quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Paris e um debate sobre a ética da aplicação de recursos nas obras

Posto de pedágio no Parque Monceau de Ledoux em Paris
O arquiteto Claude Nicolas Ledoux viveu entre os anos de 1736 a 1806 na França, num período particularmente dramático para a história universal. Durante a Revolução Francesa. Entre o ocaso do antigo regime dos reis e a emergência da Revolução Francesa e da construção da república.

Ledoux transitou entre os dois universos; foi arquiteto de Madame du Barry, amante de Luiz XV, realisou próximo a cidade de Besançon em 1775 as Salinas Reais de Arc et Semans, uma fábrica de sal e também as Barriéres de Paris, postos alfandegários que controlavam a entrada de mercadorias no intramuros da cidade, já no periodo republicano.

Barriére de La Villete de Ledoux em Paris
Em Paris ainda existem o pequeno posto de pedágio no Parque de Monceau e a Barriére de La Villete na praça Stalingrado, duas obras notáveis, com um claro acento neo-clássico e uma sobriedade impressionante. O que me parece um aspecto importante a ser destacado na obra do arquiteto iluminista é uma certa ética construtiva, onde já predomina uma certa concisão da linguagem, que constantemente reafirma que os esforços construtivos se voltam para a simplicidade. Nada em Ledoux é exagerado, todos os esforços construtivos se direcionam para uma simplicidade, que se auto-justifica, como uma redução da construção a sua essência.

Fundação Louis Vuitton de Frank O Gehry em Paris
A racionalidade absoluta das suas escolhas de projeto estão embasadas por um equilíbrio entre custos e benefícios, tendo as obras uma premissa ética da economia de gestos e de esforços para se realizar dentro de um orçamento conciso. Nada é espetacular, tudo parece constantemente reafirmar a origem pública da arquitetura, que deve ser justificada, fiscalizada e vigiada pela sociedade, na utilização dos recursos aplicados.

Essa prática que não parece mais pautar a arquitetura contemporânea, que volta e meia se encontra envolvida por um espetáculo ligeiro e sem consequências. Envolto na pura ostentação de recursos, que passa a ser notada pela espetacularidade dos seus esforços, que já não encontram mais justificativa para suas decisões construtivas.

Filarmônica de Paris do arquiteto Jean Nouvell
Duas recentes realizações, na mesma Paris, denunciam esse tipo de premissa com a qual a arquitetura contemporânea está envolvida, a Fundação Louis Vuitton de Frank O. Gehry e a Filarmônica de Paris de Jean Nouvell. Duas edificações que parecem ter como premissa dos seus projetos a ostentação dos recursos aplicados. Uma certa falta de objetividade. As duas realizações parecem frutos de uma sociedade da abastança e do desperdício solitários, que se perderam num excesso de informações, onde as relações entre custos e benefícios parecem desequilibradas.

A pauta na qual a cultura arquitetônica contemporânea foi aprisionada me parece fadada a um envelhecimento rápido e ligeiro, aspectos que a obra de Ledoux parece enfrentar com muito mais potência....