sexta-feira, 16 de dezembro de 2011


CBN RJ

Projeto de ampliação da Marina da Glória, proposto pelo grupo de Eike Batista, ainda não saiu do papel, mas já suscita série de críticas



Entrevista com Pedro da Luz, arquiteto e vice-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/RJ)

Ouvir

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Iluminação do Cristo Redentor RJ



Prezados:
Segue texto publicado pela Cora Ronai no O Globo sobre iluminação da estátua do Cristo Redentor na cidade do Rio de Janeiro, no qual nosso amigo Miguez argumenta embasado. Vale a pena a leitura, abs

Pedro da Luz Moreira

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Prezados, convido a todos a participarem do 5o Painel Morar carioca: A cidade integrada
dia 16 de novembro de 2011 as 18:00hs
na sede do IAB-RJ
Rua do Pinheiro, 10 Flamengo
abs
Pedro da Luz Moreira

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Cidades Italianas

Dentro do tema da cultura da construção, as cidades italianas representam um capítulo especial. Dentro de uma grande variedade de ocupações, históricas, topográficas ou hidrológicas, há cidades onde o predominio construtivo é medieval, renascentista, barroco, neoclássico, eclético ou até mesmo moderno. Elas  se estruturaram como agrupamentos humanos consolidados, com importante presença de manifestações artísticas relevantes num periodo no qual as mudanças e transformações da cidade eram mais demoradas no tempo. Este fato foi determinante para que se construisse um patrimônio único, onde as ocorrências artísticas e singulares são contínuos representativos que foram sendo reocupados por diferentes atividades humanas ao longo de distintos ciclos sem que os objetos tenham sido demolidos ou reconstruídos.
Roma, a cidade eterna com seus atuais 2,5 milhões de habitantes, é talvez o testemunho mais emblemático deste processo. Constantemente novas ruínas são descobertas, revelando facetas novas de tempos imemoráveis. Apesar desta museificação constante e de um afluxo expressivo diário de turistas, a cidade permanece viva com uma diversidade de usos e de estratos sociais diferenciados em todo em seu território. Mesmo em seu centro, onde se concentra grande parte dos achados arqueológicos e dos marcos arquitetônicos e artísticos, Roma se demonstra uma cidade onde ainda há moradia de romanos, que determinam um cotidiano particular e próprio.

sábado, 17 de setembro de 2011

As Passagens de Walter Benjamim

O projeto do livro das Passagens de Walter Benjamim é um admirável esforço intelectual, enigmático e envolvente, mas também fragmentado, a obra inacabada pretendia construir uma filosofia material da história do século XIX. A pretensão era retomar uma metodologia da montagem na construção histórica, partindo das citações para se chegar a obra acabada. O texto escrito em 1935, Paris Capital do século XIX, faz parte do conjunto de fragmentos e parece ser um esboço dos temas a serem abordados, como um índice. A primeira menção ao texto é de 1950 por Adorno, criando em torno dele uma série de lendas e rumores. O projeto ocupou Benjamim nos últimos anos de sua vida, desde 1927 até 1940, quando cometeu suicídio na travessia dos Pirineus com medo de ser alcançado pela Gestapo. A estrutura fragmentada pretende destruir a pretensão de conferir qualquer sentido a história humana;

"Na realidade, não existe um único instante que não traga consigo sua chance revolucionária..." BENJAMIM, Walter - As Passagens - editora UFMG Belo Horizonte 2009

domingo, 11 de setembro de 2011

Dados interessantes sobre as torres gêmeas do 11 de setembro em NY

O Conjunto de Pruitt Igoe em St Louis

As torres gemeas em Nova York atacadas por terroristas em 11 de setembro de 2001 foram projetadas pelo arquiteto Minoru Yamasaki, o mesmo que projetou o conjunto habitacional de Pruitt-Igoe na cidade de St Louis, no Missouri nos EUA. Minoru Yamasaki recebeu uma série de prêmios por esta obra em St Louis, a mais importante delas do American Institute of Architecture (AIA) em 1951. Apesar disto, quando Minoru Yamsaki escreveu sua autobiografia em 1979, A Life in architecture, não havia qualquer menção a este projeto. Minoru Yamasaki havia expurgado o projeto de Pruitt Igoe até do seu currículo. Os motivos para tal expurgo se iniciaram com o crítico de arquitetura do Washington Post, Wolf von Eckardt, que apontava na arquitetura do conjunto as origens para a presença de uma enorme violência urbana na área. Outros detratores se somaram como Lewis Munford, Jane Jacobs e Peter Hall, que invariavelmente apontavam no conjunto o fracasso das propostas modernistas para a cidade. Em 15 de julho de 1972 o conjunto de Pruitt Igoe foi implodido e Charles Jencks, outro crítico de arquitetura celebrou este momento como a morte da arquitetura modernista e surgimento da pós modernidade. A implosão portanto ocorreu durante a vida de Minoru Yamasaki, ao contrário dos atentados às torres gêmeas, que ocorreram quando o arquiteto já estava morto.  Estudos posteriores apontaram que as causas da deterioração do conjunto habitacional não eram apenas causadas pelas determinações do projeto de Minoru Yamasaki, mas também pela ação premeditada de empreiteiros, políticos e autoridades locais. Apenas para ilustrar tal fato, um juiz da Suprema Corte americana ordenou a dessegregação do conjunto, apontando que as edificações eram exclusivamente ocupadas pelas camadas mais enjeitadas da população negra.

As torres gêmeas de Minoru Yamasaki

As torres gêmeas de Minoru Yamasaki possuíam fortes referências ao decorativismo abstrato da arte islâmica. Estas referências não se limitavam apenas ao desenho da fachada, que mostravam pilares, que hora se juntavam, hora se separavam na conformação das janelas.  No texto da sua auto-biografia, Minoru Yamasaki destaca explicitamente a origem islâmica de sua concepção, e sublinha como parte essencial do projeto a praça de cinco acres, que intermediava as duas torres;

"Os visitantes, bem como aqueles que trabalham no World Trade Center, encontrarão nesta five acre plaza uma Meca onde experimentarão um enorme alivio depois da experiência das ruas e dos passeios densos que envolvem a área de Wall Street" YAMASAKI, Minoru - A life in architecture - p 115, citado em TAVARES, Rui - O arquiteto - Martins Fontes São Paulo 2007
 Minoru Yamasaki havia trabalhado na Arábia Saudita, sendo o autor do projeto do aeroporto de Dahran. Certamente esta vivência havia construído esta lógica de contraposição entre o burburinho da rua e a intimidade do pátio. Mas aqui, também havia uma redução simplificadora, típica da hipertrofia consumista da Nova York de todos os tempos, onde compreensão ligeira de outras culturas aderia a novas formas de mistificação e idealização, que ao final impulsionavam os negócios e o consumo.




Nesta mesma perspectiva também é que deve ser compreendida a figura do egípcio, Mohamed Atta, piloto do primeiro avião a se chocar com uma das torres. Formado em arquitetura pela Universidade do Cairo, Mohamed Atta fez também um mestrado na Universidade de Hamburgo, onde se interessou pela cidade de Alepo, na Síria, que é um dos estabelecimentos humanos mais antigos do mundo.  A pergunta que hoje se faz, e que parece não estar documentada de forma adequada, é se Mohamed Atta tinha conhecimento da autobiografia de Minoru Yamasaki? E, quanto esta se demonstrou ofensiva frente as suas convicções islâmicas? Enfim, nosso passado recente precisa ser reconstruído, mostrando-nos os seu problemas e potencialidades.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

.:. Portal PUC-Rio Digital .:.

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Entrevista na revista O empreiteiro

http://www.revistaoempreiteiro.com.br/index.php?page=materia.php&id=1531

ENTREVISTA PEDRO DA LUZ MOREIRA TV BRASIL


O acidente nos bondinhos retrata a ausência de visão sistêmica nos transportes

A fragmentação das ações é uma das características mais marcantes dos nossos tempos, esta ausência de ações coordenadas e articuladas é fatal para o sistema de transportes de uma cidade metropolitana como o Rio de Janeiro. O acidente e o descaso com os bondinhos de Santa Teresa explicitam para o público em geral, que a gestão da Secretaria de Transportes do Estado é fragmentada e descoordenada, sem articulação dos diversos modais de transporte no território da cidade. As alegações do governador Sérgio Cabral e do Secretário Julio Lopes, de que os serviços do bondinho estão sucateados e esquecidos, denunciam o despreparo deste governo com o tema da mobilidade na cidade metropolitana. Afinal, o que está sendo feito em outros modais que justifique o descaso com o sistema de bondinhos? Por acaso, algumas das ações propostas pelo Plano Diretor de Transportes Urbanos (PDTU) da cidade metropolitana estão sendo implantados de forma incisiva, que justificasse o abandono do sistema de bondinhos? Creio que não.
Os modais de grande capacidade como metrô, trens urbanos e barcas não receberam nos últimos anos qualquer melhora significativa, tendo ao contrário deteriorado. A conclusão da linha 1 do Metrô proposta no PDTU, que fecharia este trecho num anel, dando mais eficiência aos intervalos das composições não foi concluída e sequer iniciada. A obra do metrô em andamento pretende ligar a Barra a linha 1, sem a correta avaliação dos seus impactos, e não estava prevista nersta forma no PDTU. A requalificação dos trens urbanos dos ramais da Central e Leopoldina também constante do PDTU, que poderiam beneficiar uma quantidade expressiva de pessoas na cidade metropolitana está paralisada e sem qualquer investimento. A quantidade de passageiros/dia transportados neste sistema de trens urbanos está estagnado há anos, apesar dos alertas de vários especialistas de que este modal requalificado poderia transportar grande quantidade de pessoas. A ampliação do serviço de transportes de barcas, previsto também no PDTU não está em andamento. As linhas propostas neste modal,  também por este documento, como; as entre a enseada de Botafogo, Praça XV e Aeroporto do Galeão ou Praça XV e Duque de Caxias, ou Praça XV e São Gonçalo não foram implantadas. Importante salientar, que todas estas ações previstas no PDTU de 2002 deveriam estar operando até o ano de 2012, e visavam melhorar a qualidade dos deslocamentos na cidade metropolitana.

Os políticos muitas vezes enveredam por ações desarticuladas, que produzem grande visibilidade e que negam as determinações do planejamento estruturado, buscando simplesmente ampliar seus votos. Esse tipo de prática é fatal quando se trata do sistema de transporte público de uma cidade metropolitana como o Rio de Janeiro, pois transforma o sistema numa colcha de retalhos de empreendimentos desconectados, que acabam prejudicando a eficiência na mobilidade das pessoas. O acidente no bondinho de Santa Teresa pode impulsionar um debate importante, sobre a interdependência entre os modais de transporte na cidade metropolitana do Rio de Janeiro.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Um bonde chamado Santa Teresa, utilidade e contemplação

No último sábado dia 26 de agosto de 2011, o bondinho de Santa Teresa na cidade do Rio de Janeiro sofreu um grave acidente, que matou cinco pessoas. Um dos acidentados era meu irmão, que sofreu um grave corte na orelha, que já foi sanado com uma intervenção de um cirurgião plástico. Artista de teatro de renome nacional ele se dirigia da minha casa neste bairro para o teatro Ginástico no centro da cidade, onde representava a peça de Tchecov junto com o Grupo Galpão, Tio Vania. A peça teve que ser suspensa e a cidade foi privada das apresentações deste grupo e das reflexões contidas no brilhante texto, no sábado e no domingo. É claro, que este impacto não significa nada diante da gravidade da perda de vidas e de acidentados mais graves, que foram ocasionados pelo evento.

A gravidade deste evento força nos a uma reflexão sobre como as autoridades públicas e a própria população tratam o transporte de passageiros nesta cidade. O bondinho há muito tempo faz parte do grupo de modais de transportes, que se destina apenas aos passeios contemplativos de turistas, sendo descartado pela população como modal objetivo de mobilidade, entre casa e trabalho. Esta situação foi determinada pela absoluta ineficiência dos horários e os tempos de deslocamento do bondinho, que não são consequências inevitáveis, mas que foram determinadas a partir do descaso das mesmas autoridades públicas com a modernização e manutenção do sistema. A população de Santa Teresa, através de sua associação de moradores, já se mobilizou diversas vezes pela manutenção do sistema de bondes, argumentando sempre pelo valor inestimável deste elemento na paisagem e na história do bairro. No entanto, o sistema vem sucessivamente sendo sucateado e depredado, acabando por se instalar uma desconfiança crescente com relação ao seu funcionamento. Agora, diante de uma sucessão de graves acidentes num curto periodo de tempo, se instala a desconfiança definitiva que se refere a segurança e a vida dos passageiros.

Neste sentido, acho que estrategicamente a população e a associação de Santa Teresa deveriam fazer adaptações na sua pauta de reinvindicações, passando a pleitear não só a manutenção do sistema, mas também sua modernização, para que o bondinho se transformasse num modal eficiente no transporte diário de sua população. O bonde é ainda um modal eficiente e turístico em cidades como Lisboa, Milão, Paris, San Francisco e Nova Orleans. A chave da questão me parece estar num atendimento mais equilibrado das dimensões do cotidiano e do espetáculo, ou deslocamento diário e turismo, que não são antagônicos.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Projeto, Ideologia e Hegemonia

Resumo:

O texto aqui apresentado segue a formulação de minha tese de doutorado e pretende relacionar as formas de operar do projeto de arquitetura e de urbanismo aos conceitos de ideologia e de hegemonia. A partir da análise das carências instaladas nas grandes metrópoles brasileiras, onde o problema habitacional permanece em aberto, a mobilidade do cidadão urbano é de baixa qualidade e os problemas ambientais são enormes é possível desenvolver uma ideologia propositiva. Esta deve pretender a mudança das tradicionais formas de operar destas mesmas cidades, desenvolvendo um conjunto de princípios contra-hegemônicos, uma forma de construção do território que tenha como pressuposto a inclusão social.

O projeto:

Projetar é tentar traçar com precisão o destino e a programação de algumas atividades, que constituem o escopo de uma transformação ou de uma obra. A palavra projetar está cindida pela preposição pro, que significa antever, prever, programar, e jactar, que significa lançar, atirar, promover. O projeto arquitetônico pretende controlar na proposta construtiva as intenções estéticas, o custo, o processo de contratação do arquiteto, dos demais projetistas e do construtor, tempo de obra, técnicas construtivas, compatibilidade e durabilidade dos materiais, etc.. No campo específico da arquitetura e do urbanismo, este movimento pode ser caracterizado como uma modificação do meio físico dado, para que melhor se adapte às prerrogativas humanas. O que significa e denota uma promessa de humanização do território, onde lançamos sobre este uma série de expectativas de ordenação, controle e entendimento. A especificidade do ato de projetar, onde expressão e formulação nunca se separam acaba contaminando a forma de pensar do arquiteto, que invariavelmente está envolvido numa análise que não é neutra, mas sempre comprometida com sua transformação ou modificação. A pretensão do pensamento arquitetônico ou urbanístico é deixar explícita que há uma forma de análise que não apenas descreve, mas sempre propõe sua mudança.
O homem desde de sua emergência enquanto espécie, interage com o meio ambiente de forma diferente que outros seres, tendendo a transformá-lo e até artificializá-lo para que logre maior conforto em sua existência. Contemporaneamente, podemos inclusive notar em alguns esforços humanos uma tendência para naturalizar e proteger algumas unidades espaciais específicas no interesse da preservação do planeta, que envolve; a sua própria espécie e outras. Esta tendência que emerge na contemporaneidade a partir da conclusão de que os recursos naturais não são inesgotáveis, procura realizar também o bem estar humano, começando a reverter sua tendência histórica a ser um predador do meio ambiente natural. Neste processo, é fundamental a estruturação e explicitação das idéias que norteam o projeto, de forma que ele possa convencer o conjunto ou parte da sociedade de sua relevância. Portanto, é fundamental que o projeto explicite suas intenções teóricas, enfim sua ideologia, e que se alinhe dentro do sistema geral de concepção do mundo, defendendo sua proposição de forma a ser socialmente convincente. A questão das regiões metropolitanas brasileiras é artigo de primeira necessidade, tornando-a uma matéria de interesse social amplo, que determina sua forte relevância no campo do projeto arquitetônico e urbanístico.

O conceito de ideologia

Na classificação desenvolvida pelo CNPq no sistema de Currículo Lattes, a arquitetura e o urbanismo aparecem como sociologia aplicada, esse posicionamento tem o mérito de revelar a permeabilidade social e portanto o caráter ideológico da profissão. O conceito de ideologia possui um dos mais complexos desenvolvimentos dentro do campo das ciências sociais, sendo interessante atentar para sua evolução mesmo que de forma ligeira e sucinta. Em 1801, o enciclopedista Destutt de Tracy, retomando idéias de Condillac, publica Elementos de ideologia, cunhando o termo pela primeira vez na história e configurando-o como um conceito carregado de positividade. Em 1812, o imperador Napoleão Bonaparte, reagindo aos conselhos desse grupo de pensadores, atribuiu um conteúdo pejorativo ao termo ideologia. Segundo Napoleão, os ideólogos agarravam- se a uma “tenebrosa metafísica”, que os afastava do “conhecimento do coração humano”. A grande maioria das pessoas passou a adotar o significado dado por Napoleão, e assim “ideologia” entrou para a linguagem corrente com uma caracterização negativa. A ideologia é um conjunto de idéias, que conformam uma visão particular de mundo de individuos ou grupos, estruturando e orientando sua prática cotidiana. O marxismo caracteriza a ideologia como uma visão de mundo particular de uma determinada classe, o que significa manter-se no lado negativo do termo. Em nossa proposição, a ideologia é também um pensamento fiel a uma situação falsa, que pode ser caracterizada como um bloqueio à plena realização da essência humana, isto é, o impedimento do potencial das aptidões que a humanidade desenvolveu historicamente. O conceito de ideologia é portanto uma necessidade no momento histórico em que sistemas de idéias se conscientizaram da parcialidade de sua montagem. A ascensão da sociedade burguesa é o momento da montagem deste cenário, pois como destacou o próprio Marx, tudo que há nela está em constante fluxo de transformação, onde a tradição foi descartada como força estruturante e articuladora. Alguns teóricos contemporâneos celebram este cenário e impulsionam o crescimento do ceticismo e do relativismo, afirmando que todo pensamento é parcial e sectário, sendo portanto ideológico. Neste sentido, a emergência nos tempos contemporâneos do termo ideológico desvenda uma clara angústia corrosiva, de que nossas verdades só são assim identificadas devido a nosso posicionamento num dado momento. Esta visão de mundo condiciona a prática operativa dos indivíduos e de grupos de indivíduos, apoiando sua forma particular de atuar. Aqui aparece a idéia de que a experiência imediata condiciona ou faz emergir um conjunto de crenças que gera uma espécie de falsa consciência ou apenas incompleta, que é a ideologia. Não há portanto possibilidade de superação da ideologia, uma vez que vivemos uma realidade cindida, por classes, por interesses ou por discursos legitimadores, que são incapazes de compreender a totalidade. Tal fato, determina que todos os discursos performáticos em nossa sociedade devem ser compreendidos como construções ideológicas, que estão portanto perpassados por interesses particulares. Assim, tanto o projeto quanto o plano, de arquitetura ou de urbanismo, em suas construções concretas são reflexos de estruturações ideológicas, que a partir de sua explicitação conseguem convencer o conjunto da sociedade de sua relevância e importância. Há neste impulso uma clara intensão de persuasão da sociedade para que esta se engaje num discurso que pretende a auto-justificação de seus esforços. Neste impulso de persuasão da sociedade, o tema das grandes cidades metropolitanas assume um papel central, que determina sua presença quase que única na auto-justificação das disciplinas do urbanismo e da arquitetura. Neste sentido é importante construir uma distinção entre ideologias progressistas, que propõem a mudança da forma estabelecida de operar da sociedade contemporânea no campo do urbanismo e da arquitetura e àquelas que propõem a manutenção do status quo.

O conceito de hegemonia

O desenvolvimento do conceito ideológico, ainda deve muito a outro membro do marxismo; Antonio Gramsci, que na verdade colocou no centro de suas preocupações não a questão da ideologia, mas a da hegemonia. Hegemonia eram as variadas formas; culturais, sociais e econômicas de como o poder governante consegue o assentimento dos governados, operando numa esfera que envolve a coerção e o consentimento simultâneos. A hegemonia inclui a ideologia, mas não se reduz a ela, fomentando nas democracias burguesas a ilusão do autogoverno por parte do povo. A distinção importante feita por GRAMSCI é sobre a forma de exercer o poder, que nas antigas sociedades feudais era exercido de forma explícita, enquanto que nas modernas sociedades burguesas era operado de forma dissimulada. Nos regimes feudais a nobreza manipulava e monopolizava as funções políticas, culturais e jurídicas, deixando a relação entre poder econômico e político de forma explícita. Nas democracias burguesas a simples necessidade de sobreviver elevou os aspectos econômicos à centralidade, fazendo com que a economia passasse a funcionar por si, fazendo com que o poder coercitivo fosse operado pela vontade de sustentação disseminada. Há na hegemonia gramsciana, como bem assinalou ANDERSON[1][1], uma excessiva celebração da sociedade civil, e um declínio de atenção pelas formas de operar do estado. Realmente a forma política que o Estado contemporâneo assumiu é a forma que viabiliza em todos os poros da sociedade a operação da coerção e do consentimento.
Mas a pergunta fundamental de GRAMSCI ao se fixar na conceituação da hegemonia, é como uma força emergente como o da classe trabalhadora atinge e exerce o poder, numa formação social em que as práticas cotidianas incutem em todos um poder sutil e dissimulado? Um poder intimamente entrelaçado com a cultura e presente em todas as esferas de nosso cotidiano, desde o Jardim de Infância até a Casa Funerária. O conceito de hegemonia dinamiza a idéia de ideologia, pois este último conceito passa a se referir à prática social vivida e costumeira, envolvendo a dinâmica cultural, social e econômica. Dentro do conceito de hegemonia, a ideologia passa a ter que ser continuamente renovada, recriada, defendida e modificada, pois está em luta com forças contra-hegemônicas. A hegemonia é um conceito relacional, vinculado a prática cotidiana, ela envolve toda uma ampla gama de estratégias práticas pelas quais um poder dominante é exercido pelo consentimento dos subjulgados. Esta dominação consensual foi utilizada em vários sistemas sociais e é inerente ao exercício do poder político, que para ser duradouro e bem fundamentado precisa atingir o consentimento dos subordinados. No campo da arquitetura e do urbanismo podemos compreender o desenvolvimento histórico destas disciplinas como uma sucessão de construções ideológicas variadas, que convenceram a sociedade de sua adequação, tornando-se formas hegemõnicas de projetar e construir.

Conclusão

A hegemonia aponta que um sistema de idéias de uma classe ou de um grupo de afinidades intelectuais exerce concomitantemente, um poder consensual e um poder coercitivo, sobre a sociedade. Consensual, porque o grupo político ou intelectual acata as determinações propostas, operando na prática segundo os preceitos adotados como hegemônicos, por outro lado, este também é coercitivo, uma vez que o grupo político e intelectual abre mão de outras formas de procedimento. No campo mais específico da arquitetura e da urbanística, a doutrina courbusiana, que vai da síntese construtiva da planta e fachada livre, dos cinco pontos da arquitetura moderna[2][2] à Carta de Atenas, exerceu sobre os arquitetos, até o segundo pós-guerra, um poder ao mesmo tempo consensual e coercitivo, uma hegemonia. Por outro lado, a hegemonia não deve ser encarada apenas como um conjunto de preceitos estéticos, ou de racionalidade construtiva, mas como um conjunto de idéias que contamina a forma de operar da sociedade. Podendo-se citar como exemplo o caso do rodoviarismo imperante no urbanismo, do segundo pós-guerra à crise do petróleo na década de 1970, que elegeu o carro como o principal meio de transporte. E, que tinha suas bases na idéia de “a cada habitante um veículo automotor”, ou na crença nos recursos inesgotáveis do planeta. Portanto, as categorias da ideologia e da hegemonia são poderosas ferramentas para compreender o desenvolvimento histórico da arquitetura e da cidade, e, também para tornar socialmente compreensível as opções contidas no projeto. Na verdade, a interpretação da premência da questão das cidades metropolitanas brasileiras, parte de uma análise que capacita este tema como forma potencial de geração da hegemonia, uma vez que instalada como necessidade operativa em nossa sociedade.

Os objetivos deste texto são possibilitar uma construção consciente do sentido e do direcionamento das diversas correntes que hoje operam no campo do projeto arquitetônico e urbanístico, explicitando para a sociedade suas intenções. A base física e concreta sobre a qual se desenvolve a pesquisa são as cidades metropolitanas brasileiras, e nestas as questões; habitacional, da mobilidade, dos centros históricos, da densidade e da convivência com biomas naturais. Sobre estas estruturas percebe-se uma construção real que na sua aparência denota uma ausência de planejamento, que na verdade é a ideologia das nossas elites, que sempre operaram de forma dependente com relação as nações desenvolvidas, promovendo a exclusão da maioria da população do país. A possibilidade de construção de um projeto alternativo, ou contra-hegemônico, que encontre um sentido de inclusão deve ser construída por uma ideologia que rompe com os procedimentos tradicionais de operação de nossas elites. Os próprios arquitetos, que se consideram como partícipes destas mesmas elites, se engajam muitas vezes na profissão sem uma verdadeira consciência da presença destas construções ideológicas. Neste sentido é fundamental a distinção entre ideologias que propõe a manutenção do status quo e aquelas que pensam nas possibilidades de transformação da operação. As questões da habitação, da mobilidade, dos centros históricos, da densidade e da convivência com biomas naturais assumem papel central nesta estratégia, devido a seu papel demonstrativo frente as possibilidades de transformação destas metrópoles.
A pretensão, portanto é construir este referencial ideológico, que explicita os agentes interessados na mudança ou na manutenção do status quo, possibilitando que arquitetos  posicionem seus projetos, tanto para a cidade como para as construções individualizadas de forma mais concreta e compreensível para o conjunto da sociedade. Este incremento da explicitação das intenções pretende intensificar a discussão sobre o meio construído pelo homem, de forma a possibilitar a ordenação deste debate, tornando as intenções da arquitetura e do urbanismo mais operacionais para o conjunto da nossa sociedade contemporânea. O desenvolvimento de uma teoria do projeto de arquitetura e de urbanismo, que explicite os conceitos de ideologia e hegemonia, identificando neles uma capacidade de colonizar as formas de operação da sociedade, pretende contaminar esta mesma sociedade para a relevância dos temas tratados nestas disciplinas, impulsionando sua manipulação social intensa.
A definição e delimitação do nosso objeto de estudo parte de uma conceituação mais precisa dos termos; ideologia, hegemonia e projeto, visando principalmente entender como a sociedade contemporânea os utiliza. Neste sentido é de fundamental importância compreender o tema das grandes cidades metropolitanas, que na sociedade contemporânea deve ter a capacidade de criar diferenciação de ocupação do território, propondo a inclusão dos agentes sociais.
A busca deste sentido se concentra sobre uma problemática especificamente brasileira, que se refere as nossas cidades metropolitanas. As diversas interpretações dos tres conceitos de - ideologia, hegemonia e projeto - deverão ajudar a construir uma visão da história recente da arquitetura e do urbanismo, auxiliando no traçado de um mapa de nossa contemporaneidade. No qual identica-se um papel central na questão do habitar, tanto na estruturação da cidade contemporânea, como também na percepção que a sociedade faz do papel dos arquitetos. A pergunta que estrutura todo este texto faz referência a questão do habitar contemporâneo, quais as suas premissas, quais seus objetivos e de que maneira pode-se recortar uma maneira específica de morar no mundo de hoje, que é diversa das outras épocas da arquitetura e do urbanismo.


[3][1] ANDERSON, Perry – The Atinomies of Antonio Gramsci – New Left Review no 100 novembro de 1976/ janeiro de 1977
[4][2] CORBUSIER, Le. Por uma arquitetura (tradução de Ubirajara Rebouças). São Paulo: Perspectiva, 1977.






quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Inauguração

A cidade parece ser o destino da humanidade no século XXI, no ano de 2008 a população urbana superou a população rural, segundo relatório da ONU. A cidade brasileira neste limiar do século XXI precisa se transformar, melhorando a distribuição de oportunidades em seu território. Precisamos ampliar a mobilidade das pessoas, gerar bairros onde haja diversidade de classes, reforçar antigas centralidades, reverter a dispersão interminável das cidades brasileiras, e aproximar o cidadão urbano de biomas complexos. A cidade e a política urbana brasileira podem ser instrumentos eficientes para distribuir renda e oportunidades.