemporâneos, junto com a experiência da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (PCRJ) sobre a área da Favela da Maré e sua frente da Avenida Brasil, na zona norte carioca. Os eventos trouxeram para os arquitetos do Rio de Janeiro, tanto do âmbito mais acadêmico, como também para o profissional, um importante testemunho da centralidade do ato de projetar e de planejar na cidade contemporânea, como elemento produtor de participação e qualificação dos seus espaços. Os dois arquitetos se colocaram desde suas primeiras considerações como participantes de movimentos sociais variados, até um passado recente, que reinvidicavam no contexto da Espanha por habitação, ou por direitos à urbanidades diferenciadas, passando mais recentemente a administradores governamentais. Nessa atual condição reconheciam as dificuldades enfrentadas, num contexto da Espanha, onde a crise das hipotecas de 2008 ainda impacta a atual situação, que ocorre de forma simultânea a grande crise financeira do mesmo ano nos EUA.

O testemunho da arquiteta Zaida Muxi mostrou as dificuldades da atuação nas periferias das cidades espanholas, num território com um claro grau de subalternidade, com relação a cidade de Barcelona, a municipalidade de Santa Colona Gramenet. No contexto de um governo com claro acento feminista, comandado pela prefeita Nuria Parlon, reeleita pelo Partido Socialista da Catalunha (PSC) em 2011, que se cercou de treze secretárias mulheres, num conjunto total de quinze. A proposta envolvia uma clara mudança das proposições dos anos noventa da arquitetura catalã, investindo-se fortemente numa forma de atuar não icônica, não sobre desenhada, enfim mais próxima do cotidiano das pessoas. Um recuo do design excessivo, que fez a fortuna da tradição catalã de fazer cidades, para se buscar uma maior aproximação com o cotidiano mais simples e imediato das necessidades das pessoas. A reflexão de Zaida Muxi nos leva a refletir sobre os vínculos fortemente imbricados entre centralidade, turismo, especulação imobiliária e espetáculo, que seduziram fortemente nosso ofício, durante os anos oitenta e noventa. A luta da arquitetura e do urbanismo, na localidade de Santa Colona Gramenet, de convencimento, se mostra em torno do rechaço ao rodoviarismo imperante na periferia distante, a proposição de espaços híbridos - públicos e ao mesmo tempo privados - , e, um investimento na auto estima da população local. Interessante destacar, que a experiência da jovem prefeita de Santa Colona Granemet também envolve a adoção de uma moeda específica e própria da localidade, denominada Grama. Certamente para amortizar os processos de gentrificação sempre presentes na cidade contemporânea, tão impactada pela hegemonia do capital rentista e especulativo das elites internacionalizadas.

Logo após essas colocações, o arquiteto Josep Maria Montaner apresentou sua experiência como conselheiro eleito a frente da cidade de Barcelona, destacando que o modelo Barcelona de fazer cidades dos anos noventa tinha como referência teórica; Aldo Rossi e Colin Rowe. Mas também o movimento de lutas de vizinhança, e pelo acesso à moradia, que se iniciaram na cidade nos anos setenta, antes da queda de Franco. Na atualidade, o movimento afetados pela hipoteca permanece com forte atuação na cidade devido a dramática situação de Barcelona  e da Espanha em geral no setor da habitação. Apesar da situação dramática de algumas famílias espanholas, que além de serem despejadas de suas habitações permanecem com suas dívidas com os bancos, os neoliberais ainda repetem a mesma ladainha de delegar ao setor privado, os empreendimentos imobiliários de cunho social. Uma questão foi destacada por Montaner, que impacta fortemente a habitação e que envolve o imenso afluxo de turistas atraídos por Barcelona, transformando áreas como no entorno da Sagrada Família de Gaudí em uma região de forte oferta de hospedagens pelo site Airbnb. A questão assume uma dimensão impressionante, a partir dos dados quantitativos trazidos por Montaner, simplesmente 10 milhões de turistas visitam a cidade por ano. O dado é impressionante, quando se compara com o fluxo turístico do Brasil inteiro, que fica nos 6 milhões de visitantes  por ano, o que nos mostra como nesse setor ainda temos muito que fazer. De toda maneira, Montaner assinalou de forma enfática o caráter predatório do turismo contemporâneo, que acaba gerando uma forte resistência por parte da população local, que parece esquecida frente aos imensos fluxos turísticos. A reflexão maior de Montaner, me parece a proposta de construção de uma alternativa às imensas quantidades de moeda investida na Espanha nos anos noventa, que de uma hora para outra sumiram com a crise de 2008.

Após essas duas apresentações foi aberto ao público para perguntas diferenciadas. Como presidente do IAB-RJ, eu fiz uma colocação a respeito da política pública de produção de habitação de interesse social no Brasil, assinalando que desde o ano de 1963, a rede do IAB no país defende a tese, de que a urbanização de favelas deve ser parte constituinte dessa política, articulando e coordenando a produção de novas unidades. Enfatizei também, que o desenvolvimento brasileiro no século XX foi dos mais dinâmicos do mundo, fazendo o país alcançar a posição de oitavo PIB dentre as economias globais, no entanto esse imenso incremento não significou a melhora das condições de vida de parcela significativa de nossa população, fazendo com que o país ainda apresente a pior distribuição de renda do mundo. Tal fato, representa uma clara comprovação de que o desenvolvimento brasileiro foi para poucos. O nosso desafio contemporâneo é efetivamente produzir desenvolvimento com inclusão social, gerando a sensação de que todos estão incluídos. Nesse sentido, as cidades brasileiras são a demonstração mais palpável dessa condição histórica de um desenvolvimento exclusivo, onde as favelas e periferias são os territórios da exclusão. Por outro lado, percebo no casal de arquitetos catalão um alinhamento político ideológico de esquerda de construção de um mundo mais solidário, mas não ortodoxo e fora de uma zona de conforto. Daí meu questionamento para eles, de que a esquerda no mundo contemporâneo se deixara envolver por um maniqueísmo redutor e simplificador, que contrapôs estatismo e privatismo, e, que essa lógica precisa ser superada pela conceituação de alguns pensadores que defendem a idéia de construção do Comum.

BIBLIOGRAFIA:

MONTANER, Josep Maria - A condição contemporânea da arquitetura - Editora Gustavo Gilli São Paulo 2016

MUXI, Zaida - Mujeres, casas y ciudades - Editora Gustavo Gilli Barcelona 2018

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Uma mesa redonda debate o projeto

Jeronimo Moraes, Isabel Tostes presidente do CAU-RJ, e Pedro da Luz
Moreira presidente do IAB-RJ
No último dia 06 de dezembro de 2018 foi realizado na sede do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU-RJ), um debate a respeito do significado da palavra projeto em nossa contemporaneidade. O evento foi aberto pela presidente do CAU-RJ, Isabel Tostes, pelo conselheiro do CAU-RJ, Jerônimo Moraes e pelo presidente do IAB-RJ e coordenador do Conselho de Entidades de Arquitetura e Urbanismo (CEAU), Pedro da Luz Moreira. Após essa abertura institucional foi composta uma mesa formada pelos arquitetos Anibal Sabrosa da RAF arquitetura, Celso Rayol da Citté arquitetura, e Guilherme Lassance da FAU-UFRJ, coordenados pelo conselheiro do CAU-RJ Lucas Franco, que apresentou os processos de desenvolvimento de projeto em seus escritórios e instituições.

Os arquitetos Celso Rayol (Citté arquitetura) e Anibal
Sabrosa (RAF arquitetura)
O tema do debate é fundamental não só para os arquitetos, mas para a sociedade brasileira como um todo, uma vez que o projeto pode ser sintetizado, como o pensar, antes do fazer. Uma prática, que se adotada dificulta em muito de maneira geral, a corrupção, em torno de obras de interesse público, já que pretende controlar os custos, prazos e benefícios alcançados com a transformação. Afinal, a atividade de projeto é inerente a condição humana, tendendo a estar mais presente nas sociedade mais desenvolvidas, que exatamente se caracterizam por uma maior capacidade prospectiva. Efetivamente projetamos uma série de atividades, que pretendem melhorar nossa condição de vida, nosso prazer, nosso conforto, projetamos; viagens, estudos, casamentos, filhos, casas, cidades etc... A palavra projeto está cindida entre o prefixo pro, que significa antecipar, e o sufixo jactar, que corresponde a lançar com direção. O projeto, portanto pressupõe uma das mais importantes pretensões humanas, o controle do nosso vir-a-ser, do nosso futuro, uma capacidade de se antecipar aos eventuais imprevistos, que decorrem de qualquer atividade humana. As perguntas fundamentais de nossa contemporaneidade, tais como; como preservar nosso planeta? como ocupá-lo sem que seja necessário esgotar seus recursos? que cidade queremos para o nosso futuro? o que significa o Bem Viver? Todas são dependentes da adoção da prática de projeto, como estruturador de ações futuras pensadas, que estão alicerçadas num processo, que envolve uma série de agentes e atores trabalhando de forma coordenada e articulada.

Na minha fala procurei enfatizar, que a prática de projeto é fundamental para obtenção de uma maior coesão social no planejamento das cidades que queremos, e do país que estamos construindo, na medida em que precisamos articular um vir-a-ser mais inclusivo. O Brasil talvez seja o caso mais emblemático de desenvolvimento contínuo ao longo de todo o século XX, sem construção de coesão social. Afinal, na contemporaneidade passamos a ser o oitavo PIB do mundo, sem que esse desenvolvimento incluísse o conjunto dos extratos sociais do país, ainda temos uma das piores distribuições de renda do mundo. A razão para essa condição são múltiplas, mas sem dúvida nenhuma podem ser localizadas em nossa história, que nos mostra uma recorrente prática de nossas elites, que sempre se envergonharam do conjunto de nossa população, implantando um tipo de desenvolvimento exclusivo, que alijava expressivas parcelas do país. Dois exemplos ilustram de forma emblemática essa tese, a libertação dos escravos em 1888 e o movimento da Ditadura civil-militar de 1964. O primeiro, lançou uma parcela expressiva da população do país, os negros, num sistema de competição capitalista, sem que lhes fosse fornecida qualquer capacidade para enfrentar o mercado de trabalho, que ainda foi literalmente inundado com imigrantes brancos europeus, num projeto explícito de embranquecimento da nação. O segundo, represou as chamadas Reformas de Base do governo João Goulart, que envolviam as reformas; agrária e urbana, que poderiam ter representado uma maior inclusão social. O projeto da Ditadura civil-militar no Brasil foi cinicamente expresso pelo Ministro da Economia Delfim Neto, que declarava de forma explícita; "Precisamos primeiro fazer o bolo crescer, para depois dividí-lo." Quando olhamos para essa história percebemos claramente que a lógica de nosso desenvolvimento nunca foi um projeto de inclusão de todos, mas um exclusivo para poucos. A partir dessas colocações percebemos como é importante discutirmos, o plano e o projeto do Brasil, lutando pela inclusão de todos os seus habitantes, e não apenas de poucos privilegiados. Portanto, a formulação de um contra-projeto de país, que não o estabelecido e instituído por nossas elites é fundamental, que pode ser percebido, por exemplo, na forma de atuação do mercado imobiliário brasileiro, que na verdade atende apenas a 30% de nossa população, condenando 70% dela ao auto empreendimento da casa própria.

É importante também mencionar, que a teoria mais crítica do projeto não restringe essa ação, a simples resolução de problemas, mas identifica nela, no seu próprio desenvolvimento, uma capacidade ímpar de explicitar conflitos, e, de tentar acomodá-los. Em síntese, o projeto é um processo, no qual aquilo que se deseja será explicitado, pois sua definição de forma precisa e concreta só é possível na medida em que percorremos suas diferentes etapas. O ato de projetar está intrinsecamente conectado com a ampliação da democracia, pois ele oferece ao conjunto da sociedade a possibilidade de pensar seu vir-a-ser. Numa sociedade sobrecarregada de informações, e, por isso mesma dispersa com relação a alguns objetivos é fundamental o debate sobre seus desejos e expectativas, de forma que não contrariem ou represem aspirações do interesse comum. Na verdade, em minha fala tentei resgatar uma colocação fundamental de TAFURI 1979, que identificava na projetação; "uma teoria crítica e operativa do real."  O crítico italiano quando agrega crítica e operação pretende articular pensamento e ação, mantendo um sentido e uma direção, que seria a ampliação da humanidade do homem, uma humanização de sua existência. TAFURI 1979, identificava nos arquitetos uma capacidade de formular idealizações sobre o hábito de morar, os arquitetos seriam ideólogos do habitar. Eles seriam capazes em seus projetos de intuir uma direção geral no sentido da ampliação da interdependência social do homem, geradora de solidariedade representada pela ampliação da urbanidade. Na verdade, TAFURI 1979 não compartilhava de tanto otimismo assim, enveredando pela descrença na ampliação contínua da Modernidade Iluminista, típica da Escola de Frankfurt, principalmente na sua vertente de Adorno e Hockheimer. Por outro lado, o arquiteto brasileiro Vilanova Artigas sempre vinculou o ato de desenhar ao de desejo e devir, como um ato de domínio da natureza, inerente ao ser humano.

"Para desenhar é preciso ter talento, ter imaginação vocação Nada mais falso. Desenho é linguagem também e enquanto linguagem é acessível a todos." ARTIGAS 2004 página114 

Como o homem primitivo, que desenha sua caça antes de enfrentá-la, buscando forças, desenhamos e projetamos nosso futuro, pensando no bem estar e no bem viver. Nesse início do século XXI estamos precisando de um projeto que amplie a participação de todos, construindo um desenvolvimento que inclua a maioria da população brasileira.

BIBLIOGRAFIA:

ARTIGAS, Vilanova - Caminhos da Arquitetura - Editora Cosac Naif São Paulo 2004
TAFURI, Manfredo - Teorias e História da Arquitetura - editorial Presença Lisboa 1979