sábado, 5 de setembro de 2015

Matéria de hoje no O Globo traz o problema do tipo da cidade e a violência

Foto da matéria do jornal O Globo de 05-09-2015
Hoje dia 05 de setembro o jornal O Globo publicou matéria com uma fala minha, sobre a questão da tipologia espacial da cidade e a violência urbana, em função da recente morte de Ana Lucia Neves no Recreio dos Bandeirantes, na cidade do Rio de Janeiro. A questão da violência urbana é muito complexa para ser reduzida a apenas um aspecto, e acaba por provocar reações por parte dos atingidos por ela de legítima revolta.

A questão que procurei colocar é que a violência urbana também precisa ser espacializada, e pensada sob a ótica do tipo de cidade que no Rio de Janeiro e no Brasil tornou-se a forma hegemônica de sua reprodução. A dispersão desproporcional, a baixa densidade, a total dependência dos deslocamentos feitos por automóvel individual, os condomínios clubes com pretensão a auto-suficiência, e a estruturação de centros comerciais análogos aos shopping centers acabam determinando um espaço público com ausência de pessoas e transeuntes, que potencializa a insegurança e a realização de crimes.

A Barra da Tijuca e o Recreio dos Bandeirantes na cidade do Rio de Janeiro concentram essas características, mas ela também é reproduzida pelo mercado imobiliário e por consumidores que buscam novas unidades em várias partes da cidade. O tipo portanto encontra grande acolhimento no conjunto da sociedade, envolvendo uma cultura arraigada na sociedade brasileira. A íntegra da minha fala está reproduzida abaixo:
"Para urbanistas ouvidos pelo GLOBO, o modelo de crescimento da região potencializou a violência. Segundo o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Pedro da Luz Moreira, Barra e Recreio têm um modelo que ele classifica como “rodoviarista”, que isola moradores e os divide em estratos sociais:— O modelo seguro é aquele em que você tem várias camadas sociais diversificadas, como é o caso de Copacabana, que também tem o comércio voltado para a rua. Isto aumenta a circulação de pessoas, cria autossegurança. No modelo rodoviarista, você tem o seu carro, mas quando para no sinal, ou vai estacionar, há espaços, mas não há calçadas nem pessoas. O comércio funciona em shoppings onde você não vê a calçada, mas apenas uma massa de veículos. O risco é potencializado — explicou Pedro da Luz."
O link abaixo traz a íntegra da matéria;

http://oglobo.globo.com/rio/com-menos-moradores-que-barra-da-tijuca-recreio-registra-mais-roubos-de-veiculos-17412388

Um comentário:

  1. Olá Pedro, entendo a sua argumentação mas não me parece ser o caso do ocorrido. O assassinato se deu no Recreio, em um local aberto, onde a vítima poderia ter chegado tanto de carro como a pé. Concordo que os costumes da população local favoreçam a ação dos bandidos mas não podemos misturar o Recreio e a Barra como se fosse o mesmo urbanismo. O Recreio, mesmo sendo uma cria do "cidade jardim", se adaptou e se transformou em um bairro bem carioca, ruas abertas, esquinas, comércios perto de residências, ruas internas com acesso público, pelo menos no lado sul da Av. das Américas, essa é a realidade. No lado norte da Américas, com ocupação mais recente e gabarito liberado, criou-se a repetição do urbanismo da Barra, prédios altos, isolados e cercados, ilhas de moradias, o que caracteriza o baixo movimento de pedestre criando situações de perigo, mas no Recreio/Praia o urbanismo leva as pessoas para a rua, apesar de não ser como lugares já consolidados, vemos os moradores usando os parques e se locomovendo a pé para lazer e serviço.

    Concordo que é sempre bom esclarecer ao público que o urbanismo exerce papel fundamental na vida da cidade e exerce papel fundamental inclusive na questão de segurança pública mas não vejo o Recreio com o mesmo padrão de ocupação que a Barra da Tijuca.

    Parabéns pelo blog, abraço!

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