sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Palestra do arquiteto Toyo Ito em Durbam África do Sul

Biblioteca de Tama
Com o título de "Possibilidades da Arquitetura além do Modernismo" ou "Possibility of Architecture beyond Modernism" no título em inglês, o arquiteto japonês Toyo Ito - grande estrela do Congresso Mundial da UIA 2014 em Durbam África do Sul - mostrou alguns projetos como; Sendai Midiateca, a Biblioteca de Tama da Universidade de Artes, e outros e empolgou grande parte do público presente.

Com um discurso contra a matriz da grelha xadrez ortogonal e regular, o arquiteto japonês declarou que "o grid homogêneo presente na maioria das nossas construções não está presente na natureza", em tom condenatório. Há no discurso de Ito uma celebração da natureza, típica de Wright, inclusive com algumas citações explícitas, que merecem uma reflexão mais aprofundada e articulada. Há nas obras construídas por Ito uma constante recorrência a utilização de malhas baseadas na espiral, como uma alternativa formal a grelha xadrez. Desde tempos imemoráveis, o homem constrói sobre a premissa do ângulo reto, e portanto da malha xadrez, que se constitui como uma eficiência divisória e quantificável de parcelas do planeta Terra. A interação e experiência humana elegeram esta geometria, por se tratar de um módus operandi eficiente, acessível na sua operatividade e compartilhável, no sentido de que pode ser facilmente partilhado. O homem é o único animal que modifica o ambiente que lhe é oferecido pelo planeta, para construir seu conforto, tal atitude constitui um verdadeiro traço da humanidade, que desde tempos imemoráveis modifica-o.

A sociedade do espetáculo, na qual estamos inseridos, nos condena muitas vezes a uma superficialidade onde os conceitos são formulados de forma a ser facilmente digeridos por parcelas significativas de pessoas, entorpecidas por uma veneração alienante, que abre mão da reflexão. O ambiente dos congressos internacionais, como o da UIA, são terreno fértil para frutificar essas propostas espetaculares, onde a profundidade cede espaço a uma ligeireza. Cabe, então uma série de perguntas; o que seria uma arquitetura que celebra a natureza? Ela deveria se referenciar a malhas e grelhas presentes no mundo natural, como a espiral do caracol, ou a elipse da folha da árvore? Ela não poderia se referir a grelha xadrez e ao ângulo reto?