domingo, 16 de agosto de 2015

O livro A Ética protestante e o "Espírito" do Capitalismo de Max Weber, Táxis e Uber

O livro A Ética protestante e o "espírito" do capitalismo de Max Weber olhava para mim impassível na prateleira de minha estante desde 2004, na sua versão traduzida por José Mariani de Macedo da editora Companhia das Letras do mesmo ano. Nesses nossos tempos de UBER contra táxis resolvi encará-lo, procurando algo capaz de esclarecer a imensa força daquilo que já foi conceituado como destruição criativa, tão presente no espírito do capitalismo e na peleja em questão.

Interessante assinalar que Weber escreveu uma primeira versão desse texto, publicando-o na revista Archiv für Sozialwissenchaft em dois momentos, uma primeira parte em 1904 e uma segunda parte em 1905, nas quais já contava a palavra espírito entre aspas, e, que na sua revisão de 1920 será suprimida. Também é importante assinalar que entre a primeira parte publicada em 1904 e a segunda em 1905, Weber visitou os EUA, conforme consta de um depoimento de sua viúva Marianne Weber;
"A primeira parte foi concluída antes da viagem à América, no início do verão de 1904; a segunda parte apareceu um ano depois e revela a influência dessas suas experiências recentes. Uma das tantas razões, com certeza não a menor, para que essas experiências tenham instigado Weber tanto assim foi que nos Estados Unidos ele pôde observar por todo canto os rastros vivos das origens do espírito do capitalismo moderno, e esse espírito mesmo na pureza de um ´tipo ideal."
A tradição do pensamento social alemão desde Marx parece reforçada pela comparação com o estrangeiro, a América do Norte, potência emergente no começo do século XX, que serve na construção do raciocínio como espelho da diferença, que mostra ao pensador alemão suas amarras e condicionamentos. No livro são constantes as citações de Weber a Benjamim Franklin, um dos father foudings dos EUA, uma das mais longas é usada para definir o "espírito" do capitalismo, que como um sermão define os pontos relevantes de uma prática cotidiana pretensamente exemplar.

Primeiro, "lembra-te que tempo é dinheiro", com a qual Benjamim Franklin condena o tempo livre quando se abre a possibilidade para vagabundear. Logo depois ele menciona "lembra-te que crédito é dinheiro", com isso defende a ideia de quem tem bom crédito pode fazer bom uso dele. Em terceiro determina, "lembra-te que o dinheiro é procriador por natureza e fértil." defendendo a ideia de que dinheiro bem investido produz mais dinheiro de forma independente. Em quarto menciona, " lembra-te que um bom pagador é senhor da bolsa alheia", no qual defende a idéia de rígido cumprimento do pagamento dos empréstimos, para garantir a continuidade do crédito. E, em quinto e último afirma, "guarda te de pensar que tudo o que possuis é propriedade tua e de viver como se fosse", no qual defende a ideia de uma justa contabilidade de receitas e despesas, para que se tenha consciência dos pequenos gastos cotidianos que se avolumam em grandes somas. Fechando toda essa pregação Weber conclui;
"'Do gado se faz sebo; das pessoas dinheiro', então salta à vista como traço próprio dessa 'filosofia da avareza' o ideal do homem honrado digno de crédito e, sobretudo, a ideia do dever que tem o indivíduo de se interessar pelo aumento de suas posses como um fim em si mesmo."
Outro aspecto importante do livro é a distinção feita dentro da ética protestante, entre o luteranismo dominante na Alemanha e o calvinismo presente na França, Holanda, Inglaterra e Nova Inglaterra (EUA). Na mesma direção de um pensamento social, que busca o outro para pensar sobre si mesmo, o alemão Weber identifica na doutrina calvinista o verdadeiro impulso do espírito capitalista, que continuamente promove o auto enrriquecimento. Mais uma vez, há aqui a presença de um posicionamento recorrente na sociologia alemã, que se envolve com uma baixa estima própria, ou complexo de vira-latas, na definição de Nelson Rodrigues. Penso no livro A ideologia Alemã de Marx, onde o grande pensador social alemão do século XIX se propõe a explicar o paradoxo entre o grande desenvolvimento da filosofia germânica, e seu atraso na construção do seu governo próprio. Afinal, o atraso alemão na constituição de seu estado nacional e na construção de uma democracia era um fato frente a França e a Inglaterra, que já haviam promovidos suas revoluções.

Mas o que parece ficar de uma reflexão complexa de Weber, que envolve estudos aprofundados sobre as diversas correntes do protestantismo, como o calvinismo, o prebisterianismo, o pietismo, e outras é que a ética da produção do auto-enriquecimento é um forte impulso do capital e das religiões da reforma, e que, quase sempre envolve uma tendência monopolista. Onde apenas poucos realizam essa tendência, e muitas vezes suprimindo com a concorrência, seja ela qual for.