quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Reunião no IAB-RJ debate ação de ONGs em favelas

Na mesa do IAB-RJ, Mariana Estevão, eu, Caroline Mignot e Javier Abi-Saab
Na última segunda feira dia 31 de agosto de 2015 estiveram no auditório do Instituto de Arquitetos do Brasil departamento do Rio de Janeiro (IAB-RJ) organizações não governamentais (ONGs) que prestam assessoria aos movimentos sociais no Brasil em diversos contextos. Estiveram na mesa debatendo com o público presente; Javier Abi-Saab da Ong Teto, que tem origem em Santiago do Chile, Caroline Mignot da Um litro de luz das Filipinas, com sede no Brasil em Florianópolis e a arquiteta Mariana Estevão da Soluções Urbanas, que tem sede em Niterói.

O debate gerou em torno do termo resiliência, e da questão da articulação estrutural ou pontual de soluções, que hoje domina alguns fóruns, que vem demonstrando um certo cansaço com relação ao aparelhamento das discussões desses temas. Uma certa supremacia ou emergência da atuação imediata.

Caroline Mignot da ONG Litro de Luz
A ONG Teto fornece habitações de madeira pré-construídas para familias em áreas de extrema pobreza, no Rio de Janeiro atuaram na Vila Beira Mar, uma comunidade próxima ao antigo lixão de Gramacho em Duque de Caxias. A ONG fornece uma casa de madeira pré-fabricada com 18M2, que é montada junto com a familia em dois dias

A ONG Litro de Luz nasce de uma tecnologia bastante simples desenvolvida no Brasil, que se utiliza de garrafas PET enchidas com alvejante para iluminar ambientes. Na experiência apresentada no auditório do IAB-RJ, na mesma comunidade de Vila Beira Mar em Gramacho foram instalados postes de iluminação, usando garrafas PET e células foto votaicas para as ruas da comunidade.

Por último, a ONG Soluções Urbanas milita em comunidades faveladas de Niterói e presta serviço assessorando moradores, que pretendem reformar suas casas, dentro dos princípios da lei de Assistência Técnica aprovada no Congresso Nacional em 2008, que garante o direito à populações carentes dos serviços de arquitetura.

Todas as ONGs militam no campo da produção de uma cidade com maior equidade, o problema que coloquei para todas elas é a excessiva pontualidade das atuações, que se limitam a resolver problemas localizados e imediatos dessas comunidades, não se envolvendo com uma maior estruturação das origens. Todas deram uma resposta convincente de que os probllemas do cotidiano imediato no qual elas se engajam podem iniciar um processo de construção de uma cidadania mais efetiva e duradoura, celebrando o processo, mais que os resultados.

Abaixo o link das tres ONGs, que devem ser conhecidos:

https://www.techo.org/paises/brasil/amigos-do-teto/

http://www.litrodeluz.com/

http://solucoesurbanas.org.br/

Mais um texto sobre A ética protestante e o 'espírito' do capitalismo

Como já assinalado, num texto anterior aqui no blog Arquitetura, cidade e projeto o livro de Max Weber, com o título A ética protestante e o 'espírito' do capitalismo é uma incrível oportunidade para refletir sobre o processo histórico de longa duração, que acabou consolidando o sistema capitalista como forma hegemônica de operar. No outro texto assinalei uma certa tendência do sistema  a anular a concorrência, em nome da construção de monopólios, em função da polêmica do UBER e dos táxis, que dominou a agenda há alguns dias atrás.

A longa transição entre o feudalismo e o capitalismo, que criou nuances históricas entre estados nacionais, como o capitalismo mercantilista, uma certa manutenção de princípios feudalistas, ou ainda um capitalismo financeiro, desembocaram em nossa contemporaneidade, onde o sistema parece ter dominado toda a face do planeta Terra, e quando, se percebe uma clara hegemonia do sistema financeiro. Weber coloca de forma apropriada a lenta conquista dos corações e mentes pelo sistema capitalista, na qual as mentalidades e as práticas cotidianas geradas pela reforma desempenharam importante papel;
"Para que essas modalidades de conduta de vida e concepção de profissão adaptadas as peculiaridades do capitalismo pudessem ter sido 'selecionadas', isto é, tenham podido sobrepujar outras modalidades, primeiro elas tiveram que emergir, evidentemente, e não apenas em indivíduos singulares isolados, mas sim como um modo de ver portado por grupos de pessoas...Por ora, é suficiente para nosso propósito indicar: que na terra de Benjamim Franklin (o Massachusetts) o 'espírito do capitalismo' no sentido por nós adotado existiu incontestavelmente antes do 'desenvolvimento do capitalismo'." Página 48 WEBER, 2004
Weber aponta o abandono da condenação da prática da usura, a concepção do esforço profissional de cada um como uma forma de louvação a Deus, e a idéia de pré-destinação como fundadores de práticas, que impulsionaram a forma de operar do capital, todas presentes no protestantismo. Interessante também os dados apresentados mostrando a maior aproximação dos protestantes com as carreiras técnicas, enquanto os católicos permaneciam nas áreas humanas, apesar da clara tendência de um maior investimento na formação profissional por parte da reforma. A palavra alemã Beruf, que pode ser traduzida por vocação ou profissão, e que muitas vezes envolve o imbricamento dos dois registros, podendo ser; vocação profissional ou profissão como vocação, esclarece muito das concepções divergentes entre católicos e protestantes. Weber irá contrapor a forma de encarar a vida monástica pelos católicos, à maneira de entender as profissões intra mundanas pelos protestantes, esmiuçando a visão desses últimos;
"Ora, a conduta de vida monástica é encarada não só como evidentemente sem valor para a justificação perante Deus, mas também como produto de uma egoística falta de amor que se esquiva aos deveres do mundo. Em contraste com isso, o trabalho profissional mundano aparece como expressão exterior do amor ao próximo.." Página 73 WEBER, 2004
Weber também aponta nuances na visão de mundo dos protestantes, apontando que o luteranismo permaneceu condenando a usura e celebrando esse afastamento do mundo dado pela vida monástica. Aponta também uma maior generosidade com o mundo por parte dos jesuítas, católicos da contra-reforma, que promoveram maior adaptação ao cotidiano, pelo probabilismo e uma clara vertente de inclusão de uma diversidade de visões.

A construção da hegemonia de determinadas ideias é sem dúvida um processo de longa duração, mas volta e meia é importante perguntar. Como suportar o cotidiano, nessas condições?