sábado, 17 de setembro de 2016

Arquiteto Gustavo Restrepo da Colômbia faz discurso convincente em Manaus

Escadas rolantes em San Xavier Medellin*
A abertura do encontro do IAB nacional do II Congresso Internacional de Arquitetura e Sustentabilidade na Amazônia (IIArqamazônia), em Manaus foi feita pelo arquiteto colombiano Gustavo Adolfo Restrepo, trazendo um discurso convincente sobre a construção do ambiente humano, principalmente para as aglomerações brasileiras. Restrepo concentrou sua palestra sobre a questão da mobilidade urbana em nossas cidades, afirmando que a obtenção de melhores performances nessa área, garantem melhor qualidade de vida, ampliação significativa da auto-estima das pessoas, e incremento da sensação de pertencimento a um lugar. A receita de Restrepo serve como uma luva para o Brasil, segundo ele; planejamento continuado, participação social, uso intensivo de concursos públicos de projeto, e transparência nas montagens das parcerias público-privadas garantem a construção de uma espacialidade reformadora de práticas cotidianas inadequadas, ou seja uma nova cidade. Ainda segundo Restrepo um Estado que não improvise, que tenha um planejamento estruturado podem reverter situações de violência urbana instalada, territórios urbanos dominados pelo tráfico de drogas podem ser resgatados por essas ações.

"O urbanismo pode combater o narcotráfico..O uso arquitetônico permite que a família se empodere, criando lugares de esperança onde antes havia o medo." RESTREPO, 2016

Escadas rolantes em San Xavier Medellin*
O arquiteto destacou que o pilar da questão é a mobilização das pessoas, que com seu engajamento nas transformações geram a sensação de pertencimento inerente a uma cidadania plena, onde a auto-estima é ampliada de forma convincente. A palestra também abordou a necessidade de políticas continuadas de Estado, que transfiram às populações a confiança na reversão de descalabros comportamentais inseridos no cotidiano das comunidades menos favorecidas. O desenvolvimento de índices e parâmetros capazes de medir de forma sintética a evolução da qualidade de vida urbana são importantes para o monitoramento dos planos. Enfim, planejamento e participação são elementos fundamentais da gestão da cidade, pois constroem uma integração progressiva de comunidades excluídas.

"A chave é planejar para não improvisar. Não podemos fazer nada se a cada quatro anos se quer mudar tudo... Os cidadãos têm que fazer observatórios para acompanhar as políticas, com dados e informações”

Na verdade, o arquiteto apresentou as importantes transformações dos últimos anos, que a cidade de Medellin vem sofrendo, e que nas décadas de oitenta e noventa mostrava  um cenário de degradação e de ampliação do domínio do Cartel de Medellin, passando a ser modelo de construção de políticas públicas para o combate da violência urbana. O traficante Pablo Escobar chegou a ser eleito deputado federal, tendo sua posse acompanhada pelo então primeiro ministro espanhol, Felipe Gonzales, com uma clara demonstração de poder da economia do tráfico de drogas.

Importante salientar que na década de noventa, gestores públicos e arquitetos de Medellin visitaram a cidade do Rio de Janeiro, que então estava engajada no programa Favela Bairro, de urbanização de comunidades carentes. Um programa que chegou a ser reconhecido pelo Banco Mundial e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), como uma política notável na promoção da inclusão social. Naquela época os colombianos buscavam sintetizar uma política, que sinalizasse com um maior controle das áreas informais da cidade, os arquitetos colombianos então souberam desenhar uma política, que enfrentasse o problema da ocupação espacial. Se apropriaram de uma política para as áreas informais, dando um passo adiante, nos programas de urbanização de favelas, agregando a eles uma atitude mais sistêmica, referenciada aos modais de transportes e a uma melhor condição de mobilidade.

O arquiteto Gustavo Restrepo demonstrou que uma política urbana estruturada, que articula diversas questões do cotidiano espacial de nossas cidades, que promove o planejamento como ação do Estado, e que elege os concursos públicos de projeto como a forma mais democrática de definir a relevância de uma obra pública podem ser um importante fator para alcançar transformações sociais e um urbanismo sustentável. A qualidade da arquitetura e do ambiente espacial de nossas cidades são fatores fundamentais para a construção de uma cidadania consciente.

NOTAS:
As fotos são de Roberto Ghione, publicadas no texto do site Vitruvius Transformação social e urbanística de Medellin, acessível no link abaixo

http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/14.166/5177