domingo, 27 de dezembro de 2015

A cidade do Rio de Janeiro precisa de sombra urbana; árvores

A sequência de mapas mostra o armazenamento
de calor na cidade metropolitana nos anos 1980,
90 e 2000
A cidade do Rio de Janeiro possui uma luminosidade ímpar, a incidência de raios solares no verão carioca assume proporções altíssimas, determinando que superfícies suscetíveis a absorção de calor mantenham sua carga térmica alta mesmo depois de terminada a fonte da radiação solar. Em muitas superfícies da cidade constatamos a manutenção de altas temperaturas, que não se mostram capazes de dissipar todo o calor armazenado, mesmo após o periodo de uma noite inteira. A recorrência de um fenômeno climático típico do verão começa a se manifestar em amplas áreas da mancha urbana, denominado de ilhas de calor. As ilhas de calor são determinadas pela manutenção de altas temperaturas, mesmo depois dos horários de pico da irradiação solar (de 10:00 as 16:00 do dia), em comparação com áreas adjacentes mais sombreadas.

Em sua tese de doutorado, defendida em 2012, o geógrafo Andrews Lucena, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), estudou a evolução da ilha de calor da região metropolitana entre as décadas de 1980 e 2000. Sua conclusão: a região metropolitana do Rio de Janeiro não apenas é, em média, 7°C mais quente do que seus arredores, como o fenômeno acentua-se cada vez mais, sobretudo nas áreas pouco arborizadas e distantes dos maciços florestais que a cidade possui (vide mapas ao lado). Há efetivamente na cidade do Rio de Janeiro, trechos onde a presença da arborização urbana determina diferenças de temperatura substanciais. Por exemplo, na Rua Almirante Alexandrino no bairro de Santa Teresa e na mesma rua no trecho da Floresta da Tijuca, ou na rua Gomes Freire bem arborizada e a rua do Lavradio carente de sombra no bairro da Lapa, as diferenças chegam a 3 ou 4 graus centígrados.

Nesse ambiente a produção de sombra é de suma importância, principalmente nos espaço públicos,
como ruas, praças, largos e parques, para evitar que os materiais de revestimento recebam essa imensa carga térmica. O projeto de arborização da cidade deve ter um cuidado especial, procurando produzir contínuos sombreados, que evitem a incidência direta de raios solares sobre a materialidade da cidade, possibilitando um caminhar confortável nos diversos horários. Por isso, também é fundamental adequar as redes de fios e cabos aéreos a presença da arborização, sendo o ideal que ela seja enterrada para não prejudicar o desenvolvimento das árvores.

Praça Mauá, em frente ao Museu do Amanhã
Infelizmente essa não tem sido a preocupação de recentes espaços inaugurados na cidade, como o conjunto constituído pela Praça Mauá, o Pier Mauá e o Museu do Amanhã, que insistem num modelo de projeto no qual se identifica a competição entre edificação e arborização. As nomeadas praças secas, tão características da península ibérica (Espanha e Portugal) não se adequam ao clima tropical do Rio de Janeiro, determinando uma espacialidade inóspida, árida e ao final vazia. Enquanto nas duas laterais do Museu do Amanhã e na frente do Museu de Arte do Rio (MAR) se identifica uma arborização ainda incipiente pelo tamanho, mas adequada no seu espaçamento. Na frente do Museu do Amanhã se retoma a ideia de visualização do objeto arquitetônico sem a interferência da arborização, o que acaba por gerar um espaço árido.

Me parece, mais uma vez, que há uma idealização colonizada fora do lugar, querendo impor padrões de pensamento que não se adequam aos valores de uso efetivo. O Rio de Janeiro permanece querendo reproduzir modelos estrangeiros, sem assumir seu caráter particular e único...