De uma maneira geral, a parte da obra de Carlos Leão mais conhecida é a de desenhador de mulheres nuas, além de como arquiteto ter participado da equipe que elaborou o emblemático edifício do Ministério da Educação e Saúde (MES), chefiada por Lucio Costa, a partir de uns esboços imprecisos de Le Corbusier. Na casa de minha mãe em Belo Horizonte ainda está pendurado na parede da nossa sala, um retrato de uma bela mulher, algo voluptuosa, definida apenas por um traço minimalista, elegante e seguro de Caloca.
Ainda me lembro, que o crítico de arquitetura Jorge Cjajkowski tinha estruturado um plano para o livro, que pretendia lançar uma luz sobre um dos representantes da primeira geração modernista brasileira, que se envolvera em sua trajetória arquitetônica, principalmente nas demandas domésticas com casas que se afastavam do racionalismo corbusieano e tendiam para uma atitude romântica, próximo de um nativismo da arquitetura colonial brasileira. Esse conjunto de obras longe da ortodoxia racionalista e modernista, com uma feição mais tradicional era o que mais incitava a Czaikowski a produzir uma reflexão sobre Carlos Leão.
"Até recentemente a avaliação crítica desse conjunto esbarrava num problema de difícil superação: a maioria das obras apresenta uma feição tradicionalista e é posterior a projetos modernos de importância do MES e da Cidade Universitária - fato que talvez explique a clandestinidade a que foram relegadas." CZAIJKOWSKI 2016 página 13
Interessante assinalar que essa atitude de se aproximar de um vernáculo arquitetônico mais tradicional, não significa perder de vista a continuidade dos espaços, obtida pela independência estrutural, ou a fluidez entre interior e exterior, tão presente na arquitetura dos trópicos. Afinal, muito desssa atitude está também presente na primeira obra de Lucio Costa, principalmente em suas casas unifamiliares. Parece-me que o temperamento afável de Carlos Leão admitia fazer concessões ao gosto de uma clientela nostálgica, sem abrir, no entanto, mão de uma qualidade espacial notável, e muitas vezes contraditoriamente moderna.
Ao final, o livro me parece uma oportunidade única de rever leituras históricas cristalizadas e posicionamentos ortodoxos e rígidos, mostrando-nos que auto-construção do Brasil está sempre aberta para reinterpretações e releituras.
BIBLIOGRAFIA:
CZAJKOWSKI, Jorge - Carlos Leão: Arquitetura - Bazar do Tempo Rio de Janeiro 2016
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