sábado, 3 de setembro de 2016

Debate na Casa da Suíça sobre a cidade pós-olímpica do Rio de Janeiro

Foto de Maria Alice Nogueira
No último dia 31 de agosto, no espaço montado na beira da Lagoa Rodrigo de Freitas da Casa da Suíça foi debatido o futuro da cidade do Rio de Janeiro, com a mediação da jornalista Flavia Oliveira, e a participação dos palestrantes; Eduarda La Roque do Pacto do Rio, Jean Jacques Fontaine jornalista suíço, Augusto Ivan de Freitas Pinheiro da Empresa Olímpica Municipal, Christopher Gaffney geógrafo americano, e Pedro da Luz Moreira presidente do IAB-RJ. Antes dos debates foi apresentado o sensível trabalho do fotógrafo Michael von Graffenried, sobre a cidade do Rio de Janeiro, no período antes dos jogos olímpicos, que mostrou imagens ricas da sua diversidade de espaços e pessoas. A diversidade de visões presentes na mesa anunciava uma noite de polêmicas e controvérsias entre os debatedores, que na verdade não se realizou, pois todos assumiram uma disponibilidade de ouvir e debater, que poucas vezes presenciei.

O debate se caracterizou pelas visões pessimistas e otimistas sobre o futuro da cidade do Rio de Janeiro, houve quase um consenso quanto a ausência de uma direção clara, uma forma eleita de cidade que queremos ser. Os grandes eventos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas foram problematizados na sua real dimensão, embate ou contradição, como um conflito entre interesses locais e globais. Arranjos e ações, que precisavam dar conta de uma pauta complexa, vinculados àquilo que Debord caracterizou como a Sociedade do Espetáculo, ou uma visão da cidade competitiva, capaz de atrair investimentos internacionais. Um modelo que vem operando no mundo desde Baltimore nos EUA, no final da década de sessenta, e que está baseado numa ferrenha competição para atrair capital especulativo e volátil. Essa dimensão financeira ou rentista acaba contaminando todos os poros da sociedade contemporânea, que acaba sobrevalorizando a obtenção de ganhos abstratos, deslocados de movimentos produtivos reais.

Na minha fala procurei destacar que os planos e projetos eram instrumentos que possibilitam a participação de todos, uma vez que em suas fases iniciais os desenhos permitem o levantamento de hipóteses, que são escolhidas ou descartadas em função dos benefícios alcançados e os custos que esses implicam. A nossa visão de qual cidade queremos ser no futuro possui a meu ver uma premissa básica, que está também no campo da macro-política brasileira, que se refere a busca de uma sociedade mais equilibrada, sem a separação brutal de oportunidades que hoje vivemos. O território da cidade, talvez seja a dimensão mais concreta da clivagem de oportunidades das cidades brasileiras, basta compararmos; Ipanema e São Gonçalo para se entender como o projeto da cidade brasileira é excludente. De um lado, a opulência de recursos e pensamentos, que se mostra internacionalmente, e de outro, uma certa invisibilidade e informalidade, que simplesmente é recalcada do nosso território como inexistente, quando se trata dos eventos internacionais. Procurei destacar, que mesmo nessa última, no âmbito da sobrevivência possível, nessa precariedade de recursos, há uma potência de criatividade e de empreendedorismo, que precisa ser incluído. Afinal, nosso mercado formal de produção e reprodução da cidade brasileira, ainda hoje, não consegue atender uns 30% da demanda brasileira, que permanece na auto produção de sua própria habitação.