quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Brasília e os pedestres

O eixão habitacional e sua clara celebração do automóvel
O Plano Piloto de Brasília possui uma diretriz rodoviarista, o desenho de Lucio Costa privilegia claramente o automóvel particular, evitando cruzamentos e sinais, favorecendo a velocidade e uma certa agressividade do tráfego sobre pneus, que não incentiva o caminhar do pedestre. No entanto, nota-se a cada dia mais forte, que os pedestres nessa cidade apresentam demandas por um desenho mais amigável para o seu caminhar, tais como; calçadas, faixas de pedestres e elementos de traffic calming. A cidade contemporânea celebra a presença do pedestre circulando, pois esse fato traz segurança, e é a materialização física da interação social, da vitalidade dos espaços públicos. O tombamento do Plano Piloto de Brasília, segundo definição do site do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) é do traçado urbano da cidade.

"O tombamento do conjunto urbanístico de Brasília pelo Governo Federal e Governo do Distrito Federal tem caráter específico: é, essencialmente, urbanístico e não arquitetônico. Ou seja, não há tombamento específico (individual) de prédios – exceto alguns poucos nominados individualmente (edifícios projetados pelo arquiteto Oscar Niemeyer, em sua maioria), que estão tombados. O que está sob proteção federal (tombamento histórico) é a concepção urbana da cidade, materializada na definição e interação de suas quatro escalas urbanísticas – monumental, gregária, residencial e bucólica. Portanto, o que se busca preservar são as características e a articulação dessas quatro escalas..." IPHAN

Particularmente, considero que um dos elementos mais potentes do desenho de Lucio Costa é o da definição da escala habitacional, as superquadras, particularmente a proporção e a escala dos edifícios com seis andares garantem uma qualidade espacial de grande expressão. A base argumentativa que Lucio Costa usou para definir essas dimensões no que concerne à altura das edificações, tinha uma base poética e pragmática. Segundo o urbanista, essa escala era de apenas seis andares, para ficar na dimensão do grito da mãe para chamar e convocar seus filhos nas áreas comuns das superquadras, para suas solicitações. Apesar disso, não há como negar as limitações para a circulação de pedestres, e o cruzamento entre as superquadras, principalmente quando há necessidade de cruzar o eixão, as duas asas. Há passarelas subterrâneas, que possibilitam esse cruzamento, no entanto elas não são seguras a todas as horas, e a cidade de uma maneira geral se ressente de um maior cuidado com o pedestre.

Setor comercial sul de Brasília
Há áreas, como setor comercial sul, onde a circulação de pedestres é intensa, pelo menos nos horários comerciais. A solução das galerias do "tipo" Agache, ao longo dos edifícios comerciais conseguiu atrair um comércio de rua com grande vitalidade. No entanto, o rígido zoneamento modernista também condiciona que a partir das 19:00 esse setor se esvazie de gente, se tornando uma área insegura. A promoção e incentivo de uma multifuncionalidade, com a atração de habitações para esse setor traria também o interesse do comércio dessa região se manter aberto até mais tarde, alcançando-se melhor vitalidade. Enfim, com relação a circulação de pedestres, há diferentes problemas em uma grande diversidade de lugares e particularidades, dentro do Plano Piloto, que precisam ser enfrentadas com inteligência e articulação de ações.

Mas, acho que já chegamos na hora de pensar em sobrepor sobre o desenho do doutor Lucio Costa, uma lógica de maior acolhimento ao caminhar do pedestre, quem sabe um concurso público de projetos, enfocando as diversas problemáticas do Plano Piloto, para possibilitar um melhor acolhimento. Considero que essa ação seria uma iniciativa que na verdade celebraria o desenho e o próprio tombamento da cidade modernista de Brasília, agregando uma lógica de inclusão social e de sustentabilidade para nosso patrimônio.


REFERÊNCIAS:

http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/618/