sábado, 21 de setembro de 2013

Uma visita ao edifício do museu Ibere Camargo do arquiteto Alvaro Siza

Uma visita ao edifício do museu Iberê Camargo em Porto Alegre do arquiteto Alvaro Siza provoca uma infinidade de questões relevantes sobre o projetar e o construir no mundo contemporâneo. Temas caros ao ofício da arquitetura e do urbanismo. De como no campo do projeto há gestos repetidos mecânicos e simplificadores de um lado, e inovação inusitada de outro. O enfrentamento do papel em branco, do terreno antes da obra, ou da imensa gama de opções possíveis que existem no enfrentamento de um tema pelo projetista nos remete a uma das frases mais emblemáticas de Louis I Kahn; "antes do projeto se realizar, o que ele quer ser?"

A figura discreta e provocante do arquiteto Alvaro Siza no sistema de profissionais reconhecidos internacionalmente, por si só já demandaria uma ampla reflexão. A teoria do projeto, que se refere a gênese da concepção dos objetos arquitetônicos, precisa se debruçar sobre a obra deste arquiteto de forma mais consequente e aprofundada. Na verdade Siza Vieira, como os portugueses o chamam, parece condensar em vários de seus projetos, de maneira emblemática; uma premissa de adequação, a partir de  analogias repetidoras e criações inusitadas, que sempre se questionam a partir de uma reafirmação de uma subjetividade arbitrária e particular. Enfim dramas, que acompanham o projeto desde tempos imemoriais, onde uma objetividade que se auto-justifica, encontra-se com uma arbitrariedade subjetiva muito potente.

Uma questão de saída desponta quando adentramos a soleira do museu de Iberê Camargo, o que é constância e repetição, e o que é inovação no esforço de elaboração deste projeto. O museu Iberê se situa no restrito conjunto de resposta a pergunta de Kahn de uma forma complexa, que nos faz pensar sobre as interrelações entre adequação e simbolismo, subjetividade e objetividade, risco e conforto, esforço e benefício, legibilidade de percurso e surpresa. Há uma premissa de coragem no enfrentamento de todas estas dualidades, como se afastando de forma determinada de qualquer zona de conforto. O edifício basicamente surpreende, tanto pela repetição de temas organizacionais sedmentados na história moderna da arquitetura (Guggenheim de Nova York), quanto pela inovação dentro desta mesma moldura.

Realmente uma obra de arte complexa e corajosa, que basicamente questiona; a fruição da arte, o preparo do olhar para esta compreensão, sua relação com o sítio, o circuito desta fruição, os momentos de protagonismo e de coadjuvante da arquitetura frente as artes plásticas.

Nada no Museu Iberê é muito simples, mas num paradoxo, tudo parece se restringir a uma simples coragem de realizar de forma profunda.