Calçadas bem desenhadas, mas sem pessoas |
Como arquiteto visitei o antigo casco da cidade que envolve a Praça Vitória, o City Hall e a antiga Gare de trens, marquei em meu mapa como objetivos a serem visitados que me dariam uma visão, ainda que muito preliminar da cidade. Essa arquitetura de traço eclético, de fins do século XIX e começo do século XX retrata um momento feliz da história das nossas cidades, onde se compartilha um modo de vida baseado nos trilhos ferroviários, seja nas antigas gares ou nos bondes elétricos, antes portanto da invasão massiva dos automóveis. A cidade ainda não havia sido invadida pelos automóveis e pelo desenvolvimento de edificações em altura, como as torres de vidro das nossas cidades contemporâneas. Havia então uma compreensão da cidade como um lugar portador de uma didática civilizatória, capaz de reformar a vida das pessoas. O modelo era claramente europeu, e tinha uma vertente colonialista forte, mas construiu um espaço de interação nas cidades que promovia uma civilidade e interação interessantes.
Mas o que efetivamente choca em Durban é a generosidade de suas calçadas, a arborização, o bom desenho, adequado ao caminhar inclusive aos portadores de necessidades especiais, que estão completamente vazias e despovoadas. O automóvel e a ausência de usos amigáveis das fachadas adjacentes me parecem ser a explicação para tal situação. Excluindo-se a área do entorno do City Hall, a Praça Rainha Vitória e a Gare, que apresentam uma circulação intensa de pedestres, grande parte do restante da cidade apresenta calçadas despovoadas e vazias, que potencializam a sensação de insegurança. A cidade é portanto um complexo empreendimento, que depende de uma interrelação entre esfera pública e privada para nos fornecer uma sensação de segurança e de intensa troca de experiências. O automóvel e a arquitetura adjacente as calçadas desempenham um papel fundamental na conformação desse espaço.
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