sexta-feira, 11 de outubro de 2019

A experiência do Workshop Habitar o Centro com a AIA no IAB-RJ

Mapa Síntese da proposta determinando as principais ações no território para
sua requalificação
Durante os dias de 26, 27. 28. 29 e 30 de setembro de 2019, um grupo de arquitetos dos EUA e do Brasil, bem como estudantes do Sul da Flórida e estudantes de diversas escolas de arquitetura da metrópole do Rio de Janeiro se reuniram para pensar o tema do Habitar o Centro no contexto da Zona Portuária da cidade. Os arquitetos são filiados ao American Instiut of Architects (AIA), uma entidade da sociedade civil, similar ao nosso IAB, que reúne profissionais interessados em divulgar a importância e a necessidade da elaboração de planos e projetos em sintonia com amplos setores da população. O programa de assessoria do AIA para diferenciados solicitantes possui o nome de Regional / Urban Design Assistance Team Program (R/UDAT) e também recebe a designação de Design by Comunities. As ações se inserem na tradição anglo saxônica do advocacing planning, ou, planejamento participativo, uma forma de desenvolvimento de projeto que envolve a escuta de setores populares e usuários em geral. O interessante na iniciativa é o reconhecimento do projeto e do plano, como instrumentos de aprofundamento do debate do que pretendemos como desejo, seja uma instituição ou edificação, um bairro, ou uma cidade. No caso, desenvolvido na Zona Portuária do Rio de Janeiro, na Área de Especial Interesse Urbanístico (AEIU) do Porto Maravilha, as solicitações e contatos se iniciaram com os EUA há dois anos, quando no âmbito da Comissão de Relações Internacionais (CRI) do CAU-BR foi sugerido esse recorte espacial.

Boulevard Luiz Paulo Conde
Portanto, as determinações espaciais do objeto a ser abordado são de suma importância para seu próprio sucesso, uma vez que deverão ser analisadas e apropriadas por instituições e organizações sociais. O desenho e o projeto passam a ser instrumentos de provocação e mobilização, que fomentam o debate sobre o vir-a-ser da população na área, procurando seu engajamento. A forma é particularmente interessante no contexto da cidade brasileira, uma vez que sua tradicional maneira de reprodução sempre envolveu a construção de um projeto que excluiu parcelas significativas de nossa população, mantendo o direito a urbanidade apenas para poucos. Portanto, o desafio envolve a elaboração de um contra projeto, capaz de sinalizar para o conjunto da população que ninguém deverá ser excluído, procurando vencer as vulnerabilidades e precariedades econômicas presentes na população alvo. Há aqui um profundo questionamento sobre as formas inerciais de reprodução do desenvolvimento econômico brasileiro, que sempre mirou em parâmetros econômicos desterritorializados, não olhando para as profundas diferenças sociais invariavelmente segmentadas no espaço.

Galpão do Cobra, intensificação do uso habitacional, com a manutenção
das suas grandes pinturas
Na verdade, as ações de plano e projeto sempre foram desdenhadas na cultura do país, que parece permanecer acreditando na virtude da improvisação e do espontaneismo, como única atitude autêntica capaz de promover autenticidade. Práticas que envolvem o levantamento de hipóteses, checagem de sua capacidade de inclusão de amplas parcelas da população, gerando uma sinergia de expectativas positivas, capazes de gerar coesão social, aonde ninguém é deixado para trás são as pretensões problematizadas pela área,e, pelo próprio desenvolvimento do país.. Como, a experiência do workshop Habitar o Centro se trata de uma imersão intensa, diante de uma área concreta da cidade, com grupos de interesse diferenciados, com desejos diversos, e compreensões variadas o trabalho é sempre continuado e concentrado, iniciando pela percepção e assimilação da área. Seguido pelas proposições preliminares, que são submetidas ao conjunto da população interessada, em forma de minuta e croquis (ver o desenho síntese). Terminando com retorno de proposições mais estruturadas, que apresentam uma clara visão estratégica, aonde o tempo e o impacto de cada investimento é avaliado a partir de sua capacidade de gerar sinergia entre moradores, pequenos investidores e novos habitantes.  ao longo do tempo. Mas na verdade, o processo é contínuo e deve ser parametrizado por objetivos claros, de fácil apreensão por todos, de forma que a medição do plano e do projeto seja socialmente compartilhada.

Do ponto de vista do IAB-RJ e das entidades de arquitetura e urbanismo que participaram desse esforço nos parece interessante implantar metodologia de assessoramento similar, que rompesse com a tradição instalada no país de demanda exclusiva por parte dos entes governamentais e empresariais, pulverizando entre diferenciados atores a possibilidade de pensar um contra projeto.


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