domingo, 8 de junho de 2014

A cidade de Lobito em Angola

Vista geral da cidade de Lobito
Do dia 05 de junho até o dia 07 de junho de 2014 realizou-se em Angola na cidade de Lobito a 50a Reunião do Conselho da União Africana dos Arquitetos, que tem como tema, O Homem e o território. Vim para esse encontro, para atrair apoios para o Congresso Mundial de 2020 da União Internacional dos Arquitetos no Rio de Janeiro, Brasil. É a primeira vez que venho a África. A cidade de Lobito tem um ar de balneário, apesar de ser o segundo porto em importância de Angola. A cidade possui um sítio interessante, dominado por uma grande restinga, que configura de um lado o mar aberto e de outro a baía protegida que lhe serve de porto. A área mais antiga da cidade está localizada nessa restinga, bem como na sua conexão com o território.

Igreja de Nossa Senhora da Arrábida em Lobito Angola
 A influência da arquitetura portuguesa nas construções da cidade é um fato. A Igreja de Nossa Senhora da Arrábida, mostrada acima, é do arquiteto português Vasco Regaleiro (1897-1968), sendo um legítimo representante dos estilos historicistas e de restauração da tradição, do início do séculoXX. Ela também mostra muito da singeleza da arquitetura portuguesa, que ao contrário da espanhola, não se envolve com grandiloquências desmedidas, e mostra invariavelmente uma sensível adequação á escala humana.

Edifício dos Correios em Lobito
Outra presença forte na cidade de Lobito é o Art Decô, que possui alguns exemplares preciosos, como o edifício dos Correios, mostrado ao lado. É uma arquitetura que expressa sempre um esforço para se adequar ao clima tropical. Nesse esforço lança mão da utilização de elementos vazados como os combogós da arquitetura brasileira, e, que permitem ampla ventilação. De uma maneira geral, são bastante eficientes, nessa adequação ao clima, apresentando um desempenho térmico invejável,  com uma diferença de temperatura entre o exterior e o interior sempre substancial.

Edifício da Câmara Municipal de Lobito
Outro exemplar recorrente na cidade de Lobito é um modernismo simétrico e acadêmico, próximo da arquitetura do fascismo de Mussolini, que foi realizado por um órgão denominado Gabinete de Urbanismo Colonial (GUC) e posteriormente Gabinete de Urbanismo Ultramarinho (GUU), ligado ao regime de Salazar. Um dos exemplos é o edifício do Paço do Conselho, atual Câmara Municipal uma edificação feita para representar o poder colonial de Portugal em Angola, apenas finalizado em 1962. Os arquitetos Mario de Oliveira (1914-2013), Lucinio Cruz e Castro Rodrigues são os autores do projeto. E, mais uma vez emerge uma arquitetura com soluções de conforto térmico e de aclimatação aos trópicos bastante interessantes. Os projetos do Gabinete de Urbanismo
Estudo da fachada de um Liceu para Angola do Gabinete
de Urbanismo Ultramarinho
Ultramarinho apresentam uma constante preocupação com esse tema, e parecem querer expressar uma arquitetura de cunho nacionalista, que procura se distanciar da face internacional da arquitetura moderna, de acento corbusieano. Uma das comprovações desse fato são as soluções adotadas para as fachadas, que procuram resolver a questão das tomadas de ar fresco e expurgo do ar quente, conforme pode se notar no desenho ao lado feito no GUU para um Liceu na cidade de Luanda em Angola.

 Nesse contexto, ocorreu o encontro do Conselho da União Africana dos Arquitetos, onde os africanos demonstraram o seu apoio a realização do Congresso Internacional da UIA de 2020.