domingo, 21 de janeiro de 2018

A segurança da cidade do Rio de Janeiro está em suas calçadas

A segurança da calçada está em sua ocupação
A princípio parece um gesto banal e corriqueiro, mas hoje celebro a reabertura do bar e restaurante Santa Pizza, ao lado da minha casa, uma iniciativa que contou com grande adesão da vizinhança e de estrangeiros distantes. Assim como observou Aristóteles, com 24 séculos de antecedência, "a pólis não se reduz à coabitação de pessoas no mesmo território, a fim de que seus cidadãos gozem de segurança e mantenham boas relações de negócios." Portanto, ela não se restringe a nos  fornecer apenas segurança e confiança, mas esses quesitos são fundamentais para o exercício da urbanidade. Muito além da law and order da cultura anglo saxônica, a cidade é um tipo de invenção da humanidade, que promove o encontro da diversidade, gerando tecnologia e conhecimento. Afinal, os sociólogos apontam há muito tempo a importante revolução urbana, ocorrida na Mesopotâmia há sete mil anos atrás, como a mais importante conquista da humanidade. Pelo simples fato de ter colocado diferenças culturais, crenças e simples vivências numa proximidade interativa, que acabou gerando um incrível desenvolvimento humano.

Foi essa visão sensível e integral da política, que fez Platão sustentar serem os filósofos os únicos governantes legítimos da pólis grega. Pois sua capacidade não se restringe a mera contemplação (theoria), mas também a capacidade de agir e tomar decisões sobre casos particulares de acordo com a prudência (phrônessis). A separação falsa entre teoria e prática, que no mundo moderno parece ter sido enfatizada, foi também desmontada por Marx e Engels na brilhante reflexão do livro, A Ideologia Alemã. O idealismo alemão hegeliano, que se restringia a elevar o espírito ao sublime precisava ser contaminado pelo pragmatismo francês e anglo saxão, que não apenas haviam sonhado com a liberdade, mas também haviam tentado realizá-la. E, o jovem Marx na denúncia da apropriação do Comum pelo sistema capitalista, não hesitou em afirmar, que o pensamento crítico "não é uma simples paixão da cabeça, mas ao contrário, a cabeça da paixão"1. Nessa condição a paixão do pensamento crítico é a indignação e a denúncia de condições absolutamente insustentáveis da vida na cidade do Rio de Janeiro, por conta da violência.

Por isso é que celebramos, depois de uma sequência de assaltos promovidos por menores de idade, que fustigou sua dona e sua clientela mais fiel, o bar e restaurante Santa Pizza reabriu as portas e reocupou as calçadas com suas mesas e cadeiras, recebendo um movimento gerador de segurança. Um ato banal e corriqueiro, mas capaz de transformar nossa rotina...

NOTAS:

1. Ver no blog arquitetura cidade e projeto, texto sobre o filme O Jovem Marx, no link: https://arquiteturacidadeprojeto.blogspot.com.br/2018/01/o-filme-o-jovem-marx.html

BIBLIOGRAFIA:

ARISTÓTELES - A política - Editora Tecnoprint Rio de Janeiro 1965
LOPES, Paula Fernandes - A ética platônica: modelo de ética da boa vida - Edições Loyola, São Paulo: 2005 
MARX, Karl e ENGELS, Friederick - A Idelogia Alemã - Editora Boitempo São Paulo 2004