terça-feira, 30 de abril de 2013

A questão da sustentabilidade das UPPs nas favelas cariocas

A questão levantada hoje na coluna do jornalista Merval Pereira, sobre a sustentabilidade das UPPs nas favelas cariocas é central no debate sobre a integração das populações carentes à economia formal, e à sociedade como um todo. Destaca o jornalista, que Beltrame, o secretário de segurança do governo estadual está "preocupado com as medidas sociais que considera indispensáveis para dar consequência às medidas policiais que estão sendo tomadas com sucesso na implantação das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) nas comunidades antes dominadas pelo tráfico de drogas." As medidas sociais mencionadas parecem estar mais lentas, postergando a resolução de questões sociais que não podem ser resolvidas apenas pela polícia. O papel da polícia, já várias vezes destacado por Beltrame, é criar um ambiente propício, para que serviços variados alcancem às favelas, construindo uma ambiente de confiança e auto-estima que promova a integração. Vale a pena a leitura...

http://oglobo.globo.com/blogs/blogdomerval/

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Leia o artigo Minha casa no país do carro zero - Sérgio Magalhães

Interessante as colocações do presidente do IAB a respeito do programa Minha Casa, Minha Vida, arquiteto Sérgio Magalhães. Enquanto não for dado protagonismo ao usuário, e a industria da construção civil não for instada a produzir de forma diversificada, gerando casas urbanas e não apenas abrigos, continuaremos repetindo o mesmo de sempre; dispersão urbana, e ausência de urbanidade nos conjuntos habitacionais.

 Clique aqui para ler o artigo



Minha casa, nossa cidade - Roberto Ghione

Interessante o texto de Roberto Ghione do IAB-PE sobre a produção da habitação no Brasil. A idéia de contraposição entre produto e processo dentro da lógica de produção da habitação de interesse social é bastante adequada, talvez envolva uma visão excessivamente dualista e simplificadora. Em todo caso, é claro hoje no desenvolvimento do programa Minha Casa, Minha Vida do governo federal a predominância da lógica do produto, frente ao processo. No atual panorama de nossa sociedade é importante desenvolver e privilegiar a lógica da produção, no entanto, não é possível descartar totalmente a outra lógica. No entanto, vale a leitura...

Minha casa, nossa cidade

Roberto Ghione
       
       Os processos de produção da casa popular brasileira respondem às ideologias que determinam os programas, mecanismos e instrumentos de ação, assim como aos interesses dos diferentes atores envolvidos.

            Dois conceitos permeiam a consciência política e social acerca da produção da moradia brasileira. Um a considera um produto, objeto de consumo que se comercializa dentro das leis de oferta e procura do mercado imobiliário. O outro a considera um processo de promoção social e de integração urbana da população menos favorecida.

            A concepção da casa como produto ou como processo é o reflexo de ideologias divergentes, cuja manifestação materializa-se na estrutura urbana da cidade e confronta comportamentos sociais diferentes, as vezes antagônicos.

            A transferência da modalidade de produção de um grupo social para outro evidencia conflitos de adaptação e apropriação do produto oferecido, disfarça os alcances e objetivos dos programas sociais e favorece os atores intermediários do processo em detrimento dos destinatários finais. Produzir a habitação de interesse social dentro das leis do mercado imobiliário, para grupos de baixo poder de compra, ou que atenda aos interesses das construtoras intermediadoras, resulta em produtos desqualificados como casas e inviáveis como cidades.

            Quando a ideologia de implementação dos programas favorece o produto em detrimento do processo se produzem conflitos de exclusão social e urbana provocados pela subordinação dos mesmos à relação custo-benefício, que desvaloriza a produção da própria casa em localizações periféricas e carentes de serviços urbanos, hoje evidente em inúmeros conjuntos construídos para o programa Minha Casa Minha Vida. Resulta contraditório gastar grandes quantidades de recursos públicos em produtos questionáveis (apesar da boa intenção de resolver o problema da moradia popular brasileira), assim como perder uma oportunidade impar de desenvolvimento social e integração urbana. A evidente falta de planejamento e alinhamento do programa com as necessidades de desenvolvimento das cidades, o predomínio da quantidade acima da qualidade e o encobrimento de um objetivo social para beneficiar o crescimento econômico e o lucro dos produtores, não faz outra coisa se não complicar os resultados sociais e urbanísticos desejáveis.

            O próprio nome do programa revela a ideologia que favorece o consumo do produto e não o processo: Minha Casa é o objeto, Minha Vida é o sonho. A repetição do possessivo singular de primeira pessoa, "minha", marca a necessidade de possuir e o estímulo consumista. Muito bom para quem produz; não tanto para quem tem que morar em conjuntos habitacionais carentes de condições adequadas de urbanidade e de integração efetiva com a cidade existente. Subordinar as soluções de arquitetura e urbanismo às condicionantes tecnocráticas de uma instituição de financiamento representa uma situação inadmissível, que pouco tem a ver com o fato de fazer cidade e de construir habitações qualificadas. A ausência de créditos para usos complementares, como comercial, de escritórios e outros, conduz à produção exclusiva de habitações sem favorecer uma consolidação urbana efetiva.

            Estimular o processo em substituição do produto implica considerar os mecanismos de construção da cidade, a integração de novos habitantes em bairros consolidados, as relações e vínculos preexistentes, a oferta de serviços, a garantia de mobilidade e acessibilidade, as relações de continuidade física e funcional, a configuração e qualificação da paisagem urbana, os modos de vivenciar as casas, edifícios e espaços de convivência, as adequações às condições culturais, climáticas, ambientais e topográficas, dentre outras situações, preocupações que a implantação de unidades padronizadas desconsideram em função da produtividade, quantidade, tempo político, lucro empresarial e ignorância acerca dos procedimentos urbanísticos e sociais implicados, assim como uma certa arrogância e preconceito acerca de como os "pobres" devem se comportar e viver na cidade. Os resultados exacerbam as diferenças e conflitos sociais e denigram a própria cidade, que é patrimônio de todos.

            Em relação à produção de arquitetura, a consideração do processo implica estimular a pesquisa tecnológica para a obtenção de sistemas de produção alternativos às ofertas convencionais do mercado, considerar tipos arquitetônicos e soluções adaptadas aos modos de vida e condições climáticas, topográficas e urbanísticas em substituição do "projeto padrão", assim como de todas aquelas manifestações que possibilitam a originalidade e criatividade inerentes à profissão dos bons arquitetos e urbanistas.

            Em relação aos processos sociais, a participação, o consenso e a democracia são procedimentos a serem estimulados em oposição à imposição de soluções "fechadas", burocráticas e padronizadas. Para famílias de carência extrema, os sistemas de autoconstrução e ajuda mútua permitem inserir as pessoas beneficiadas no mercado de trabalho através do aprendizado do ofício de construir, ao mesmo tempo que marcam o acesso a casa própria como uma conquista social.  

            Conceber o produto "casa" como meio de desenvolvimento social e urbano resultará em produtos arquitetônicos e urbanísticos com a qualificação ausente em muitas experiências recentes. Conciliar o anseio pessoal da "minha casa" com o sentimento solidário e participativo em relação a "nossa cidade" constitui um desafio que, com certeza, promoverá sociedades melhores em cidades mais justas, dignas e integradas.

Roberto Ghione é arquiteto e Diretor do IAB/PE

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Em vez do Cristo Redentor uma gatinha

Interessante gravura de 1920 da cidade do Rio de Janeiro, onde então existia o Chapéu do Sol, o mirante do topo do morro do Corcovado, antes da construção da estátua do Cristo Redentor. Ela mostra uma mulher seminua sobre o telhado do Chapéu do Sol. Seria uma homenagem às mulheres cariocas?

Gravura de 1920

Chapéu do Sol, abrigo que antecede a estátua do Cristo Redentor

terça-feira, 16 de abril de 2013

Resultado do Concurso da Estação Antártica

No dia 15 de abril de 2013 na sede do IAB-RJ foi apresentado o projeto vencedor do Concurso Nacional de Projetos, para a Estação Brasileira da Antártica Comandante Ferraz. O projeto vencedor possui a potência da simplicidade. Simples e bonito. Muito de sua força está expressa pela resolução da seção, o que me parece ser uma atitude de projeto vinculada a arquitetura paulista.


Seção do projeto vencedor da Estação Comandante Ferraz na
Antártica
O conjunto dos trabalhos apresentados é uma amostra interessante da capacidade da arquitetura brasileira de enfrentar um tema compromissado, com uma operatividade de construção em condições extremas, e, com a sustentabilidade. É uma amostra que deve ser publicada e debatida de forma mais aprofundada, pois possui valores simbólicos que acabam por representar o país internacionalmente. Além disto, é uma prática que deveria ser promovida de forma recorrente pelos órgãos públicos, o concurso de projetos de arquitetura.

Vista geral da Estação Comandante Ferraz na Antártica

Vista Geral da nova Estação Brasileira Comandante Ferraz na
Antártica

Da série cidades italianas: Bevagna

Bevagna é uma cidade no centro da Itália, no vale da Umbria, na província de Perugia, distante de Roma 148 quilômetros, localizada ao norte de Spoleto e ao sul de Assis. Duas cidades mais conhecidas das ordas de turistas que atualmente circulam pela Itália. Infelizmente não a conheço. A cidade é etrusca e suas origens remontam aos anos 80 e 90 antes de Cristo, a comuna permanece com sua muralha medieval. O que aqui deve ser destacado é que esta cidade com um patrimônio construído invejável, como testemunha a foto da
Bevagna, cidade entre Assis e Spoleto na Umbria
praça mostrada ao lado, não consta dos guias turísticos oficiais, como o Guia Folha de São Paulo da Itália. Apesar, desta espacialidade invejável desta praça, a cidade não consta dos destinos turísticos oficiais.

Talvez por isto é que muitas escolas de arquitetura ao redor do mundo a partir do século XIX, instituíram entre seus alunos o prêmio Roma ou Itália. No qual, o melhor aluno da instituição nos cinco anos de curso, com melhor desempenho, tinha o direito a passar um ano na Itália, com suas contas pagas, estudando este patrimônio construído invejável. Granjean de Montigny o arquiteto francês da missão francesa trazida por Dom João VI para o Brasil foi ganhador deste prêmio ao final de seu curso na academia francesa Outros arquitetos mais próximos de nossa contemporaneidade, como Venturi, também tiveram direito ao ano sabático em Roma ou na Itália.

Sem dúvida, um prêmio digno para qualquer amante do espaço construído pelo homem.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Artigo do Janot no Globo de 13-04-2013, boa leitura

O artigo do arquiteto e amigo Luiz Fernando Janot do dia 13 de abril de 2013, no Jornal O Globo, mostra como obras no Brasil vem sendo executadas sem o ancoramento numa cultura do projeto e do plano, que desempenha o papel de se antecipar ou antever, custos e benefícios da obra. O improviso e a execução sem o adequado planejamento acabam gerando obras descartáveis e de baixa qualidade. A planilha de preços é definida antes que os projetos estejam detalhados, ou pior antes que a adequação da transformação seja avaliada. A superficicialidade é a tônica, como estivéssemos diante de uma incapacidade de imaginar o vir a ser, o futuro. A análise com maior profundidade das infinitas possibilidades do futuro foi descartada em nome de um sentido de urgência. Esta prática acaba determinando uma cultura do descartável ou da obsolescência imediata.
O artigo de 13 de abril de 2013 do arquiteto e amigo Luiz Fernando Janot, boa leitura
O

sábado, 13 de abril de 2013

Vergonha do Transporte Público de Passageiros

Até quando as cidades brasileiras terão transportes público de passageiros de péssima qualidade. Os modais de alta capacidade, como os trens urbanos, estão constantemente apresentando problemas estruturais, que deixam os usuários inseguros e desconfiados. Não existem planos e projetos estruturados e articulados em andamento para realizar estas melhorias.

A Supervia na cidade metropolitana do Rio de Janeiro, possui uma rede de trilhos urbanos com uma extensão cinco vezes maior que a da cidade metropolitana de São Paulo. No entanto, a rede carioca hoje está transportando apenas 600mil passageiros/dia, enquanto a rede paulista transporta 1,2milhão de passageiros/dia. O investimento necessário para colocar esta rede de trens urbanos funcionando é muito menor do que o dispendido pela atual ampliação do Metrô para a Barra da Tijuca. Basta apenas redesenhar as estações existentes garantindo conforto e acessibilidade universal, comprar composições de trens modernos e garantir um intervalo de composições no padrão do metrô. A população beneficiada por esta melhoria dos trens urbanos cariocas, nos ramais de Santa Cruz, Deodoro e Caxias, que moram ao longo destes ramais chega 9,4milhões de pessoas. Enquanto, que na Barra da Tijuca e no Recreio dos Bandeirantes vivem apenas 180mil habitantes, sendo que o metrô chegará apenas ao Jardim Oceânico. Portanto, no começo da Barra da Tijuca.

Realmente é um descalabro, um crime de leso planejamento e orçamento. A população carioca deveria se mobilizar para cobrar dos governos uma atitude para reverter a atual situação.

Manchete do O Globo de 13-04-2013

Marx e Jenny em Londres em meados do século XIX

A biografia da familia de Marx, Amor e Capital da jornalista americana Mary Gabriel é um livro maravilhoso sobre a dura existência do casal Karl e Jenny. Karl Marx era filho de uma familia judia, que teve que se converter ao cristianismo, seu pai, Heschel Marx advogado optou pelo luteranismo, adotando o nome Heinrich, pois com a derrota de Napoleão em 1815, o governo da Prussia revogou os direitos dos judeus e oficialmente os excluiu do serviço público. A familia de Marx tinha entre seus membros desde o século XIV na Itália alguns dos mais importantes rabinos da Europa. A mulher de Karl Marx era Jenny Von Westphalen, filha de uma familia aristocrática, que reunia um barão prussiano e uma filha de ministro escocês, que descendia dos duques de Argyll e Angus. Apesar desta origem o pai de Jenny o barão Ludwig Von Westphalen admirava Saint Simon o fundador do socialismo francês.

A familia de Karl e Jenny, após vários exílios na Bélgica e na França e retornos a Prussia ou a Confederação Alemã, se instala em Londres no bairro do Soho na Dean Street, a um quilometro e meio da City. Este bairro em meados do século XIX era uma verdadeira cloaca, com condições de higiene muito piores que a pior favela brasileira contemporânea. Em 1853 a cidade de Londres foi castigada por uma epidemia do cólera, que matou apenas neste ano onze mil pessoas. Os motivos para tal proporção de óbitos foram descobertos por um médico do próprio bairro do Soho, John Snow, que descobriu vazamentos de esgotos para dentro de poços de água considerada potável. Um destes poços ficavam na Broad Street, rua que ficava a cerca de um minuto a pé da residência dos Marxs. A familia Marx perdeu no periodo londrino tres filhos vitimados por doenças diversas. As condições de salubridade do apartamento em Dean Street são descritas em vários trechos:

" A água corrente não chegava a mais de tres metros do nivel da rua, de modo que os Marx precisavam ir buscar água no térreo. Da mesma forma, não havia toalete conectado a caixa d´água central; as opções eram um vaso comunitário (que despejava tudo na fossa do porão) ou um penico dentro do apartamento."

A biografia da jornalista americana destaca a personalidade e inteligência de Jenny, assim como o carinho de Karl com seus filhos e com a própria mulher. É interessante perceber a sucessão de revoltas e rebeliões que as cidades européias sofreram e as restaurações conservadoras. De uma maneira geral, Paris representava a vanguarda com a Comuna de 1848, quer irá incendiar toda a Europa Central em seguida.  

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Mais uma da Igreja da Pampulha

Perspectiva do espaço interno da Igreja da Pampulha
A igreja da Pampulha de Oscar Niemyer é uma das mais interessantes criações deste arquiteto brasileiro, dotada de uma simplicidade potente. Ela é destas obras de arquitetura que já se inscreveram neste imenso patrimônio construído pelo homem. Certamente daqui a alguns anos ela será reconhecida como uma obra singular e única, apesar de manipular elementos tradicionais vinculados ao sagrado. 

Sua implantação voltada para a frente aquática da lagoa, de costas para a avenida que a margeia é hoje evidente, mas é um das mais importantes escolhas do jovem arquiteto carioca.

Sua estrutura em casca de concreto é, como assinalou BRUAND, uma das primeiras a serem aplicadas fora dos temas da engenharia, como nos hangares do francês Freyssinet, ou nas pontes do suíço Maillart. A simplicidade da solução estrutural, que constroe e reproduz a nave central da igreja é um gesto de projeto tão despojado e direto, que parece uma evidência óbvia e fácil. 

A captura da luz e a hierarquização das abóbodas e cascas, presentes nesta obra, são uma lição de escala e proporção única. A manipulação de toda a materialidade aplicada ao conjunto da obra é testemunho de um cuidado com o envelhecimento da obra, que o mestre no futuro irá abandonar. Por tudo isto, a Igreja de São Francisco na Pampulha de Oscar Niemyer merece entrar no restrito mundo das grandes obras humanas.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

A igreja da Pampulha

A Igreja de São Francisco de Assis na Pampulha, projetada pelo arquiteto Oscar Niemyer é uma das mais belas obras da história da arquitetura moderna. Dotada de uma espacialidade única e original, que manipula os elementos tradicionais do tema das igrejas católicas (nave, coro, altar, campanário, etc...) Ela demonstra logo cedo a capacidade e o controle do ofício da arquitetura, pelo jovem arquiteto carioca. A igreja é de 1943, quando Oscar Niemyer tinha apenas 38 anos. A estrutura em casca de concreto com panos fechados, contrasta com a leveza do campanário e da laje de acesso à nave central. 

Fachada da Igreja de São Francisco de Oscar Niemyer




Forma das cascas da Igreja de São Francisco

Há uma antiga história repetida em BH pelos moradores da Pampulha, de que a igreja demorou a ser consagrada, pois o bispo da cidade via em sua fachada uma foice e um martelo...

Pampulha, obras do Oscar Niemyer

A biblioteca do IAB-RJ possui um exemplar de uma publicação da Imprensa Nacional de 1944 sobre o novo bairro da Pampulha em Belo Horizonte. Nesta aparece uma foto de Juscelino Kubitschek (prefeito de BH), Benedito Valadares (governador de Minas Gerais) e Getúlio Vargas (presidente do Brasil) subindo a rampa do Iate Clube.

 




Getulio Vargas, Benedito Valadares e Juscelino Kubitcshek sobem a rampa do Iate Clube na Pampulha


O texto de apresentação da publicação é uma verdadeira pérola do compromisso modernista do então Prefeito de Belo Horizonte, Juscelino kubitschek, no qual fica claro o compromisso de construir o "domínio do homem sobre a natureza", ou, a sucessão de administrações da cidade que "não representam uma dádiva fácil das circunstâncias naturais", ou ainda, na "dupla função utilitária e decorativa". 

O texto também é testemunho da constante melancolia mineira que vive apartada do mar, pois faz uma analogia da Pampulha com um "sonho Atlântico entre as montanhas", que ao final também denota esta mesma capacidade de transformar a natureza em favor dos desígnios humanos...


Texto do prefeito de BH Juscelino Kubitschek de Oliveira numa publicação de 1944 sobre a Pampulha

"Centro geográfico de Minas, Belo Horizonte condensa a vida econômica, política e social do Estado. Entre menina e moça, caracteriza-se pela modernidade de suas linhas e relevos. Com efeito delineada há quarenta e cinco anos, à beira do sertão virgem, é tão nova que ainda se lhe percebe o cheiro da terra lavrada de pouco. Mas já exubera em realizações: grande cidade povoada de cerca de duzentos e cinquenta mil habitantes, agita-se, produz, estuda, diverte-se, amplia-se e prospera.
Obra de audácia e tenacidade, Belo Horizonte assenta-se no domínio do homem sobre a natureza, que a emoldura de híspidas montanhas de ferro. Os elementos essenciais, de que já dispõe a fartar a cidade azul e verde, foram acumulados e disciplinados pela energia de suas administrações, e não representam uma dádiva fácil das circunstâncias naturais.

A dez quilômetros do centro da cidade, a Pampulha corresponde a uma destas concepções do gênio e do esforço dos homens que a edificaram: um lago artificial circundado por uma avenida de quase vinte quilômetros de extensão, ali rebrilha, como uma placa de cristal, à luz do céu - espelho do mar longíquo - com uma dupla função utilitária e decorativa.
Reserva de milhões de litros d´água para a cidade que se agiganta, a Pampulha realiza, ali, um sonho do Atlântico entre as montanhas. O Cassino, o Baile, o Iate Golfe Clube e o Parque em construção, em meio das vivendas que se debruçando sobre o lago, completam, no soberbo conjunto, o núcleo turístico, em função do qual os homens submetem, por fim Belo Horizonte, integralmente, ao seu signo de modernidade."













A barragem da Pampulha em construção













Cassino da Pampulha, atual Museu de Artes



 

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Primeira Mesa de Debates do Seminário Q+50 A Moradia brasileira

No dia 05 de abril de 2013 reuniu-se na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, no contexto do Seminário Q+50 A Moradia Brasileira, a mesa redonda composta por; Pablo Benetti, Elizabeth França e Claudia Pires mediados por Pedro da Luz Moreira. 

Pablo Benetti apresentou uma evolução do debate em torno da produção da Moradia Brasileira, especificando cinco momentos desta produção; O Modernismo, O BNH, O Conjunto do Cafundá, O Favela Bairro e o Momento Atual. Pablo destacou que a produção da Moradia Brasileira deve se pautar pela construção de urbanidade, que garanta a reprodução familiar no contexto da cidade.

Elizabeth França destacou o nome dado ao Seminário em pauta - A Moradia Brasileira - sem a adjetivação da habitação social. A arquiteta também enfatizou que é necessário dar protagonismo às familias e comunidades, permitindo que estas escolham os locais e os arquitetos que desenharão suas moradias.

Claudia Pires assinalou o momento atual, como uma oportunidade única para a produção da moradia no Brasil, uma vez que estão disponíveis um instrumental poderoso, como o Estatuto da Cidade, a Lei de Assistência Técnica, a NBR 15575, os Planos Diretores e o Minha Casa, Minha Vida. A sinergia que poderá ser obtida pela manipulação deste instrumental é única e potente para mudar a face das cidades brasileiras.

Claudia Pires, Pedro da Luz Moreira, Pablo Benetti e Elizabeth França no de bate Q+50 - A Moradia Brasileira

Mais alguns exemlos do acervo arquitetônico da cidade de Rio Grande

Edifício dos Correios e Telégrafos
 
Exemplos de boa arquitetura na cidade de Rio Grande no estado do Rio Grande do Sul, de diversas épocas e periodos, que mereciam estar destacados pelo desenho urbano da cidade. O Teatro Carlos Gomes é hoje uma loja da cadeia nacional do Ponto Frio. Será que este exemplar era o antigo Teatro de Ópera da cidade? 



domingo, 7 de abril de 2013

A cidade de Rio Grande no Rio Grande do Sul

A cidade de Rio Grande ao sul de Porto Alegre é um interessante exemplo da rede de municípios do Brasil e do seu potencial turístico e cultural. Localizada na foz da Lagoa dos Patos, é um importante porto brasileiro e a mais antiga cidade do estado do Rio Grande do Sul, fundada em 1737.

Ela possui um patrimônio arquitetônico invejável, com exemplares importantes de diferentes periodos e sensibilidades. No entanto, a cidade como outras no Brasil, se ressente de uma articulação estruturada entre estes exemplares, que poderia ser obtido com um tratamento adequado do seu espaço público, ruas e calçadas. Este tratamento do espaço público permitiria ao visitante desfrutar destes exemplares de forma mais confortável, valorizando de forma importante este patrimônio. Além disto, alguns exemplares como a antiga Alfândega não podem ser visitados no seu espaço interno. O poder público deveria procurar novos usos que permitissem ao visitante desfrutar desta espacialidade interna, oferecendo aos seus visitantes este importante patrimõnio arquitetônico.

Abaixo a antiga Alfândega e o mercado de peixe da cidade de Rio Grande.


Seminário na cidade de Rio Grande no Rio Grande do Sul discute a produção de moradia no Brasil

O Seminário Q+50 discute a produção da moradia no Brasil contemporâneo. Dentre as propostas que circulam nas salas de debate há um cardápio de alternativas para reformar o programa do Governo Federal denominado Minha Casa Minha Vida (MCMV). Dentre elas destaco o decálogo abaixo:

1. Conferir protagonismo à familia para que ela escolha seu financiamento, seu bairro e sua moradia
2. Promover empreendimentos inseridos na cidade existente, onde exista mistura de usos e rendas
3. Pulverização em pequenos empreendimentos das iniciativas
4. Garantir a universalização dos serviços públicos (água, esgoto, lixo, iluminação, etc...) em todas as partes da cidade brasileira
5. Articulação do Programa MCMV com pré-existências como favelas e aglomerações populares, promovendo sua integração
6. Não admitir a expansão da cidade existente
7. Gestões efetivas baseadas no Estatuto da Cidade para controlar o valor da terra urbana
8. Ampliar e divulgar as opções de financiamento
9. Empoderar os municípios na promoção dos empreendimentos do MCMV
10. Conferir protagonismo ao Plano e ao Projeto como instrumentos capacitados para avaliar os custos e benefícios dos empreendimentos.

Promovido pelo IAB, a segunda edição do ciclo Seminários de Política Urbana Q+50, que tem como objetivos reforçar a agenda política das cidades e das metrópoles brasileiras e comemorar os 50 anos do histórico Seminário Nacional de Habitação Urbana, realizado no Hotel Quitandinha em 1963
. As próximas edições serão em São Paulo, Brasília, Minas Gerais, Bahia e Amazonas.

PUI São Domingos em Medellin

sábado, 6 de abril de 2013

Entrevista sobre incêndio na região do SAARA

Entrevista sobre o incêndio na região da Sociedade Amigos e Amantes da Rua da Alfândega (SAARA) ocorrido antes da Páscoa de 2013. Houve edição dos meus comentários, truncando um pouco as idéias apresentadas. O que falei na entrevista e que não foi ao ar foi que o Programa do Corredor Cultural havia sido um grande sucesso para requalificação das fachadas na região, que agora era importante promover alguma fiscalização por parte das concessionárias e poder público das instalações elétricas...

http://tvbrasil.ebc.com.br/reporterrio/episodio/proprietarios-enfentam-dificuldades-para-restaurar-e-conservar-casaroes-do#media-youtube-1

quinta-feira, 4 de abril de 2013

DRESDEN UMA CIDADE BARROCA

Dresden é uma cidade barroca na Europa. Esta classificação pode ser observada considerando dois diferentes autores como GOITIA, Fernando Chueca - Breve História do Urbanismo, BENEVOLO, Leonardo - A cidade na História da Europa. A cidade barroca é a cidade do príncipe ou do poder absoluto, submetida a um eixo perspéctico único, ou pelo menos a um sistema de eixos. BENEVOLO cita que ela foi reconstruída em 1685 após um incêndio, dentro dos princípios do eixo perspéctico barroco. GOITIA menciona que a perspectiva é uma vontade de organizar o poder em torno do príncipe, e cita Dresden como um dos mais belos espaços barrocos da Europa. Ela foi residência do príncipe da Saxônia, que é um dos reinos da Confederação Germânica, que irão no final do século XIX compor a futura Alemanha. Isto significa que assim como Turim na Itália, que também é uma cidade barroca, Dresden é uma cidade estado, e teve a necessidade de representar em seu território esta demonstração do poder, como outra qualquer capital. Os dois livros; BENEVOLO, no capítulos 5 A difícil adequação as regras da perspectiva e GOITIA, no capítulo 7 A cidade barroca, são interessantes referências para compreender o fenômeno da cidade barroca como representação do poder.

Os principais monumentos e marcos históricos da cidade de Dresden são; A igreja Frauenkirche, o Zwinger, a ópera de Gottfried Semper, os castelos do Elba ou a cidade jardim Hellerauer Gartenstadt. A ópera de Gottfried Semper (*1803, +1879) já é uma manifestação do ecletismo, com uma maior carga racional , ligada ao Iluminismo Alemão. Este arquiteto irá escrever um tratado importante de arquitetura, típico do século XIX ligado ao iluminismo alemão que abriga figuras incríveis como Schinkel, Wagner (músico) e ele. O livro de FRAMPTON, Kenneth, Studies of Tectonic Culture menciona esta corrente no capítulo 3, The Rise of Tectonic: Core Form and Art Form in the German Enlightenment, 1790-1870. Semper será um importante teórico da arquitetura, construindo uma importante vertente que articula uma objetividade construtiva a estudos arqueológicos e culturais, fundando a idéia da poética tectônica.

Além disto a cidade de Dresden foi inteiramente destruída pelas bombas aliadas na 2a guerra mundial, apesar de não ser um alvo militar importante, pois me parece era uma cidade universitária, sem instalações estratégicas como industrias ou divisões do exército alemão.

Contemporaneamente a cidade de Dresden vem recebendo uma série de intervenções de arquitetos europeus contemporâneos, como Normam Foster, que projetou a estação central de trens a Hauptbahnhof  E, Peter Kulka projetou o telhado transparente para o pequeno pátio do castelo Residenzschloss, e Daniel Libeskind foi responsável pelo projeto da ampliação e reforma do Museu de História Militar.


A Ópera de Gottfried Semper em Dresden


A abóboda celeste do Rio de Janeiro precisa ser olhada com mais profundidade. A cúpula que nos cobre está constantemente sendo neglicenciada. A arquitetura desta cidade precisa reconhecer as especificidades próprias que a compõe, olhando além da sua escala. Talvez seja importante ler ARGAN, Giulio Carlo, na sua descrição da abóboda celeste de Florença e sua relação com a cúpula desenhada por Bruneleschi:
"Vasari foi o primeiro a observar que a cúpula de Santa Maria del Fiore não deveria ser relacionada apenas ao espaço da catedral e respectivos volumes, mas ao espaço de toda cidade, ou seja, a um horizonte circular, precisamente ao perfil das colinas ao redor de Florença: 'Vendo-se ela elevar-se em tamanha altura, que os montes ao redor de Florença parecem semelhantes a ela.' Portanto, também está relacionada ao céu que domina aquele horizonte de colinas e contra o qual 'parece que realmente combata - e na verdade, parece que o céu dela tenha inveja, pois sem cessar os raios todos os dias a procuram'."

Abs Pedro

terça-feira, 2 de abril de 2013

 Hoje dia 02 de abril de 2013 dei uma entrevista sobre o incêndio nos sobrados da região da Rua da Alfândega do Rio de Janeiro. Não sei se a TV irá disponibilizar a entrevista que foi ao ar, mas acho este debate importante, tanto pela preservação da sua arquitetura, como também pela vitalidade econômica da área.