Diário de Pedro da Luz Moreira, interessado em discutir a arquitetura, a cidade e o projeto
terça-feira, 28 de fevereiro de 2017
O filme A garota do trem trabalha com sensações da grande metrópole
A sensação da ampla mobilidade numa grande metrópole contemporânea é explorado pelo filme A garota do trem, tendo como cenário a imensa mancha urbana de Nova York e seus arredores, locais que estão a trinta, quarenta minutos, ou mais da Grand Central Station pelos potentes ramais de estradas de ferro da região. A incerteza, a precariedade e a volatilidade de nossas vidas na grande metrópole contemporânea, a transitoriedade de nossas escolhas e a dedução e a indução de nossas memórias particulares pelo outro é o contexto explorado pelo filme. Um triller de suspense, envolvendo um assassinato num típico subúrbio de casas americano, de baixa densidade, onde o habitar idílico próximo a natureza nos faz idealizar vidas e relações afetuosas. Como estamos diante de uma infinidade de estímulos e de apreensões, construimos narrativas idealizadas, tendo sempre como referência o turbilhão de nossas próprias emoções. Mesmo nossas memórias, quando abaladas pelo uso contínuo das bebidas alcoólicas, ou drogas - prática corriqueira nas grandes metrópoles - estão sujeitas a serem manipuladas por terceiros, que podem induzi-las para seus objetivos e interesses. O ato de se deslocar no espaço, numa grande velocidade nos coloca ao mesmo tempo como observador e personagem submetido a flashes ou instantâneos das vidas alheias, que são apropriadas de maneira fragmentada e parcial. A grande metrópole é na verdade uma grande abstração, tão grande e extensa, que nos foge o poder de síntese, estilhaçada numa infinidade de vivências, a cidade não é mais compreensível em sua imensa complexidade...
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