No último dia 12 de julho de 2017 foi realizado no auditório do Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento do Rio de Janeiro (IAB-RJ) debate sobre Estudos, Planos e Projetos de Impacto Metropolitanos para a conrbação de 21 municípios que compões a Cidade Metropolitana do Rio de Janeiro. O encontro articula as Escolas de Arquitetura e Urbanismo da Cidade Metropolitana, o IAB-RJ e a Câmara Metropolitana tentando trazer o âmbito acadêmico para essa pauta de debates. Uma pauta que há muito tempo não vem sendo fomentada nas cidades brasileiras, e particularmente no âmbito do estado do Rio de Janeiro e de sua cidade metropolitana não estão sequer citadas. O planejamento territorial nas cidades brasileiras, e particularmente nas nossas duas megacidades (São Paulo e Rio de Janeiro) é fundamental para a construção de uma carteira de projetos mais responsável e articulada com as aspirações do vir a ser dessas aglomerações. Não podemos mais ficar no campo do Planejamento Territorial vagando a ermo, sem termos objetivos muito claros, que possam inclusive ser monitorados ano a ano, de forma a checar o seu efetivo alcance. O desenvolvimento urbano precisa estar articulado com o meio ambiente, com a oferta de serviços, com a atividade econômica para que tenhamos cidades com maior equidade.
As cidades brasileiras são máquinas de exclusão das suas populações, a expansão territorial da Cidade Metropolitana do Rio de Janeiro é da ordem de 32km2 por ano, o que representa um imenso problema ambiental, social e econômico. A medida que essas aglomerações apresentam índices declinantes de densidade urbana, gerados por essa expansão contínua de sua malha de logradouros e praças no território fica cada vez mais difícil implantar a universalização dos serviços e comodidades inerentes a vida citadina. A questão da densidade e do espraiamento urbano é fundamental de ser enfrentada pelo Planejamento Territorial, pois ela envolve de maneira complexa e recalcada a questão da péssima divisão de renda da sociedade brasileira. A imensa periferização das aglomerações brasileiras e particularmente da Cidade Metropolitana do Rio de Janeiro acabam se transformando numa imensa máquina de exclusão de sua população. As diversas centralidades existentes nessas aglomerações são pontos de concentração de oportunidades de vida, que muitas vezes num espaço curto de tempo mudam o horizonte de famílias precarizadas. Garantir o acesso amplo a essas centralidades significa a possibilidade de inclusão efetiva de um contingente populacional expressivo.
Outro ponto fundamental é a melhora da mobilidade nesse território, garantir que as pessoas em seu movimento pendular, casa/trabalho ou casa/escola não gastem mais de 30 minutos é fundamental para equalizar oportunidades. Para isso é fundamental o investimento em modais de transporte público de alta capacidade, como metrô, trens, e barcas, que se tiverem articulados e coordenados podem garantir uma mobilidade de maior qualidade. A cidade metropolitana do Rio de Janeiro possui uma rede de trens urbanos já implantada, com uma capacidade notável, os ramais da Central do Brasil abarcam um imenso território no seu setor oeste. No entanto, grande parte desse serviço está sucateado, com estações inadequadas, composições de trens antigas, e prestando um serviço ineficiente a sua população, apesar de sua capacidade. Apenas como exemplo, o sistema de trens urbanos da Central do Brasil já carregou na década de 60 1,2milhão de pessoas por dia, hoje tem como usuários apenas 600mil passageiros. Requalificar esse sistema é fundamental para a melhoria da mobilidade na cidade metropolitana do Rio de Janeiro. Do outro lado da metrópole, no setor leste é fundamental a implantação da linha 3 do Metrô, que liga Itaboraí ao centro de Niterói, garantindo para São Gonçalo e Itaboraí melhores condições de mobilidade. Além desses sistemas sobre trilhos é fundamental a requalificação e a expansão do sistema de transportes hidroviários na Baía de Guanabara. As ligações Praça XV/São Gonçalo e Praça XV/Duque de Caxias, que estão previstas no PDTU de 2002 poderiam descarregar grande parte do fluxo de carros, tanto na Ponte Rio/Niterói, quanto na Linha Vermelha.
O terceiro eixo fundamental do Planejamento Territorial da Cidade Metropolitana do Rio de Janeiro é o desenvolvimento de um novo olhar sobre nosso Patrimônio Construído. Tal postura, inclusive reforça a primeira questão do adensamento da mancha urbana, pois a reutilização de estruturas já construídas precisa ser revalorizada em nossa cultura. A expansão urbana interminável é muito incentivada por um certo fetiche dos novos bairros, ou novas ocupações, que invariavelmente roubam territórios do meio natural. A ideologia da moradia num idílio próximo à natureza continua forte nos corações e mentes de nossa população, que retro alimenta os lançamentos imobiliários de baixa densidade nas periferias intermináveis de nossas metrópoles. Esse pensamento hegemônico precisa ser combatido estabelecendo-se um novo paradigma de reocupação e reutilização de antigas estruturas já construídas.
O quarto e último eixo fundamental da ocupação do território no Planejamento da Cidade Metropolitana do Rio de Janeiro são as Unidades de Conservação Ambiental, que em nossa metrópole possuem dimensões expressivas no seio da malha urbana. A Floresta da Tijuca, a Floresta da Pedra Branca, o Maciço do Tinguí, o Morro de Estado são contínuos florestais expressivos, assim como as Lagoas de Jacarepaguá, a Rodrigo de Freitas, a de Piratininga, e outros como as Baías de Guanabara e Sepetiba são expressivos acontecimentos em nossa paisagem singular, que representam uma aproximação positiva entre vida natural e urbana. Tais acontecimentos são particulares de nossa aglomeração e possuem um imenso potencial didático e operativo para as metrópoles do século XXI, onde os paradigmas ambientais solicitam do comportamento humano uma atitude mais responsável. Preservá-los, garantindo o acesso de sua população, com um manejo responsável é fundamental não só no âmbito dessa metrópole do Rio de Janeiro, mas no contexto das aglomerações urbanas contemporâneas.
Esses seriam os quatro pontos fundamentais para orientar o desenvolvimento territorial de nossa metrópole; densidade, mobilidade, patrimônio pré existente, e meio ambiente, que demandam uma nova metodologia de abordagem a partir de Projetos Multifuncionais e Multidisciplinares. As propostas deverão articular múltiplas especialidades e resolver problemas de diferentes âmbitos, tais como; drenagem, poluição, mobilidade, centralidades, preservação do patrimônio, densidade habitacional, etc... Enfim, estamos diante de um imenso desafio...
O debate no IAB-RJ apenas se iniciou, mas os potenciais dessa pauta são imensos e múltiplos, com consequências marcantes para as futuras gerações. Abaixo o link para matéria do IAB-RJ
http://www.iabrj.org.br/alunos-da-uff-exibem-pesquisas-sobre-a-regiao-metropolitana-do-rio
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