quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Documentário sobre o Edifício Copan em São Paulo em debate no IAB-RJ

Na última terça feira dia 29 de agosto de 2017 foi realizado na sede do Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento do Rio de Janeiro (IAB-RJ) a projeção do documentário sobre o Edifício Copan do arquiteto Oscar Niemyer, localizado na cidade de São Paulo. Uma mega estrutura habitacional, maior que muitas cidades, com 120mil metros quadrados de área construída, um total de 1160 apartamentos de diferentes tamanhos e tipologias. Após a projeção foi realizado um debate, com a diretora do documentário a jornalista Cristina Aragão, os arquitetos Rodrigo Mindlin e Bruno Tropia, com mediação do presidente do IAB-RJ, Pedro da Luz Moreira. O documentário lança sobre a edificação uma visão sensível sobre essa mega estrutura, que o Copan representa, celebrando sua capacidade de agregar diferenças. Logo na abertura, a pergunta primordial da jornalista Cristina Aragão permeou todo o debate;

"Como produzir cidades inclusivas da enorme diversidade da nossa sociedade? A atitude do Copan de celebração das diferenças está presente na atualidade em nossas cidades?"

A geração de arquitetos das vanguardas modernistas brasileiras realizaram experiências notáveis no campo da habitação multi familiar, não só para o poder público, mas também para o mercado imobiliário, como o Copan em São Paulo, o Edifício Niemyer em Belo Horizonte, ambos de Oscar Niemyer, mas também como o conjunto do Parque Guinle de Lucio Costa no Rio de Janeiro, ou o Edifício Louveira de Vilanova Artigas, na capital paulista. Todas experiências notáveis de empreendedores imobiliários, que investiram na qualidade da arquitetura, como agregador de valor, que produziram um efeito muito além da padronização e repetição proposta pela ideologia industrialista do modernismo. Num certo sentido, construíram locais específicos carregados de personalidades, que hoje desempenham um importante papel de construção de pertencimento a um lugar para seus usuários e moradores. Um paradoxo, ao mesmo tempo a celebração da repetição, da quantidade, e da massificação, mas também construção de um lugar específico e único, dotado de personalidade e especificidade.

Logo após, a projeção do filme a palavra foi franqueada ao arquiteto Rodrigo Mindlin, que celebrando o documentário mencionou o importante registro do livro catálogo da exposição do MOMA em Nova York em 1947, organizado por seu tio o arquiteto Henrique Mindlin, Brazil Builds. Uma importante coletânea da experiência modernista brasileira, que maravilhou Nova York e o Mundo com uma apresentação de uma arquitetura predominantemente corbusieana, mas com uma clara entonação brasileira, tanto no que se refere a uma materialidade inusitada, mas também com relação a adequação climática. Rodrigo também registrou, que essa geração modernista de arquitetos pensou o tema da habitação multi familiar, subvertendo de certa forma a proposta da máquina de morar, e, celebrando muito mais o edifício enquanto cidade.

Logo após as ponderações de Rodrigo Mindlin seguiu-se o arquiteto Bruno Tropia, que começou sua palestra registrando a presença na plateia do auditório do IAB-RJ de dois netos de Oscar Niemyer, os arquitetos Caique Niemyer e Paulo Niemyer. Bruno também pontuou o gigantismo das experiências habitacionais de Oscar Niemyer, desse período, tanto no Copan de São Paulo, como também no edifício Juscelino Kubistcheck em Belo Horizonte, que apresentam grande número de unidades e diversidade tipológica de apartamentos. As duas experiências sofreram processos de deterioração e decadência nos anos 1980, com uma ocupação marginal e o surgimento de problemas de manutenção física, seguidos mais contemporaneamente de retomadas de valorização, que celebram uma nova forma de habitar nessas estruturas. Bruno Tropia não deixou também de provocar a documentarista Cristina Aragão, com a constatação de que apenas entrevistara indivíduos isolados ou no máximo casais, que moram no Copan, reforçando uma impressão de isolamento e solidão inevitavelmente presentes nessas mega estruturas edilícias.

Depois dessas falas, a diretora do documentário Cristina Aragão explicitou sua metodologia ao abordar o tema do Copan, ela explicitou que se colocou o limite de tempo de sessenta horas, que era seu prazo de locação do conjugado no edifício. Ela reconheceu que esse tempo lhe impôs uma quantidade limitada de material bruto, que depois tiveram que ser editados e trabalhados, apesar dessas limitações de produção, o documentário descortina um cotidiano rico e variado, celebrando uma arquitetura de promoção da interação entre diferenças.

Ao final, foram formuladas questões e posicionamentos pela plateia, que tiveram como tônica a celebração desse encontro entre diferenças, típica das cidades. A partir desse contexto, o presidente do IAB-RJ encerrou o encontro celebrando o fenômeno da proximidade entre diferenças, como um elemento didático e formador