Ainda me lembro do maravilhamento causado por "Cem Anos de Solidão" em mim, no final da década de setenta. As polêmicas que travávamos sobre o realismo mágico e sua vinculação com aspectos da América Latina, e um suposto abandono de um complexo de colonizado, que percorria todos os países dessa parte do mundo. O bordão Rodrigueano do "Complexo de Vira Lata", que caracterizava os brasileiros. Havia então, a emergência de um forte terceiro mundismo, que celebrava a necessidade de nos embrenhar pelos "Macondos" de nosso continente, procurando entender o fenômeno de uma cultura ao mesmo tempo mágica, objetiva e incompleta. Uma cultura com uma carência imensa de fatos, uma presença doentia da violência, com uma ausência total de uma narrativa explicadora, e sempre incompleta. Enfim, onde talvez seja melhor inventar estórias, do que entender:
"...O emissário trazia uma ordem altamente confidencial do Coronel Aureliano Buendia, que não estava de acordo com os termos do armistício. O Coronel Gerineldo Márquez devia selecionar cinco dos seus melhores homens e se preparar para abandonar com eles o país. A ordem foi cumprida dentro do mais absoluto segredo. Uma semana antes que se anunciasse o acordo, e no meio de uma saraivada de boataos contraditórios, o Coronel Aureliano Buendia e dez oficiais de confiança, entre eles o Coronel Roque Carniceiro, chegaram sigilosamente a Macondo depois da meia noite, dispersaram a guarnição, enterraram as armas e destruíram os arquivos. Ao amanhecer já haviam abandonado o povoado com o Coronel Gerineldo Marquez e os seus cinco oficiais. Foi uma operação tão rápida e confidencial que Úrsula não soube de nada a não ser na última hora, quando alguém deu umas pancadinhas na janela do seu quarto e murmurou: 'Se a senhora quer ver o Coronel Aureliano Buendia, chegue na porta agora' Úrsula pulou da cama e saiu na porta de camisola, e só conseguiu perceber o galope da cavalaria, que abandonva o povoado no meio de uma silenciosa poeirada..."
Página 132 de Cem anos de Solidão - editora Record Rio de Janeiro 1979
Ainda não conheço Arataca na Colômbia onde ele nasceu...
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