sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A palestra de Juan Carlos Rico no IAB-RJ - Cidade e Participação

Estrutura provisória para explicar as obras de transformações de Berlim

No último dia 29 de outubro de 2014 foi realizado no IAB-RJ a palestra do arquiteto espanhol Juan Carlo Rico autor de várias reflexões sobre museus, exposições e a cidade, debatendo o significado da inserção dos museus nos mundos da vida contemporânea. A palestra foi extremamente provocante e abordou temas como a massificação da cultura, o didatismo da cidade como forma emblemática do vir a ser de uma comunidade, a escala e a percepção, e repetição e monumentalidade, dentre outros.  A construção de um cenário variado e provocante, que constantemente questiona a inserção, a capacidade de assimilação e o didatismo de diferentes tipos de acervos fez os presentes refletir sobre as complexas relações entre qualidade e quantidade na nossa contemporaneidade.

A estação central de Berlim
As cidades foram caracterizadas como um imenso acervo de obras de arte variadas e múltiplas, que muitas vezes estão invisíveis, num posicionamento que destaca a unicidade de cada uma delas. Para mim a experiência de Berlim narrada pelo arquiteto espanhol, ganhou grande relevância pelo esforço promovido para divulgar e conscientizar sua população das transformações, que simbolicamente reconstruiram a unidade da Alemanha. As maquetes, o processo de evolução da cidade, a reconstrução do seu papel de capital, o papel das redes de transportes e comunicação sobre o seu território demonstram como a transparência das mudanças procurava cooptar a comunidade para seu próprio projeto de futuro. O instituto de urbanismo de Berlim possui uma série de maquetes da cidade, que inclusive reconstroem momentos da sua história. Esse instrumento é um mecanismo fantástico para a mobilização da população e para sua melhor compreensão das transformações propostas.

O ministro das cidades do Brasil visita as maquetes de Berlim
Um lugar concreto para mim é a representação mais forte dessa reconstrução da capitalidade da Berlim contemporânea, a estação central da cidade, um imenso cruzamento de linhas e redes de transportes de diferentes escalas e velocidades. Pessoas que chegam, outras que saem, lojas, trens de alta velocidade que ligam capitais distantes, o sistema de metrô de Berlim, linhas de ônibus, enfim uma imensa conectividade, que certamente impacta positivamente o cotidiano do cidadão.Pois bem o professor Juan Carlos Rico apresentou uma imensa estrutura provisória que informava o público sobre a futura Berlim. Nesse espaço eram apresentados propostas e idéias para a futura Berlim, isto é projetos ainda não acabados, que pretendiam a ampliar a transparência das transformações explicando para a população os custos e benefícios pretendidos. Um exemplo para nossa prática política brasileira, onde as obras e os projetos não são previamente debatidos e seus custos e benefícios deixam de ser avaliados por parcelas expressivas da população.

sábado, 25 de outubro de 2014

Reflexão de quinze minutos de leitura antes de votar

Um texto esclarecedor do sociólogo Lucas Coradini da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, indicado pelo Pablo Benetti, muito além das pré disposições presentes em posicionamentos apaixonados dos simpatizantes dos dois partidos em disputa. Com uma posição definida para essa eleição, mas procurando usar dos dados e índices presentes em diferentes fontes é construído uma diferenciação entre duas teses claras e transparentes em disputa...

Vale a pena a leitura

http://www.sul21.com.br/jornal/nao-decida-o-seu-voto-agora-decida-em-quinze-minutos-por-lucas-coradini/

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

A ausência do espaço nas discussões eleitorais no Brasil

As periferias urbanas, ausência de urbanidade
As eleições presidenciais brasileiras de 2014 chegam a reta final nesse final de outubro. Há uma sensação generalizada de ausência de alguns temas centrais que afligem a sociedade brasileira no discurso dos candidatos. Se pegarmos os temas que foram pautados pelas manifestações de junho de 2013, que eram saúde, educação, habitação, segurança e transporte percebemos sua presença nas campanhas e nas propostas dos candidatos, mas de uma forma descontextualizada, um pouco abstrata por que parecem prescindir da dimensão espacial desses problemas. Essa alienação da base física e concreta do espaço determina muitas vezes, que os temas assumam uma dimensão incompreensível, afeita apenas a especialistas, longe portanto da assimilação comum, que é o campo efetivo da política. Me parece que há uma utilização conservadora e intransparente da linguagem política, que pretende utilizá-la como forma de alijar setores substanciais da população que não reconhecem nos debates políticos, o seu cotidiano. Nesse sentido, parece existir uma supremacia dos temas econômicos, frente a dimensão espacial e territorial, que acaba por dificultar sua compreensão pelo senso comum.

O cotidiano e o bem viver nas metrópoles contemporâneas
Na verdade, o cotidiano concreto das pessoas é profundamente impactado pelo espaço, e ele contextualiza muito dos problemas relativos a saúde, a educação, a segurança e aos transportes de massas. A contextualização desses problemas sobre a base espacial possibilita e potencializa a compreensão das formas diferenciadas de apropriação dessas benfeitorias no seio da sociedade, explicando a partir dos diferentes níveis de acessibilidade a eles, por vexemplo os diferentes valores da terra urbana no seio das cidades. A base espacial condiciona de sobremaneira o cotidiano dos diferentes extratos sociais, determinando a experiência concreta do dia a dia. Afinal, a cidade é o espelho da sociedade, e seu mapeamento ou descrição possuem um imenso poder de explicar nossas cisões e diferenças. Como exemplo, podemos falar sobre a saúde. Os equipamentos de saúde trabalham com diversos graus de resolutividade de problemas, a rede de saúde possui desde o médico de bairro, passando pelos postos de saúde local, até os hospitais gerais e os hospitais especilaizados, como INCA, Traumato ortopedia, Cérebro, etc... A rede é espacializada e integrada, sua legibilidade no território é fundamental para que a população compreenda seu grau de resolutividade, para que não sobrecarregue unidades de alta complexidade com problemas que podem ser resolvidos nos postos locais.

Urbanidade e acesso a oportunidades
Nesse contexto, uma dimensão efetiva da experiência cotidiana das pessoas são as grandes metrópoles brasileiras, que apresentam níveis diferenciados de universalização de infraestruturas urbanas, tais como; coleta de esgoto, distribuição de água, coleta de lixo, calçamento, pavimentação de ruas, iluminação pública, arborização urbana, dentre outras. As comodidades urbanas, tais como; escolas, parques, bibliotecas, cursos, lazer, esportes, envolvem muitas vezes a acessibilidade a oportunidades de progresso para famílias ou extratos sociais fragilizados. Elas podem representar para os extratos sociais mais fragilizados a construção de oportunidades de progresso e desenvolvimento, que muitas vezes apenas se materializarão no periodo de uma geração. A dimensão da proximidade ou distância na cidade pode significar diferentes graus de acessibilidade a um curso ou formação, que podem transformar as perspectivas de progresso de diferentes cidadãos. O bem viver ou a boa vida estão profundamente conectados ao espaço, e sua acessibilidade pode ser determinada por nossa posição na cidade.

Pois bem, essas obviedades não pautaram os discursos políticos das candidaturas brasileiras, seja no primeiro, como também no segundo turno das eleições brasileiras. A ausência de espacialização dos problemas brasileiros representa um forte fator de incompreensão dos temas políticos. Para Habermas toda tentativa de conhecimento só apreende a informação quando essa se transforma em signo, que exige do interlocutor interpretação, que acaba por gerar mais uma nova produção de signos. Me parece que a didática política brasileira está precisando ser remapeada.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Matéria no jornal O Globo sobre o edifício Seabra na praia do Flamengo no RJ

Fachada do Edifício Seabra na Praia do Flamengo RJ
O jornal O Globo publicou matéria sobre o edifício Seabra na praia do Flamengo, uma construção inaugurada na cidade em 1931 típica do ecletismo, com clara inspiração nos palácios venezianos renascentistas. No jornal escrito acabou não sobrando espaço para minha fala, mas na versão online saiu um pequeno comentário meu.

O edifício Seabra nos mostra um pouco do padrão de qualidade construtiva que a cidade já desfrutou, e, que infelizmente não apresenta mais. Na minha entrevista, que fecha a reportagem da versão online procurei destacar exatamente essa característica, que acabou possibilitando um envelhecimento de qualidade  àquela construção. Todos sabemos que a arquitetura, seja a que sensibilidade pertença (colonial, neo clássica, eclética, art decô, art nouveau,  modernista ou contemporânea, ou outras), demanda manutenção e conservação, sem a qual a edificação tende a retornar ao estágio de ruína.

Hall do edifício Seabra
Mas minha impressão é que estamos perdendo capacidade de resistir ao tempo, a medida que chegamos a contemporaneidade. Importante reafirmar que essa qualidade de projeto e construtiva não deriva sua presença ou ausência da ocorrência da profusão de ornamentos, que o historicismo envolvia. Há motivos variados e complexos que justificam a emergência desse processo, dentre eles podemos mencionar; declínio da importância do projeto, declínio do tempo dedicado ao projeto, declínio da mão de obra, declínio da materialidade, e outros. O que impressiona no edifício Seabra é sua capacidade de resistir as intempéries naturais, que certamente foi obtida a partir de um processo de projetação aprofundado e de uma dedicação ao aprimoramento construtivo, duas questões, nas quais nossa sociedade vem claramente perdendo potência.

O link da matéria pode ser visto abaixo.

http://oglobo.globo.com/rio/luxo-de-outros-tempos-dakota-carioca-guarda-charme-de-um-nobre-flamengo-14292619

Vídeo de apoio a chapa 1 Fortalecimento da Arquitetura e Urbanismo do CAU-RJ

Prezados leitores gravei o vídeo de apoio a Chapa 1 Fortalecimento da Arquitetura e do Urbanismo, que concorre a eleição do CAU-RJ, e que se realizará no dia 05 de novembro de 2014. Os integrantes dessa chapa afirmam a necessidade de assegurar uma articulação permanente com todas as entidades e organizações representativas dos arquitetos e urbanistas, em especial, as que constituem o CEAU – Conselho de Entidades de Arquitetura e Urbanismo.

Nessa entrevista falei sobre a importância do CAU, o novo conselho profissional dos arquitetos e urbanistas, e defendi que os seus conselheiros sejam pessoas experientes, com atividade profissional expressiva na sociedade. Essa experiência profissional pode prevenir casos como o do Concurso do BNDES, em que o CAU-RJ deu apoio a um certame que não previa a contratação do vencedor de forma integral, demonstrando uma grande inexperiência do atual presidente do que é a prática de projeto. Esse caso é muito grave, pois o BNDES é o banco de fomento do governo brasileiro e, portanto, uma instituição de referência para estabelecer práticas.

Outro indicador da importância dessa experiência para o perfil dos conselheiros é a defesa da não profissionalização deles, de forma que permaneçam com suas atividades principais ativas. O link da entrevista se encontra abaixo, vejam e divulguem...

https://www.youtube.com/watch?v=-WShgCns1tc

domingo, 19 de outubro de 2014

Arquitetura, turismo e sustentabilidade em Cataguases Minas Gerais

Marcio Takata, Elizabeth Kropf, Pedro da Luz Moreira e Mauro
Neves Nogueira, componentes da mesa de abertura do CATS
Nessa última quinta feira dia 16 de outubro de 2014 fiz uma palestra no 2o Congresso de Arquitetura e Turismo de Cataguases em Minas Gerais. O encontro que se realiza pela segunda vez debate a preservação do acervo arquitetônico e seu papel na estruturação do turismo contemporâneo. A mesa de que participei contou com as palestras do engenheiro do Green Building Council Marcio Takata, e do arquiteto professor da FAU-UFRJ Mauro Neves Nogueira.

Inicei a minha apresentação explicando qual o significado do IAB, uma organização da sociedade civil prestes a alcançar os cem anos de existência em 2021. Mencionei a recente conquista do Congresso Internacional de Arquitetura de 2020 da União Internacional dos Arquitetos, que será realizado na cidade do Rio de Janeiro, e que foi uma conquista da rede do IAB Nacional capitaneada pelo IAB-RJ.

O concurso do Chicago Tribune,
proposta de Adolf Loos 1923
Apresentei os conceitos de projeto, ideologia e hegemonia, como forças que estruturam nosso dia. Caracterizei projeto a partir da etimologia da palavra, como um vocábulo cindido pelo prefixo "Pro" que significa antecipar e pelo sufixo "Jactare" que denota lançar ou arremessar. Projeto seria portanto lançar com antecedência, ou se antecipar as ações. É portanto um discurso que pretende persuadir a sociedade para avaliação consciente dos custos e benefícios das intervenções. Tentei por outro lado caracterizar ideologia, como um conjunto de crenças e convicções que estruturam nossa operação ou fazer no cotidiano. A ideologia é uma presença inevitável no mundo contemporâneo, onde sistemas estruturados de princípios de atuação, como igrejas, partidos e associações estão sempre em crise, onde o fazer cotidiano demanda do ser humano moderno uma constante reconstrução de suas premissas. Por fim tentei caracterizar hegemonia, como a dinamização do conceito de ideologia, sendo a capacidade da ideologia de conquistar o metabolismo social, como um todo.

Com esses conceitos como premissas teóricas procurei enfatizar que as atividades de projeto e de planejamento, que estruturam o ofício da arquitetura e do urbanismo precisam ser melhor consideradas pelo conjunto da sociedade brasileira, como atividades que lançam e estruturam diferentes setores, dentre os quais também o turismo. A celebração do improviso e a ausência de protagonismo para as ações de projetar e planejar na sociedade brasileira deveriam ser ideologias combatidas de forma incessante. Projetar e planejar é fundamental para potencializar os destinos turísticos de qualquer parte do mundo.

A cúpula de Santa Maria del Fiore em Florença, projeto de
Bruneleschi de 1418
A partir desse ponto a minha apresentação procurou focar na questão de que grande parte dos destinos turísticos mais procurados do mundo contemporâneo, seja no Brasil ou no resto do mundo são fruto de projetos, não apenas de projetos arquitetônicos, mas de planos que abordam a cidade como um todo. O que se busca na grande maioria das vezes é desfrutar de uma atmosfera que uma cidade construiu a partir de planos e projetos concretos. Os exemplos começaram pela Itália, as cidades de Florença, Roma e Veneza foram assinaladas como destinos turísticos reconhecidos por todos e valorizados, justamente pela presença de projetos memoráveis. Florença com o concurso da cúpula de Santa Maria del Fiore em 1418, que escolheu o projeto de Bruneleschi. Roma, com a reforma implantada pelo papa Sixto V em 1602, que construiu uma série de praças pontuadas por obeliscos e ligadas por eixos de circulação, que tornaram o território da cidade legível para uma série de peregrinos e devotos estrangeiros. Veneza com seu intrincado de ruas, canais e vielas, onde é inevitável se perder, mas onde os grandes monumentos e praças nos recontextualizam. Enfim exemplos que foram construídos a partir de projetos concretos, que possuíam intenções claras de transformar realidades concretas.

A cidade de Ouro Preto em Minas Gerais e o projeto da Praça
Tiradentes de 1783
Selecionei também exemplares mais recentes como Nova York (1811), Barcelona (1849), Paris (1853), e Chicago (1893) que a partir de planos concretos conformaram trechos expressivos de seus tecidos urbanos, consolidando destinos turísticos dos mais procurados no mundo. Além desses também busquei exemplares nacionais como Ouro Preto e Congonhas do Campo, ambas em Minas Gerais, que haviam também recebidos projetos específicos. A antiga Vila Rica com o projeto da atual Praça Tiradentes em 1783, seis anos antes da descoberta da Inconfidência Mineira. E o emblemático Adro da Igreja de Bom Jesus do Matosinhos feito por Aleijadinho em 1782, com seus profetas, os passos da paixão e a fachada da Igreja, conformando um sítio mágico de precisa adequação ao sítio local.

Por último mencionei a cidade do Rio de Janeiro, destino turístico dos mais mencionados nos últimos tempos com a ascensão internacional do Brasil. A mística da cidade maravilhosa envolvia uma urbanidade intensa e a presença de contínuos naturais expressivos, todos projetados. Citei a reforma de Pereira Passos em 1905, que pretendeu transformar o porto da emergente república brasileira, num destino mais confiável, e o projeto da recuperação da Floresta da Tijuca, ainda no tempo do império como forma de melhorar os mananciais que abasteciam a cidade.

Enfim destino turístico é fruto de uma projetação e de um planejamento sistemático e vigilante...

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Artigo meu no O Globo de domingo, 12 de outubro de 2014

Imagem do artigo no O Globo
Nesse último domingo saiu um artigo meu sobre a Baía de Guanabara, e seu papel na cidade metropolitana do Rio de Janeiro. Como um acontecimento geográfico importante e único na costa brasileira, a Baía justificou a cidade colonial portuguesa do Rio de Janeiro, não sem luta com o projeto da França Antártica. A Baía de Guanabara, como ponto determinante da história da cidade do Rio de Janeiro concentra uma imensa quantidade de fatos urbanos notáveis, que se restaurados ou reapropriados podem significar o reequilíbrio da metrópole. Lugares como as Ilhas do Fundão, do Governador ou Paquetá, e municípios como Duque de Caxias, Magé, São Gonçalo e Niterói podem ter sua qualidade de vida redirecionada a partir da despoluição da Baía de Guanabara.


domingo, 5 de outubro de 2014

A Inconfidência Mineira

A cidade de Ouro Preto
O livro 1789 do jornalista Pedro Dória é um interessante relato sobre a Inconfidência Mineira, o século XVIII no Brasil, e a formação do estado de Minas Gerais, com o ciclo do ouro são relatos preciosos. A formação da primeira rede urbana no território da colônia do reino ultramarinho de Portugal, conformando uma hierarquia de centralidades e sub-centralidades é uma fato a ser destacado. Há em Minas um patrimônio construído invejável, com exemplares notáveis em Ouro Preto, Mariana, Congonhas do Campo, Sabará, Tiradentes, São João D´El Rei, Catas Altas, na região aurífera e Diamantina, e Serro na região de diamantes, dentre outras. Importante registrar que Vila Rica, o centro da região aurifera era então a maior cidade das Américas.

É importante mencionar como se percebe a emergência de uma sociedade mais liberal em seus costumes, Por exemplo, Simão Pires Sardinha havia nascido escravo, pois era filho de Francisca Oliveira da Silva, a Xica da Silva de Diamantina, que se casara com o  poderoso contratador da zona dos diamantes João Fernandes de Oliveira. Pois bem, Simão Pereira da Silva apesar de mulato tinha ido para a Universidade de Coimbra, tendo sido um dos estudiosos do país, que se dedicava aos fósseis, mas que também irá frequentar a Sociedade Literária do Rio de Janeiro, um grupo que logo após a Inconfidência Mineira esteve na mira das autoridades. Tiradentes visitou efetivamente Sardinha em três ocasiões, levando consigo uma edição em inglês da História da América Inglesa, que narrava os feitos de 04 de julho de 1776 com a independência das treze colônias. Numa outra ocasião levou uma edição em francês do Recueil de loix constitutives des colonies anglaise, confederées sous la dénominations d´États-Units da l´Amerique Septemtronial. Um livro pequeno do tamanho de um caderno Moleskine, pois tinha que ser escondido, afinal era proibido na França.

O impressionante no relato é como as idéias vinculadas ao Iluminismo se disseminaram no território de uma terra afastada e distante como Minas Gerais, de forma simultânea com a Europa e com a América do Norte. O cônego Luis Vieira da Silva, um dos inconfidentes possuía uma biblioteca com 270 títulos distribuídos em 800 volumes, o que era uma coleção representativa, comparando com a de Adam Smith na mesma época, que juntou em toda sua vida três mil volumes. A cultura urbana desenvolvida nessa parte do país certamente fomentou essa disseminação e embate das idéias de forma livre e arejada.

O sítio mágico de Bom Jesus do Matosinhos em Congonhas
do Campo
Talvez o atestado mais sofisticado dessa cultura se encontre no Adro da Igreja do Bom Jesus do Matosinhos na cidade de Congonhas do Campo na área aurífera. Uma obra que tem como referência o sitio de Bom Jesus de Braga em Portugal, mas que demonstra uma imensa superação pela sua adequação impressionante ao sítio. Realmente uma das maiores obras do barroco mineiro é a realização desse sítio - uma cumeada de montanha - com a manipulação do Adro da Igreja,  o Balé dos Profetas e os Passos da Paixão mais abaixo, numa sequência articulada e estruturada de forma sensível e inteligente.

O artigo de Cacá Diegues, mito e projeto

Cacá Diegues texto sensível e inteligente
sobre o Brasil
O artigo de Cacá Diegues no jornal O Globo nesse domingo dia 05 de outubro de 2014 com o título de "O que ainda não sabemos" é uma reflexão preciosa sobre o Brasil, nossos mitos e nossos projetos. A pena do cineasta nos contempla com um raciocínio ao mesmo tempo inteligente e sensível, principalmente na parte que identifica em solo pátrio a presença de "mitos fundadores" e "projetos inconscientes". Dentre os mitos que nos colonizaram e que permanecem presentes na sociedade brasileira está espelhada "em nossa permanente esperança de sermos o futuro". Uma idéia que possue uma imensa potência e nos faz sempre esperar ou pensar que estamos disponíveis para construir um futuro melhor e brilhante. E, pasmem, não só para nós, mas para a humanidade como um todo. Há nessa construção uma imensa disponibilidade e mesmo uma generosidade incrivel, que simplesmente celebra uma vontade de se reinventar no futuro de forma criativa e inusitada. A celebração das novas tecnologias de informação e comunicação se alastram de forma tão rápida pelo país, exatamente por essa presença. A consciência de uma história debilitada e de um presente endurecido e brutal nos condenam a divagar eternamente sobre o futuro, a olhar nossos filhos com uma esperança maravilhosa.

No seu raciocínio as manifestações de junho de 2013 são consideradas como um reforço a esse mito formador, que foram desviadas de seus objetivos iniciais pela tradição de violência de nossa polícia, e pela "estupidez dos black blocs", que aliviaram os representantes do poder. Há um tom geral, bem brasileiro que afasta qualquer euforia ou celebração mitológica da construção de grandes figuras ou grandes feitos. Afinal o mais importante para o articulista seja "que ainda quero ver por aqui as manhãs que cantam, a luz do sol sobre o horizonte, a primavera chegando sem avisar." Realmente, nossa luz do sol ou a primavera são patrimônios memoráveis compartilhados por quem já vivenciou o Brasil. Sei que é pouco. Mas sempre que chego na minha janela e vivencio essa luz parece que renascem as vontades de enfrentar novos projetos e reconstruir esse país.

A íntegra do artigo está no link abaixo. Vale a pena ler:

http://oglobo.globo.com/opiniao/o-que-ainda-nao-sabemos-14135661

06 de outubro Dia Mundial da Arquitetura

Nessa segunda feira dia 06 de outubro de 2014 se celebra o Dia Mundial da Arquitetura, que tem como tema proposto pela UIA, "Cidade Saudável. Cidade Feliz". Estarei amanhã num debate na Semana de Arquitetura e Urbanismo na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Considero uma importante oportunidade para que a sociedade brasileira reflita sobre a forma como a sua cidade vem sendo construída. Na minha concepção há cinco pontos prioritários que precisam ser revertidos na maneira como a cidade brasileira vem sendo construída. Eles envolvem uma certa concepção do que é o "Bem Viver" e se encontram profundamente arraigados nas elites e no conjunto da nossa população. São eles:

1. Cidade Densa e Compacta.  A cidade brasileira é dispersa e espraiada num território imenso, tal fato torna muito difícil a universalização dos serviços urbanos como coleta de lixo e de esgotos, distribuição de água, arruamento e calçamento, iluminação pública, transporte público, educação, lazer, trabalho, e outros.

2. Os antigos centros devem ser reocupados. A cidade brasileira vem abandonando os antigos centros históricos, abandonando um passado construído notável, muitas vezes pela inadequação desses a comodidades como o automóvel e outras.

3. Ampliar a mobilidade e acessibilidade a partir de uma rede estruturada de transportes. A cidade brasileira possui uma mobilidade e acessibilidade deficitária por que não está estruturada a partir de uma rede de modais de transportes clara e eficiente. Os modais de grande capacidade como trens, metrôs, barcas e BRTs devem configurar uma rede complementada por outros modais de baixa capacidade como vans, bondes, bicicletas, calçadas bem desenhadas que fomentem o caminhar.

4. A cidade deve ter uma multiplicidade de usos e de extratos sociais convivendo juntos. A cidade brasileira está constantemente construindo guetos de ricos e guetos de pobres, assim como locais dormitórios e centros de concentração de serviços. A cidade segura é a cidade que aproxima pobres e ricos, zonas de habitação e de trabalho.

5. A cidade deve se aproximar de contínuos naturais, respeitando a biodiversidade. A cidade brasileira possui um imenso passivo ambiental, destruindo muitas vezes mananciais e biomas importantes como baías e rios. Reaproximar de forma inteligente e articulada a população urbana desses contínuos pode significar a potencialização de sua preservação, fazendo reaparecer a vida de uma diversidade de espécies.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Artigo publicado no site Arqbacana sobre o Congresso da UIA 2020

O site Arqbacana publicou um texto meu sobre o Congresso Global da União Internacional de Arquitetos 2020 (UIA 2020) no Rio de Janeiro, uma data que deve servir para refundar a relação entre sociedade brasileira e as práticas de planejamento e de projeto, que estruturam o ofício da arquitetura e do urbanismo. Mais importante que o evento, creio ser fundamental a construção dele, lutando para que o país avalie melhor sua infra estrutura construída e pense de forma mais estruturada quais transformações são prioritárias e quais são periféricas. Um encontro profissional dessa natureza possui um potencial imenso para que a sociedade brasileira entenda o papel do Plano e do Projeto, como ações fundamentais para que tenhamos obras mais bem feitas e mais sintonizadas com os anseios gerais.

O artigo está no link abaixo;

http://www.arqbacana.com.br/internal/arq!mix/read/14200/projetar-e-executar-o-significado-do-congresso-da-uia-2020-no-rio-de-janeiro