quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Ainda sobre o Regime Diferenciado de Contratação (RDC) aprovado no Congresso Nacional

Obra do VLT de Cuiabá ainda inacabada
O RDC aprovado na Câmara Legislativa de Brasília no último dia 21 de outubro de 2015 de forma expedita significa um imenso retrocesso para a contratação, fiscalização e qualidade das obras públicas brasileiras, pois permite a contratação das empresas realizadoras de obras sem a pré-figuração de um projeto, apenas a partir de uma planilha orçamentária. A experiência no mundo todo demonstra, que o tempo dedicado ao plano e projeto de qualidade significa a melhora nos padrões de obra, com maior controle de orçamento e do prazo.

A MP enviada pelo executivo previa o Regime Diferenciado de Contratação apenas para as obras de segurança das Olimpíadas do Rio de Janeiro, tendo sido emendada pela Câmara para incluir “obras e serviços de engenharia relacionados a melhorias na mobilidade urbana ou ampliação de infraestrutura logística”*, o que significa a inclusão de um leque extremamente amplo de obras.

Essa forma de operar já foi testada nas obras da Copa do Mundo de 2014, acabando por gerar vários orçamentos aditados, cronogramas desrespeitados e outra série de obras inacabadas. No Rio de Janeiro o estádio do Maracanã que tinha a previsão de ser construído por R$600 milhões acabou ficando por R$1,2bilhões, um aditivo de cem por cento no valor inicialmente previsto. Em Cuiabá, a obra do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) prevista para ser inaugurada em 2014 patina ainda inacabada, penalizando a população da capital de Mato Grosso. A mesma cidade do estado de Mato Grosso convive com dezenove obras da Copa do Mundo inacabadas. Além desses exemplos todos, em 1998 a Petrobrás criou um sistema de licitação simplificado, muito semelhante ao RDC, possibilitando os esquemas denunciados pela Operação Lava-Jato, que está em curso.

Vários jornalistas tem demonstrado a inadequação da proposta com relação ao momento vivido no país. Abaixo dois desses exemplares; o jornalista Helio Gaspari com o texto O Paraíso para as empreiteiras e Beth Cataldo do portal G1, com a matéria Na contramão do controle e fiscalização das obras públicas. Abaixo os links dessas matérias.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/eliogaspari/2015/10/1699399-o-paraiso-para-as-empreiteiras.shtml

http://g1.globo.com/economia/blog/beth-cataldo/1.html

* Conteúdo retirado da matéria da jornalista Beth Cataldo

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Debate e exibição do filme Perimetral, Memória e Reflexão

Nessa segunda feira, dia 26 de outubro de 2015 foi reapresentada no auditório do IAB-RJ a projeção do filme Perimetral, memória e reflexão, do Laboratório de Mídias Urbanas (LAMUR) da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (EAU-UFF) com a participação da professora Thereza Carvalho também da EAU-UFF, que refletiu e estimulou o debate sobre as implicações e reflexões a que o filme nos remete.

A primeira questão já destacada aqui nesse blog, quando da primeira apresentação no auditório do IAB-RJ, é o domínio preciso da linguagem do documentário, por parte dos alunos do LAMUR. O filme demonstra como os alunos pretenderam documentar uma transformação importante da cidade do Rio de Janeiro, não apenas apresentando uma única visão sobre o tema mas uma pluralidade de visões e colocações. Ao final o maior beneficiário é exatamente o espectador, que compreende como o rodoviarismo exerceu um papel hegemônico no projeto da cidade brasileira, e, que apesar do simbolismo da demolição da Perimetral, ainda não foi construída uma outra cidade. Principalmente pela precariedade dos sistemas de transportes coletivos, que ainda não se estruturam numa rede capaz de convencer o cidadão de abrir mão do automóvel particular.

A segunda questão a ser destacada foram as reflexões da professora Thereza Carvalho, que sucederam a projeção, e que partiram do filme e de uma exposição de fotos de sua autoria sobre o mesmo tema. Dentre as quais destaco a conceituação da rua, da estrada, do viaduto e a consciência do movimento, enquanto na rua o tempo e a velocidade nos incitam a perceber e sermos percebidos em movimento, no espaço rodoviarista do viaduto somos instados apenas a partir e a chegar num efeito túnel. A fruição é suspensa para que se tenha apenas consciência da chegada e da partida, a objetividade do movimento suspende a compreensão. A velocidade e mesmo o engarrafamento no viaduto e na autopista apagam o movimento, restringindo nossa capacidade aos dois pontos; inicio e fim. Há uma objetividade produtiva e industrial, que nega o caráter da surpresa, da festa, da sociabilidade dos espaços caminháveis presentes nas ruas, principalmente nas calçadas.

Enfim, de tudo parece emergir que realizamos a destruição da perimetral, mas ainda não colocamos uma alternativa convincente no seu lugar...


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

A volta do Regime Diferenciado de Contratação (RDC) para as obras públicas. VETA DILMA...

Matéria do jornalista Hélio Gaspari
Na última quarta feira dia 21 de outubro de 2015 a Câmara Federal em Brasília aprovou o Regime Diferenciado de Contratação (RDC) para as obras públicas no Brasil, notadamente mobilidade, infraestrutura logística e segurança pública. Mais uma vez, erradamente o poder público no Brasil identifica na fase de projeto o principal responsável pelo atraso nas obras, que o país tanto precisa. Esse posicionamento, mais uma vez se manifesta apesar dos recentes problemas enfrentados pelas obras públicas para a Copa do Mundo, que apresenta uma série de obras inacabadas ou com seus orçamentos e cronogramas dilatados exatamente pela falta de projeto mais detalalhado. Apenas para citar um exemplo, o Maracanã no Rio de Janeiro passou de uma estimativa inicial de R$600milhões para R$1,2bilhão, sem que durante a polêmica fosse divulgada sua nova configuração ou projeto de forma clara.

O RDC permite que o poder público contrate a realizadora da obra - uma empreiteira - sem qualquer projeto, sem qualquer pré figuração, apenas a partir de uma planilha orçamentária. É efetivamente uma perversão, o Brasil passa a ter mais essa jabuticaba, nada contra elas; um local no mundo, onde a planilha orçamentária precede o projeto.

Tal situação demonstra o imenso poder das empreiteiras, que passam a ter um contrato de porteira fechada com o poder público, suprimindo-se a interlocução dos autores de projeto. Várias associações de arquitetos e engenheiros condenaram a prática, pois ela implica na supressão de interlocução e de debate sobre a adequação e o orçamento da obra, impondo um poder desmesurado às empreiteiras. O IAB-RJ e a rede do IAB nacionalmente defende há muito tempo, que os agentes que concebem a obra não sejam os mesmos que a realizam, para que se estabeleça um controle mútuo no canteiro de obras.

Algumas figuras da mídia se manifestaram contra a aprovação na Câmara Federal, como Hélio Gaspari e Anselmo Góis. Na foto acima mostra-se a matéria publicada na coluna de Hélio Gaspari no domingo dia 25 de outubro de 2015 no jornal O Globo, que conclama para uma pressão pelo veto da Presidenta.

VETA DILMA...

domingo, 25 de outubro de 2015

A palestra da arquiteta Cristina Garcez, radicada em Paris sobre as formas de contratação do projeto

Palestra da arquiteta Cristna Garcez no IAB-RJ
A arquiteta Maria Cristina Garcez, brasileira formada em Florença, e trabalhando atualmente na França fez uma palestra no auditório do IAB-RJ, nessa última terça feira dia 20 de outubro de 2015, sobre as formas de contratação de plano e projeto de urbanismo na França. A arquiteta comanda o escritório de estratégias territoriais, que está vinculado a dois ministérios do governo francês, o da Ecologia e Desenvolvimento Sustentável, e o da Habitação, Igualdade do Território e Espaços Rurais. Uma palestra notável, que demonstra como as ações de planejar e projetar são encaradas como fundamentais para que as obras e mudanças tenham transparência, controle e possam ser colocadas em uma matriz de prioridades. As questões ambientais da ocupação humana do território permearam todos os projetos apresentados, demonstrando a sua importância contemporânea.

Por outro lado, foi mostrado como a espacialização dos problemas, o projeto, possui uma enorme capacidade de mobilizar o interesse das pessoas, em contraposição à construção de diagnósticos exaustivos, que não objetivam as proposições. No Brasil, atualmente o desenvolvimento de qualquer projeto urbano envolve uma fase inicial de diagnóstico, ou de levantamento das condições do contexto em que se vai interferir. Cristina Garcez apresentou como item fundamental de sua metodologia, a explicitação inicial e primeira da intervenção, da mudança proposta, enfim do projeto, sem a construção exaustiva de diagnósticos, que não apresentam qualquer objetividade. É preciso começar a reconhecer que o trabalho de plano e projeto envolve uma maneira particular de enfrentamento do real. Ele na verdade é uma forma de conhecimento, que se arrisca em proposições, para o vir a ser de um determinado contexto, uma ação muito mais vinculada ao prognóstico, do que ao diagnóstico.

A vivência cotidiana dos problemas ambientais
Outro elemento fundamental da sua apresentação versou sobre a questão da escala dos projetos, que muitas vezes por sua dinâmica ambiental envolvem dimensões regionais; bacias hidrográficas, interfaces com marés, dinâmicas entre vales e montanhas, etc..A espacialização dos problemas torna-os mais acessíveis ao conjunto da população e ususários diversos, uma vez que eles são vivenciados no cotidiano de suas próprias vidas. O projeto humano de ocupação do território se inter relaciona fortemente com os problemas ambientais, dando-lhes o verdadeiro sentido de urgência da sua mudança, a partir do desenho ou da forma como se estrutura o campo, a cidade e os parques intocados.

O que foi notável na apresentação da arquiteta Cristina Garcez no IAB-RJ foi sua ênfase na questão do projeto, como um esforço inicial de confrontação de diversas hipóteses, que a partir da discussão e do debate afunilam para convergências que determinam; o que fazer.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O projeto do antigo edifício do BANERJ para receber a ALERJ deve ser de Henrique Mindlin Associados

Vista do edifício do antigo BANERJ que será ocupado pela
ALERJ
Recentemente foi publicado no jornal O Globo, que o antigo edifício do Banerj no centro da cidade do Rio de Janeiro será transformado para receber os gabinetes dos Deputados Estaduais da Assembléia Legislativa do Estado. Para tal, a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) montou uma licitação para contratação de projeto, por menor preço, tendo como base R$140mil, o que não está a altura das qualidades da edificação.

O edifício do antigo Banco do Estado da Guanabara (BEG) é um projeto do escritório de arquitetura de Henrique Mindlin, um estúdio que ainda está em funcionamento na cidade. Ao ser entrevistado pelo mesmo jornal O Globo declarei que a ALERJ deveria respeitar a autoria da edificação, contratando o autor do projeto original, a Henrique Mindlin Associados, por dispensa de licitação, uma vez que esse escritório possui um profundo conhecimento do organismo  arquitetônico. Já está mais do que na hora do poder público no Brasil reconhecer a autoria das obras de arquitetura, e respeitar o patrimônio construído do país.

O link abaixo mostra a entrevista no jornal O Globo on line;

http://oglobo.globo.com/rio/iab-contesta-licitacoes-para-reforma-do-banerjao-17849913

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Matéria na Rede Brasil sobre o Aterro do Flamengo

Matéria na EBC Repórter Rio sobre os 50 anos do Aterro
No último dia 13 de outubro de 2015 gravei no Aterro do Flamengo, na área do MAM matéria para a EBC Repórter Rio, sobre os cinquenta anos do Parque criado pelos arquitetos Afonso Eduardo Reidy e Burle Marx, que pode ser considerado um dos mais importantes trabalhos de paisagismo do Brasil. O Aterro do Flamengo se destaca por ser uma obra artificial, criada pelo homem, num cenário como o da Baía de Guanabara, que representa uma das mais belas paisagens do mundo. Num contexto, portanto que não tem nada de banal, pontuado pelo Pão de Açúcar, o Corcovado, o Outeiro da Glória, dentre outros, que configura uma paisagem emblemática dificil de ser enfrentada pelo projeto. Apesar disso tudo, o Parque do Flamengo apresenta um caráter quase natural, se adequando ao contexto de forma sensível e tocante, possibilitando aos seus usuários o desfrute de visadas deslumbrantes da Baía de Guanabara e das massas graníticas emblemáticas do seu entorno.

Haruyoshi Ono, eu, Gustavo Leiva e Julio Ono do escritório
Burle Marx
O Aterro do Flamengo também abriga uma série de obras arquitetônicas como, o MAM, o Monumento aos Mortos da 2a Guerra, a Marina da Glória, o Restaurante Rio´s dentre outras, reforçando esse caráter sofisticado de seu projeto, como um todo. O Aterro se inspira na Parkway implantada no final dos anos cinquenta no lado oeste e norte de Manhattan, que o precede. No entanto desenvolve uma interessante e particular segregação entre o tráfico de alta velocidade e os espaços dos pedestres, que constrói uma continuidade e conectividade para esses últimos. Numa decisão feliz do projeto da Parkway do Aterro do Flamengo; o tráfego de alta velocidade está rebaixado com relação ao nível do parque para pedestres, o que acaba por determinar um isolamento da primeira atividade, que não contamina o espaço das pessoas. O Parque do Flamengo foi realizado num momento rodoviarista, isto é de celebração do automóvel como principal modo de mobilidade, no entanto essa atitude de estratificação dos dois espaços garante uma qualidade ambiental única, não encontrada na Parkway de Nova York.

Na matéria gravada junto com o pessoal do escritório de paisagismo Burle Marx, que está renovando o Aterro do Flamengo na enseada de Botafogo procurei destacar que esse equipamento carioca de grande qualidade merece a devida manutenção e gestão, que lhe garanta segurança para seu uso, nas várias horas do dia.

Abaixo o link da matéria.

http://tvbrasil.ebc.com.br/reporterrio/episodio/escritorio-burle-marx-tem-projeto-para-revitalizar-enseada-de-botafogo

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O forte dos tres Reis Magos em Natal

Forte dos Reis Magos e a Ponte Newton Narvarro na foz do rio Potengi
O forte dos três Reis Magos em Natal é uma obra de arquitetura e engenharia militar, com um caráter excepcional, construído sobre os recifes na foz do Rio Potengi com o Oceano Atlântico na cidade de Natal, a capital do estado brasileiro do Rio Grande do Norte. Segundo diversas fontes, a construção do forte se iniciou em 06 de janeiro de 1598, por isso o seu nome dos Reis Magos, seguindo a tradição portuguesa de nomeação dos sítios a partir de sua chegada. A obra envolveu esforços notáveis, pois a construção sobre os recifes, num meio constantemente fustigado pelo mar deve ter mobilizado tecnologias e meios nada banais no século dezesseis. O forte foi inaugurado em 1602, quatro anos apenas após o início das obras

Vista do pátio central do Forte
 Apesar do feito, a obra como grande parte da arquitetura portuguesa possui uma singeleza impressionante, que é obtida por uma manipulação inteligente da escala, que lhe confere um aspecto grandioso e monumental, sem ser exagerado e grandiloquente. Na arquitetura colonial brasileira há outros exemplos, que atestam essa forma sensível de interpretar um determinado sítio ou lócus, conferindo a obra uma forte adequação ao sítio em que se implanta. A Igreja do Outeiro da Glória no Rio de Janeiro, ou o Adro de Bom Jesus do Matosinhos do Aleijadinho, na cidade de Congonhas do Campo em Minas Gerais são exemplos dessa manipulação sensível da escala, capaz de destacar elementos sem investir na grandiosidade. Há na arquitetura colonial portuguesa no Brasil uma concisão de recursos, que parece dar a certas obras um caráter essencial, onde todos os esforços não são desmedidos, mas precisos e adequados.

O marco português de fundação das cidades ultramarinhas no Forte em Natal
Essa implantação e atitude simples, mas capacitada a criar um domínio do território expressivo, contrasta com a prepotência e ostentação da nova ponte Newton Navarro sobre o Rio Potengi, que se localiza próximo ao forte. Uma ponte estaiada, como outras que surgiram na paisagem das cidades brasileiras dentro do contexto das obras para a Copa do Mundo de 2014. A idealização da ponte é de 1996, o início das obras em 2004, e sua inauguração em 2007, portanto muito mais tempo de projeto e obras, que o singelo forte seiscentista. Apesar desse maior tempo, a ponte segue uma atitude prepotente, com uma ostentação desnecessária, incapaz de compreender, interpretar e adicionar uma transformação sensível a um sítio notável, da foz do Rio Potengi na cidade de Natal.

A simplicidade, a singeleza e até uma precariedade de recursos parece produtora de uma melhor adequação ao sítio, uma lição que permanece válida para um país que volta e meia se envolve com sonhos de grandeza, que me parecem mais próximos de uma ostenatação desnecessária e desmedida. Os tempos são outros, os recursos são muito maiores, o programa e as demandas também, mas onde se perdeu essa capacidade de se adequar a um sítio, que não tem nada de banal?

sábado, 3 de outubro de 2015

Uma quadra habitacional para a cidade brasileira

A exposição Casa cidade mundo: a beleza possível no Centro Cultural Hélio Oiticica no Rio de Janeiro traz uma prancha com uma proposta minha, para uma quadra habitacional para a cidade brasileira. A ideia é enfatizar, que a casa não existe sem a cidade, assim como a cidade não existe sem a casa, uma relação dialética, que os dados quantitativos do déficit habitacional querem negar. O déficit habitacional brasileiro, que segundo dados da Fundação João Pinheiro em Minas Gerais está em 6 milhões de casas reduz o problema a uma mera questão quantitativa. Na verdade, a produção dessas 6 milhões de residências precisam estar inseridas num território urbano rico e pleno de diversidade, e a fixação desse dado não ajuda, mas confunde o real dimensionamento do desafio, que temos pela frente. A produção da cidade com qualidade, com uma ocupação do território que promova equidade e aproximação entre os diversos setores que compõem a sociedade brasileira é um imenso desafio.

A quadra proposta é apenas um ítem de uma política habitacional, que deveria ser mais ampla e articulada com as pré-existências como favelas, antigos contínuos implantados, áreas históricas, enfim com a cidade existente.Pesquisas recentes mostram que existem cerca de 30% de imóveis vazios em bairros consolidados como Copacabana no RJ ou Higienópolis em SP. Colocá-los no mercado faz parte da estratégia de tentar fazer frente aos 6 milhões de unidades do déficit.

A quadra proposta faz menção aos territórios onde será necessário construir o novo, mas ela se refere a elementos presentes em todas as cidades, portanto também ao existente; o lote, a quadra e a rua. Elementos da cidade, que estruturam nossa compreensão do privado e do público.

A abertura da exposição é nesse sábado dia 03 de outubro de 2015.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Visita a Arena do Morro dos arquitetos Herzog e De Meorun em Natal

O projeto completo dos arquitetos Herzog e De Meorun me Natal
A obra dos arquitetos Herzog e De Meorun em Natal, a Arena do Morro, na favela Mãe Luiza, que faz o papel de ginásio da Escola Estadual Dinarte Mariz é bastante provocadora e instigante, manipulando uma materialidade que capta a exuberante luz da capital potiguar de forma inusitada. A obra inaugurada em abril de 2014 é fruto de uma interessante reunião entre a Comunidade Mãe Luiza, o Centro Pastoral Nossa Senhora da Conceição, a Fundação Ameropa da Suíça, o escritório dos arquitetos suíços Herzog e De Meorun e a Escola Estadual. A intervenção faz parte de um conjunto de projetos desenvolvidos pelo escritório de arquitetura suíço para a favela, que certamente irá impulsionar a auto-estima dos seus moradores.

Os elementos; a quadra, a cobertura e os volumes curvos
A obra tem o mérito de investir numa simplificação compositiva de elementos sintéticos; a cobertura de dupla água, a quadra poliesportiva e polifuncional, e as formas curvas vedadas por elementos vazados, que tangenciam o uso principal. O caráter provocante e instigante é dado por uma imagem geral de grande permeabilidade e leveza dos elementos, que apenas pelas fotos transmite uma impressão de fragilidade construtiva e desabrigo geral. Na verdade, a obra comprova e reafirma que a arquitetura sempre demanda de nós a visitação presencial e a vivência da obra, pois só assim é possível formular o seu juízo. A minha atenção pela obra foi despertada pelos comentários dos colegas; Fabiana Izaga e Alder Catunda, que ao visitarem e comentarem o projeto expressaram um distanciamento de suas respectivas zonas de conforto. Já tinha observado fotos da Arena do Morro, e as imagens me transmitiam uma frágil sensação de ausência de abrigo, um limite extremamente frágil entre exterior e interior, se distanciando fortemente da produção corrente dos arquitetos suíços.

A incrivel captação da luz da capital potiguar na Arena do Morro
O terreno de esquina, o reaproveitamento de uma estrutura metálica pré-existente, que se acomoda a projeção construída de forma inteligente, marcam um forte ritmo e espaçamento das vigorosas tesouras de sustentação do telhado da Arena do Morro. Os elementos vazados de concreto, que conformam os volumes circulares limitadores verticais da quadra são magistralmente bem elaborados e acabados, conferindo a obra um caráter de uma beleza simples e despojada. Aliás, a obra comprova de maneira convincente, que a boa arquitetura não demanda uma materialidade sofisticada e cara, podendo atingir a boa qualidade com uma materialidade robusta e barata.

Detalhe do posicionamento dos panos de telhas na Arena do Morro
A vedação do telhado com telhas brancas posicionadas no sentido inverso de seu caimento demonstram também o apuro da obra, e sua sintonia com seu contexto, atitude distanciada da prática da maioria dos arquitetos do star-sistem, como Herzog e De Meorun, que invariavelmente reapresentam seus gestos de desenho requentados. A obra claramente se distancia da produção corrente da dupla de arquitetos, oferecendo uma solução carregada de novidades. A fresta alcançada entre panos de telhas contribui de maneira enfática tanto para a qualidade ambiental da obra, como também para a captação inusitada da luz natural da cidade de Natal. A dúvida, que me ficou com relação a essa solução é a sua capacidade de enfrentar de maneira apropriada os grandes e concentrados volumes pluviométricos dos trópicos, que segundo o vigia da escola não comprometiam seu uso.

A seguir apresento uma série de fotos que tirei no local... Além delas fui alertado por outro colega Luiz Fernando Freitas, que postou um comentário bastante elucidativo sobre a obra, relativo a autoria do projeto, e que aqui reproduzo; Projeto do escritório Herzog & de Meuron, com apoio e desenvolvimento da equipe local, composta pelos seguintes profissionais: Arquitetos - Lúcio Dantas (Coordenador), Verner Monteiro, José Carlos de Souza, Glênio Lima, André Alves, Lorraine Egito, Alice Ruck, Juliana Montenegro (Paisagismo) e Bernadete Lula (Ritur). Engenheiros - Márcio Medeiros (Cálculo Estrutural), Carlos Linhares e Raul Rebouças (Instalações prediais). Execução: AR Construções Ltda., através dos Engenheiros Edma Medeiros, Roberto Antunes e Antônio José de Oliveira. Mestre de Obras: Geraldo Dias. Serralheria: Aldomilson Pelé Soares. Formas de concreto: Imeco (Eng. Adília Aquino), Estrutura Metálica: Vulcano (Eng. Mec. Alexandre Câmara e Gustavo Costa), Pintura: Sherwin Williams. Blocos de concreto: PavBlocos (Eng. George Neves). Revestimento de Piso e paredes em granilite: Revindústria (Eng. Angelo Vilaça). Qualidade do Concreto: EEPC Engenharia (Eng. Martins Júnior). Iluminação: Lustres Projeto. Equipamentos esportivos: Pequita Sports. Esquadrias: Divmark (Sistema Neocom) e Pollyana Móveis (Ailton Azevedo). Obra de arte: Flávio Freitas. Cliente: Centro Sócio Pastoral N. Sra. da Conceição / Fundação Ameropa. 

Aspecto externo da Arena do Morro em Natal


A laje na extremidade da esquina na Arena do Morro em Natal


Detalhe do elemento vazado de concreto pré-moldado

Matéria no Jornal Nacional menciona escolas em Cuiabá com projeto feito no Rio Grande do Sul

Escola Polivalente em Uberlândia MG
Foi ao ar no dia 24 de setembro de 2015 matéria no Jornal Nacional da TV Globo, sobre o calor insuportável sentido pelos alunos numa escola na capital Cuiabá do estado de Mato Grosso, que tinha um projeto desenvolvido no Rio Grande do Sul. A escola apresentava uma série de sheads ou clarabóias, utilizados para captar a luz natural, que sofriam forte irradiação solar, conforme pode ser visto na íntegra da matéria, no link abaixo. As escolas na verdade são fruto de um acordo entre Brasil e EUA na década de setenta, portanto em plena ditadura militar, denominado MEC-USAID, que espalharam a mesma edificação por vários cantos do país.

A matéria é ligeira e não detalha essa origem despreocupada com o os diversos contextos onde elas foram realizadas, fazendo parte, na verdade da recorrente divulgação da agenda negativa, que perpassa o país contemporaneamente. Mas mesmo com esse projeto repetido e carimbado, me parece que a solução do problema é bastante simples, merecendo a contratação de um arquiteto com experiência na adequada produção de conforto térmico nas construções. Me parece, que bastaria a aplicação nos planos verticais dos sheads de venezianas de vidro, que permitissem a saída do ar quente, gerando uma circulação de ar constante, melhorando sensivelmente o conforto térmico na edificação.

Abaixo o link com a matéria, vale a pena checar...

 http://g1.globo.com/jornal-nacional/edicoes/2015/09/24.html#!v/4492388