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Edifício Oscar Niemeyer em BH, vista da
Avenida Brasil
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Sempre fico maravilhado diante do Edifício Oscar Niemeyer na Praça da Liberdade em Belo Horizonte, dotado de um design potente e algo inusitado, ele ocupa uma das quadras triangulares, que resultaram do Plano de Aarão Reis de 1894, para a nova capital do Estado de Minas Gerais. Com uma implantação primorosa, proporções perfeitas, ele é um dos mais preciosos frutos da prancheta do arquiteto Oscar Niemeyer. Suas geratrizes de desenho se encontram, na conformação e nas medidas dessa quadra triangular, fruto da torção da malha de avenidas em 45o em relação a malha de ruas vicinais, típica dos Planos Neoclássicos da passagem do século XIX para o XX, que tangenciam curvas compostas e contínuas para o máximo aproveitamento. Menos famoso que o edifício Copan em São Paulo, o edifício Oscar Niemeyer possue a mesma gênese em sua composição, uma massa edificada, circundada por finas e elegantes pestanas de concreto, protetoras da insolação. Numa área privilegiada da capital mineira, o edifício Oscar Niemeyer é mais exclusivo do que o Copan em São Paulo, tendo apenas dois apartamentos por andar de sala e três quartos. Sua exclusividade pode ser comprovada por um de seus mais ilustres proprietários e morador, o ex governador e quase presidente da República do Brasil, Tancredo Neves. Os dois edifícios me lembram a arquitetura de um desenho animado dos meus tempos de criança, os Jetsons, que chegavam em suas casas em aero móveis e moravam em casas e apartamentos, também com finas pestanas. A construção do edifício Oscar Niemeyer é de 1954-55, enquanto o desenho animado dos Jetsons, com produção dos estúdios Hanna Barbera é de 1962-63, o que revela a sua primazia, e a imensa capacidade do arquiteto em sintetizar ícones identitários para diversificados fins. Atualmente, no sistema de ônibus de BH, a silhueta do edifício, junto com a Igreja de São Francisco na Pampulha, ambas de Oscar Niemeyer, estão estampadas em suas carrocerias. De forma recorrente ao longo de nossa história, as formas do arquiteto carioca foram apropriadas como imagem identitária de diferentes cidades - Belo Horizonte, São Paulo e Niterói - , ou de um país como o Brasil, na sua nova capital federal, Brasília. Ainda me lembro, muito jovem nos idos dos anos 1960s, como as colunas do Palácio Alvorada em Brasília foram apropriadas por caminhoneiros, que usavam o perfil da coluna como elemento de decoração de suas carrocerias. Essa capacidade do design de Oscar Niemeyer de sintetizar uma ideia panfletária, seja de modernidade almejada, de símbolo de urbanidade, ou de simples elemento decorativo é um dos dados mais potentes de sua obra.
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Edifício Niemeyer, vista da Rua Claudio Manoel |
Há poucos passos, do apartamento de minha mãe em Belo Horizonte, ele está sendo restaurado em sua fachada, ao que me pareceu, por uma obra de iniciativa pública do órgão de preservação do patrimônio do governo do Estado de Minas Gerais. Essa questão da preservação de um patrimônio construído, que não é de propriedade estatal, mas sim privada é uma das complexidades mais sensíveis da conservação edilícia na contemporaneidade. A relevância da obra, sua importância no panorama da história mundial da arquitetura é algo indiscutível para mim, no entanto sua propriedade privada deveria buscar algum tipo de compensação em função da valorização do patrimônio privado, que certamente será obtido a partir da sua conservação por uma iniciativa Estatal. Importante salientar que contínuos privados nas cidades brasileiras, de importante relevância para nossa história, também possuem condições análogas a esse edifício. E, aqui mais uma vez emerge uma questão que estão nos conteúdos dos últimos textos desse meu blog, o problema da diferenciação entre o comum, o Estatal e o privado, como esferas autônomas conceitualmente, mas interlaçadas sobre o ponto de vista do valor, do uso e do usofruto. Afinal, o valor desse objeto para a cidade de BH, para a história da arquitetura nacional e mundial é indiscutível, e pode ser inclusive aferido pelo depoimento de críticos e historiadores, o que acaba envolvendo interesses não necessariamente divergentes entre as esferas do público ou do comum, o Estatal e o privado. A quantificação dos benefícios nesses três campos, o Comum, o Estatal, e o privado não pode ser restringido apenas a valores monetários, pois envolvem questões como autoestima e identidade que são sempre intangíveis.
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