domingo, 19 de outubro de 2014

Arquitetura, turismo e sustentabilidade em Cataguases Minas Gerais

Marcio Takata, Elizabeth Kropf, Pedro da Luz Moreira e Mauro
Neves Nogueira, componentes da mesa de abertura do CATS
Nessa última quinta feira dia 16 de outubro de 2014 fiz uma palestra no 2o Congresso de Arquitetura e Turismo de Cataguases em Minas Gerais. O encontro que se realiza pela segunda vez debate a preservação do acervo arquitetônico e seu papel na estruturação do turismo contemporâneo. A mesa de que participei contou com as palestras do engenheiro do Green Building Council Marcio Takata, e do arquiteto professor da FAU-UFRJ Mauro Neves Nogueira.

Inicei a minha apresentação explicando qual o significado do IAB, uma organização da sociedade civil prestes a alcançar os cem anos de existência em 2021. Mencionei a recente conquista do Congresso Internacional de Arquitetura de 2020 da União Internacional dos Arquitetos, que será realizado na cidade do Rio de Janeiro, e que foi uma conquista da rede do IAB Nacional capitaneada pelo IAB-RJ.

O concurso do Chicago Tribune,
proposta de Adolf Loos 1923
Apresentei os conceitos de projeto, ideologia e hegemonia, como forças que estruturam nosso dia. Caracterizei projeto a partir da etimologia da palavra, como um vocábulo cindido pelo prefixo "Pro" que significa antecipar e pelo sufixo "Jactare" que denota lançar ou arremessar. Projeto seria portanto lançar com antecedência, ou se antecipar as ações. É portanto um discurso que pretende persuadir a sociedade para avaliação consciente dos custos e benefícios das intervenções. Tentei por outro lado caracterizar ideologia, como um conjunto de crenças e convicções que estruturam nossa operação ou fazer no cotidiano. A ideologia é uma presença inevitável no mundo contemporâneo, onde sistemas estruturados de princípios de atuação, como igrejas, partidos e associações estão sempre em crise, onde o fazer cotidiano demanda do ser humano moderno uma constante reconstrução de suas premissas. Por fim tentei caracterizar hegemonia, como a dinamização do conceito de ideologia, sendo a capacidade da ideologia de conquistar o metabolismo social, como um todo.

Com esses conceitos como premissas teóricas procurei enfatizar que as atividades de projeto e de planejamento, que estruturam o ofício da arquitetura e do urbanismo precisam ser melhor consideradas pelo conjunto da sociedade brasileira, como atividades que lançam e estruturam diferentes setores, dentre os quais também o turismo. A celebração do improviso e a ausência de protagonismo para as ações de projetar e planejar na sociedade brasileira deveriam ser ideologias combatidas de forma incessante. Projetar e planejar é fundamental para potencializar os destinos turísticos de qualquer parte do mundo.

A cúpula de Santa Maria del Fiore em Florença, projeto de
Bruneleschi de 1418
A partir desse ponto a minha apresentação procurou focar na questão de que grande parte dos destinos turísticos mais procurados do mundo contemporâneo, seja no Brasil ou no resto do mundo são fruto de projetos, não apenas de projetos arquitetônicos, mas de planos que abordam a cidade como um todo. O que se busca na grande maioria das vezes é desfrutar de uma atmosfera que uma cidade construiu a partir de planos e projetos concretos. Os exemplos começaram pela Itália, as cidades de Florença, Roma e Veneza foram assinaladas como destinos turísticos reconhecidos por todos e valorizados, justamente pela presença de projetos memoráveis. Florença com o concurso da cúpula de Santa Maria del Fiore em 1418, que escolheu o projeto de Bruneleschi. Roma, com a reforma implantada pelo papa Sixto V em 1602, que construiu uma série de praças pontuadas por obeliscos e ligadas por eixos de circulação, que tornaram o território da cidade legível para uma série de peregrinos e devotos estrangeiros. Veneza com seu intrincado de ruas, canais e vielas, onde é inevitável se perder, mas onde os grandes monumentos e praças nos recontextualizam. Enfim exemplos que foram construídos a partir de projetos concretos, que possuíam intenções claras de transformar realidades concretas.

A cidade de Ouro Preto em Minas Gerais e o projeto da Praça
Tiradentes de 1783
Selecionei também exemplares mais recentes como Nova York (1811), Barcelona (1849), Paris (1853), e Chicago (1893) que a partir de planos concretos conformaram trechos expressivos de seus tecidos urbanos, consolidando destinos turísticos dos mais procurados no mundo. Além desses também busquei exemplares nacionais como Ouro Preto e Congonhas do Campo, ambas em Minas Gerais, que haviam também recebidos projetos específicos. A antiga Vila Rica com o projeto da atual Praça Tiradentes em 1783, seis anos antes da descoberta da Inconfidência Mineira. E o emblemático Adro da Igreja de Bom Jesus do Matosinhos feito por Aleijadinho em 1782, com seus profetas, os passos da paixão e a fachada da Igreja, conformando um sítio mágico de precisa adequação ao sítio local.

Por último mencionei a cidade do Rio de Janeiro, destino turístico dos mais mencionados nos últimos tempos com a ascensão internacional do Brasil. A mística da cidade maravilhosa envolvia uma urbanidade intensa e a presença de contínuos naturais expressivos, todos projetados. Citei a reforma de Pereira Passos em 1905, que pretendeu transformar o porto da emergente república brasileira, num destino mais confiável, e o projeto da recuperação da Floresta da Tijuca, ainda no tempo do império como forma de melhorar os mananciais que abasteciam a cidade.

Enfim destino turístico é fruto de uma projetação e de um planejamento sistemático e vigilante...