sábado, 29 de novembro de 2014

Seminário sobre cidade sustentável em Duque de Caxias

A programação do encontro
Na semana que vem nos dias 01 e 02 de dezembro de 2014 haverá um seminário na cidade de Duque de Caxias sobre a Produção da cidade sustentável. O termo sustentável me parece bastante inadequado porque hoje em dia é usado para tudo, e aquilo que serve para tudo não é nada. No entanto divido a mesa com alguns craques, que certamente trarão visões e questionamentos notáveis para esse desafio; Luis Renato Vergara (secretário municipal de meio ambiente, agricultura e abastecimento), Luiz Edmundo (secretário municipal de urbanismo e planejamento), Vicente Loureiro (subsecretário de urbanismo regional e metropolitano), e Marilena Ramos ( ex-presidente do IPEA).

O tema do meio ambiente é hoje hegemônico em nosso mundo contemporâneo, no entanto ele possui imensa interface com o urbano e a ocupação humana do território. Na cidade metropolitana do Rio de Janeiro um acontecimento geográfico notável assume uma dimensão fundamental na questão da sustentabilidade, a Baía de Guanabara. Esse acontecimento geográfico é um dos mais belos cenários da nossa cidade, ela possibilitou a fundação da cidade colonial e pode ser vista como uma fortaleza natural, um anfiteatro de montanhas e pedras graníticas memoráveis. A cidade de Duque de Caxias possui profundos vínculos com esse acontecimento geográfico, que no entanto não estão desfrutáveis. A premiação anual do IAB-RJ desse ano conclama os arquitetos do Brasil a apresentarem propostas que reaproximem a Baía de Guanabara de sua mancha urbana, imaginando equipamentos e instalações que ampliem sua visibilidade.

As cidades ocupam apenas 2% do território do planeta, no entanto é nelas que se encontra grande parte de nosso passivo ambiental, como esgotos, resíduos sólidos, emissão de carbono, etc... A arquitetura e o urbanismo podem impulsionar uma convivência mais integrada entre natureza e citadinos.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

"Do Porto para o Anil", ou qual cidade queremos construir?

Em função de uma matéria publicada no jornal O Globo de segunda feira dia 24 de novembro de 2014, enviei a jornalista o seguinte texto, criticando a posição da municipalidade do Rio de Janeiro;

Reportagem publicada no O Globo de hoje, com o título “Do Porto para o Anil”, mostra que empreendimentos imobiliários na Zona Portuária foram trocados, em sua urgência, por iniciativas na Barra e na Baixada de Jacarepaguá. Há muito tempo que os investidores imobiliários da cidade investem na Barra e na Baixada de Jacarepaguá, não necessitando de incentivos públicos. Em contraposição, o centro é mais atraente para lançamentos de torres empresariais. Lá, quase não se verificam empreendimentos habitacionais.

Nota-se, a partir do ocorrido, que a cidade do Rio de Janeiro permanece sem um projeto explícito e claro de direcionamento do seu futuro, atendendo de forma fragmentada a pressões pontuais de investidores. O IAB-RJ defende há anos que a cidade brasileira deve reverter sua tendência inercial de dispersão territorial interminável, construindo e incentivando os empreendimentos próximos aos centros urbanos mais densos. Ao privilegiar a utilização das infraestruturas já instaladas na cidade pré-existente, evita-se que novas tenham que ser implantadas.

A posição decorre do fato de que a cidade brasileira possui em seu território amplas parcelas onde a universalização dos serviços urbanos, como coleta de esgotos e de lixo, distribuição de água potável, calçamento de ruas, iluminação pública e outros não são acessíveis. Isso determina uma profunda diferenciação, com poucas áreas de urbanidade plena e a grande maioria com profundas carências.
Cabe ao poder público reverter essa tendência, operando no sentido de direcionar as pressões pontuais, canalizando suas energias para um projeto de cidade mais denso e compacto, que facilite o acesso à urbanidade plena.

Pedro da Luz Moreira
Presidente do IAB-RJ

A corrupção brasileira, uma reflexão importante

Ricardo Semler, um tucano declarado construiu um artigo brilhante na Folha de São Paulo, destacando o inusitado da prisão de empresários ligados as toda poderosas empreiteiras, que há anos pautam nossos governos. A corrupção no Brasil vem decrescendo é a mensagem otimista contida no brilhante artigo. A corrupção brasileira, assim como outras presentes nos quatro cantos do mundo floresce onde os mecanismos de transparência republicana do estado são pouco eficientes. E, nós brasileiros estamos melhorando nesse quesito, segundo Semler;

"A turma global que monitora a corrupção estima que 0,8% do PIB brasileiro é roubado. Esse número já foi de 3,1%, e estimam ter sido na casa de 5% há poucas décadas."

O artigo também destaca a presença da corrupção nas empresas privadas, que pelo discurso hegemônico do neo-liberalismo eram estruturas imunes a essa prática, ainda segundo Semler:

"O que muitos não sabem é que é igualmente difícil vender para muitas montadoras e incontáveis multinacionais sem antes dar propina para o diretor de compras."

A íntegra do artigo está no link abaixo, vale a pena a leitura:

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/196552-nunca-se-roubou-tao-pouco.shtml

domingo, 16 de novembro de 2014

A queda do muro de Berlim

Berlim é uma cidade emblemática para a história do século XX, em seu território estão representados os dramas vividos pelos seres humanos nesse período tão rico da nossa história. Ela é acima de tudo o símbolo maior da unidade alemã, e não apenas nesse final do século XX, com a queda do muro, mas desde o século XIX, quando a então capital da Prússia capitaneou a união dos povos germânicos.

Norbert Elias mostra no livro Os Alemães como a construção dos diversos estados nacionais condicionou a experiência de ser e ser visto, como francês, inglês, russo ou alemão, e como cada uma das suas capitais Paris, Londres, Moscou e Berlim, simbolizam e carregam os arquétipos desses quatro povos. As especificidades da tardia unificação alemã apontam para uma certa fraqueza da classe média frente os antigos príncipes e nobres dos diversos estados germânicos do século XVIII, e um certo militarismo prussiano.

"No iníco do século XIX, um dos principais pontos no programas de ambas as correntes de classe média - a Idealista e Liberal e a Conservadora e Nacionalista - era a unificação da Alemanha, pondo fim a pluralidade de numerosos e pequenos Estados. Foi de grande significação para o desenvolvimento do habitus alemão de classe média que esses planos fracassassem. O choque causado por isso foi aprofundado quando um príncipe, o rei da Prússia com seu conselheiro Bismarck, logrou satisfazer militarmente os anseios de uma Alemanha unificada, através de uma guerra vitoriosa, quando as classes médias nada tinham conseguido por meios pacíficos. A vitória dos exércitos alemães sobre a França foi, ao mesmo tempo, uma vitória da nobreza alemã sobre a classe média alemã." Pg26

Berlim era a capital do reino da Prússia, mas percebe-se no mesmo autor a identificação de uma vertente autoritária e militarista na construção do Estado alemão, um certo declínio do habitus urbano frente a lógica militar, principalmente quando o mesmo autor compara com o processo holandês de formação do Estado.

"A arte de governar com a ajuda da negociação e das concessões mútuas foi passada da cidade para o Estado. Na Alemanha pelo contrário, os modelos militares de comando e obediência prevaleceram em vários níveis sobre os modelos urbanos de negociação e persuasão." Pg24

Por outro lado, Berlim assume seu papel de capital dos povos germânicos de forma tardia e tendo concorrentes simbolicamente fortes como Viena ou Praga, onde a construção dessa representatividade é impulsionada pela antiguidade, ainda segundo Elias;

"Comparada com Paris e Londres, Berlim é uma cidade jovem...Um única derrota do rei prussiano na luta com os rivais Habsburgo teria possivelmente sustado para sempre a ascensão de Berlim. Durante a Guerra dos Sete Anos, Frederico II esteve por várias vezes perto de selar esse destino para sua capital. Talvez seja útil acrescentar que no periodo dos imperadores Habsburgo, Viena funcionou frequentemente como cidade capital do império alemão. Praga também serviu nesse papel por algum tempo." Pg22

Altes Museum Karl Friedrich Schinckel
em Berlim
Berlim portanto não possui o destaque de outras capitais européias e chega na passagem do século XIX para o XX como capital da Alemanha unificada com um papel novo e não estabelecido pela antiguidade. A Berlim inicia o processo de construção de uma iconografia particular e memorável com a atuação na cidade do arquiteto Karl Friedrich Schinkel (1781-1841), logo após a derrota de Napoleão, e um pouco antes da unificação. Esse esforço construtivo do início do século XIX, apesar da imensa destruição da Berlim contemporânea, permanece vivo na cidade e é a sua face neoclássica que possui um extremo rigor racionalista, que está na ilha dos museus, no Altes Museum, no Teatro de Ópera Neues Schapielhaus na praça das duas catedrias, no portão de Bradenburgo e em outras manifestações. Esse rigor racionalista do neo classicismo alemão permanecerá presente nas sensibilidades posteriores, passando pelo ecletismo e até atingindo o modernismo. A manipulação da modulação construtiva, a padronização das fenestrações e uma certa proporção entre cheios e vazios é uma constante nas fachadas da cidade.

A imensa destruição de Berlim em 1945 - Postadamer Platz
Mas além desse racionalismo percebe-se em Berlim uma certa desconfiança frente ao seu recente papel de nova capital da Alemanha, uma recusa consciente a manifestações nacionalistas. Uma certa alma instável e insegura do papel que lhe foi dado com a queda do muro em 1989. Há mesmo uma certa incerteza e informalidade no trato das estruturas governamentais da Grosse Deutschland, chegando ao ponto extremo de ter ouvido nas suas ruas da cidade que "os berlinenses são os cariocas da Alemanha". Afinal, quem pode prever o vir a ser da Berlim, num mundo perpassado de incertezas, como foi o século XX e continua sendo o XXI.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Vitória da chapa Fortalecimento da Arquitetura e Urbanismo no CAU-RJ

Vitória das teses do IAB na eleição do CAU
Hoje dia 06 de novembro de 2014 tivemos uma importante vitória da chapa Fortalecimento da Arquitetura e Urbanismo, que se candidatou a eleição do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU-RJ). Assim como em outros estados brasileiros, como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e outros se percebeu uma vitória expressiva das teses do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).

Essa foi uma vitória de um grupo de arquitetos que vem declarando um grande amor pelo nosso ofício. Há nesse grupo uma diversidade muito grande de opiniões, mas percebo uma convergência na valorização do planejamento e do projeto como atividades estruturantes da nossa profissão. Outra convergência é a visão partilhada sobre as cidades brasileiras e seu processo de reprodução, esse grupo entende essa forma de crescimento como injusta e desequilibrada, não distribuindo oportunidades de forma equitativa pelo território. Há uma pauta oculta na produção e reprodução da cidade brasileira, prisioneira de interesses imediatos e ligeiros, sem olhar para o interesse geral dos seus habitantes. Há uma tendência inercial na produção da cidade brasileira, que precisa ser identificada e denunciada como um projeto excludente e elitista, que não está articulado com a ampliação da democracia que a sociedade brasileira vem alcançando no campo político. Essa não explicitação do projeto brasileiro de cidade determina uma forte fragmentação e segmentação das ações no território, que acaba presa por um voluntarismo descoordenado que beneficia interesses particulares.

Nesse sentido, as atividades de planejamento e projeto cumprem um papel estratégico importante, pois são um poderoso instrumental para a democratização dessa mesma cidade, uma vez que simulam com antecedência sobre o papel, os custos e benefícios das modificações propostas. São nas sociedades mais evoluídas a forma mais correta de se debater seu próprio vir a ser, checando a adequação das transformações propostas ao contexto existente.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Favela de Parque Royal, manutenção ou deterioração da informalidade

A favela manutenção ou deterioração da urbanidade
O site "Entenda a Favela" do jornalista Daniel De Plá publicou uma série de vídeos comigo e o presidente da Associação de Moradores de Parque Royal na Ilha do Governador, para debater o tema da informalidade nas cidades brasileiras. A Favela de Parque Royal fica na beira da Baía de Guanabara e foi urbanizada em 1996 no contexto do Programa Favela Bairro, com projeto do escritório Archi 5 arquitetos associados ltda, coordenado por mim. A favela de Parque Royal foi reconhecida como uma experiência de urbanização bem sucedida, tanto por organismos internacionais, como também nacionais. Comprovando tal fato está sua presença na Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza de 2002, na exposição do Pavilhão Brasileiro denominada Favela Upgrading.

Os vídeos mostram no meu entendimento, que as favelas demandam do poder público um cuidado constante com a manutenção dos serviços públicos, que ao final demonstram a sua efetiva presença nessas localidades. A compreensão e a auto-estima das comunidades é um potencializador do controle sobre o estímulo ou desestímulo da informalidade. A presença de serviços públicos, tais como coleta de esgotos, distribuição de água, coleta de lixos, arruamento, iluminação, drenagem, segurança enfatizam para a comunidade a existência do estado de direito, construindo a sensação de pertencimento à cidade. A presença continuada das concessionárias e dos serviços públicos em geral constroem a idéia de pertencimento à cidade, transformando essas áreas em bairros específicos do contínuo urbanizado. Portanto as ações do poder público devem visar essa continuidade, para que a integração seja efetiva. É óbvio, que essa ação envolve um combate continuado a uma série de preconceitos estabelecidos em nossa sociedade, inclusive nos funcionários públicos e das concessionárias, que muitas vezes permanecem considerando essas áreas como excepcionais, mesmo após a urbanização. É também claro que as próprias comunidades precisam ser responsabilizadas por suas práticas, buscando se adequar aos padrões gerais de funcionamento do conjunto edificado da cidade.

Vejam os filmes nos links abaixo:

/http://www.entendafavela.com.br/conflito-cedae-e-prefeitura-no-esgoto-da-favela/

http://www.entendafavela.com.br/conflito-do-publico-e-privado-na-favela/

http://www.entendafavela.com.br/moradores-contruiram-a-favela-do-parque-royal/