quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Visita a Arena do Morro dos arquitetos Herzog e De Meorun em Natal

O projeto completo dos arquitetos Herzog e De Meorun me Natal
A obra dos arquitetos Herzog e De Meorun em Natal, a Arena do Morro, na favela Mãe Luiza, que faz o papel de ginásio da Escola Estadual Dinarte Mariz é bastante provocadora e instigante, manipulando uma materialidade que capta a exuberante luz da capital potiguar de forma inusitada. A obra inaugurada em abril de 2014 é fruto de uma interessante reunião entre a Comunidade Mãe Luiza, o Centro Pastoral Nossa Senhora da Conceição, a Fundação Ameropa da Suíça, o escritório dos arquitetos suíços Herzog e De Meorun e a Escola Estadual. A intervenção faz parte de um conjunto de projetos desenvolvidos pelo escritório de arquitetura suíço para a favela, que certamente irá impulsionar a auto-estima dos seus moradores.

Os elementos; a quadra, a cobertura e os volumes curvos
A obra tem o mérito de investir numa simplificação compositiva de elementos sintéticos; a cobertura de dupla água, a quadra poliesportiva e polifuncional, e as formas curvas vedadas por elementos vazados, que tangenciam o uso principal. O caráter provocante e instigante é dado por uma imagem geral de grande permeabilidade e leveza dos elementos, que apenas pelas fotos transmite uma impressão de fragilidade construtiva e desabrigo geral. Na verdade, a obra comprova e reafirma que a arquitetura sempre demanda de nós a visitação presencial e a vivência da obra, pois só assim é possível formular o seu juízo. A minha atenção pela obra foi despertada pelos comentários dos colegas; Fabiana Izaga e Alder Catunda, que ao visitarem e comentarem o projeto expressaram um distanciamento de suas respectivas zonas de conforto. Já tinha observado fotos da Arena do Morro, e as imagens me transmitiam uma frágil sensação de ausência de abrigo, um limite extremamente frágil entre exterior e interior, se distanciando fortemente da produção corrente dos arquitetos suíços.

A incrivel captação da luz da capital potiguar na Arena do Morro
O terreno de esquina, o reaproveitamento de uma estrutura metálica pré-existente, que se acomoda a projeção construída de forma inteligente, marcam um forte ritmo e espaçamento das vigorosas tesouras de sustentação do telhado da Arena do Morro. Os elementos vazados de concreto, que conformam os volumes circulares limitadores verticais da quadra são magistralmente bem elaborados e acabados, conferindo a obra um caráter de uma beleza simples e despojada. Aliás, a obra comprova de maneira convincente, que a boa arquitetura não demanda uma materialidade sofisticada e cara, podendo atingir a boa qualidade com uma materialidade robusta e barata.

Detalhe do posicionamento dos panos de telhas na Arena do Morro
A vedação do telhado com telhas brancas posicionadas no sentido inverso de seu caimento demonstram também o apuro da obra, e sua sintonia com seu contexto, atitude distanciada da prática da maioria dos arquitetos do star-sistem, como Herzog e De Meorun, que invariavelmente reapresentam seus gestos de desenho requentados. A obra claramente se distancia da produção corrente da dupla de arquitetos, oferecendo uma solução carregada de novidades. A fresta alcançada entre panos de telhas contribui de maneira enfática tanto para a qualidade ambiental da obra, como também para a captação inusitada da luz natural da cidade de Natal. A dúvida, que me ficou com relação a essa solução é a sua capacidade de enfrentar de maneira apropriada os grandes e concentrados volumes pluviométricos dos trópicos, que segundo o vigia da escola não comprometiam seu uso.

A seguir apresento uma série de fotos que tirei no local... Além delas fui alertado por outro colega Luiz Fernando Freitas, que postou um comentário bastante elucidativo sobre a obra, relativo a autoria do projeto, e que aqui reproduzo; Projeto do escritório Herzog & de Meuron, com apoio e desenvolvimento da equipe local, composta pelos seguintes profissionais: Arquitetos - Lúcio Dantas (Coordenador), Verner Monteiro, José Carlos de Souza, Glênio Lima, André Alves, Lorraine Egito, Alice Ruck, Juliana Montenegro (Paisagismo) e Bernadete Lula (Ritur). Engenheiros - Márcio Medeiros (Cálculo Estrutural), Carlos Linhares e Raul Rebouças (Instalações prediais). Execução: AR Construções Ltda., através dos Engenheiros Edma Medeiros, Roberto Antunes e Antônio José de Oliveira. Mestre de Obras: Geraldo Dias. Serralheria: Aldomilson Pelé Soares. Formas de concreto: Imeco (Eng. Adília Aquino), Estrutura Metálica: Vulcano (Eng. Mec. Alexandre Câmara e Gustavo Costa), Pintura: Sherwin Williams. Blocos de concreto: PavBlocos (Eng. George Neves). Revestimento de Piso e paredes em granilite: Revindústria (Eng. Angelo Vilaça). Qualidade do Concreto: EEPC Engenharia (Eng. Martins Júnior). Iluminação: Lustres Projeto. Equipamentos esportivos: Pequita Sports. Esquadrias: Divmark (Sistema Neocom) e Pollyana Móveis (Ailton Azevedo). Obra de arte: Flávio Freitas. Cliente: Centro Sócio Pastoral N. Sra. da Conceição / Fundação Ameropa. 

Aspecto externo da Arena do Morro em Natal


A laje na extremidade da esquina na Arena do Morro em Natal


Detalhe do elemento vazado de concreto pré-moldado

Matéria no Jornal Nacional menciona escolas em Cuiabá com projeto feito no Rio Grande do Sul

Escola Polivalente em Uberlândia MG
Foi ao ar no dia 24 de setembro de 2015 matéria no Jornal Nacional da TV Globo, sobre o calor insuportável sentido pelos alunos numa escola na capital Cuiabá do estado de Mato Grosso, que tinha um projeto desenvolvido no Rio Grande do Sul. A escola apresentava uma série de sheads ou clarabóias, utilizados para captar a luz natural, que sofriam forte irradiação solar, conforme pode ser visto na íntegra da matéria, no link abaixo. As escolas na verdade são fruto de um acordo entre Brasil e EUA na década de setenta, portanto em plena ditadura militar, denominado MEC-USAID, que espalharam a mesma edificação por vários cantos do país.

A matéria é ligeira e não detalha essa origem despreocupada com o os diversos contextos onde elas foram realizadas, fazendo parte, na verdade da recorrente divulgação da agenda negativa, que perpassa o país contemporaneamente. Mas mesmo com esse projeto repetido e carimbado, me parece que a solução do problema é bastante simples, merecendo a contratação de um arquiteto com experiência na adequada produção de conforto térmico nas construções. Me parece, que bastaria a aplicação nos planos verticais dos sheads de venezianas de vidro, que permitissem a saída do ar quente, gerando uma circulação de ar constante, melhorando sensivelmente o conforto térmico na edificação.

Abaixo o link com a matéria, vale a pena checar...

 http://g1.globo.com/jornal-nacional/edicoes/2015/09/24.html#!v/4492388