sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O filme de Scorcese sobre Wall Street retoma a questão do capital financeiro

Leonardo de Caprio e o culto as finanças do filme
O lobo de Wall Street
O filme The Wolff of Wall Street retrata, o mundo do sistema financeiro contemporâneo,  uma certa independência do mercado de ações da real situação das empresas que elas representam, como se o papel que carrega o nome do empreendimento assumisse um valor descolado dos fatos econômicos efetivos. O capital financeiro tende a uma certa independência e auto suficiência, pois em nosso mundo o dinheiro representa um poder social imenso e geral. O sistema financeiro é cada vez mais complexo, interligado e difícil de ser mapeado e controlado. A produção e os bens físicos em contraposição as finanças parece nos uma riqueza mais real, vinculada a uma concretude específica e concreta, enquanto a base monetária nos parece abstrata e complexa. No entanto, no mundo capitalista, particularmente dos anos oitenta do século XX para os nossos dias, com o declínio do fordismo e da regulação keynesiana, emerge a hegemonia das finanças. A figura emblemática do capitalista endinheirado deixa de ser o industrial vinculado a uma determinada mercadoria ou fábrica concreta, e emerge o financista especulador ou corretor da bolsa de valores. Braudel já havia destacado que a história do capitalismo, na longa duração nos mostra sua capacidade de metamorfosear-se com grande flexibilidade e ecletismo:

"Permitam-me enfatizar aquilo que me parece  ser um aspecto essencial da história geral do capitalismo: sua flexibilidade ilimitada, sua capacidade  de mudança e adaptação..."

O espaço produtivo representativo do nosso tempo
com a hegemonia das finanças
A industria a partir do início do século XIX parecia ser a casa definitiva do capital, que desde então produziu imensas unidades produtivas, com uma concentração incrível de trabalhadores e energia. A fábrica já não é mais o espaço produtivo representativo de nosso tempo, mas sim o escritório burocrático das grandes corporações e dos serviços.

"...os historiadores em geral encaram a industria como o desabrochamento final, que teria dado ao capitalismo sua verdadeira identidade...Após a eclosão inicial da mecanização, o tipo mais avançado de capitalismo retornou ao ecletismo..., como se a típica vantagem de estar no alto comando da economia, tanto hoje, quanto na época de Jacques Coeur (o magnata do século XIV), consistisse precisamente em não ter que estar restrito a uma única opção, em ser eminentemente adaptável e, por conseguinte, não especializado." BRAUDEL Fernand, citado em ARRIGHI, Giovanni - O Longo século XX, dinheiro, poder e as origens do nosso tempo - editora Unesp São Paulo 1996 pg 05

O ecletismo, a volatilidade, enfim a liquidez são as formas preferenciais que a intensificação da circulação de mercadorias do nosso tempo induz ao capital. O filme mostra esta ansiosa troca de papel por papel, ação, dinheiro e a base monetária, convertidos em objeto de culto...