A Lagoa-Barra, obra de setenta que vinculou a Barra a Zona Sul |
Recentemente, o
governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, e o prefeito Marcelo
Crivella, divulgaram na grande mídia o interesse em ampliar a linha do
metrô carioca do Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca,
até o Recreio dos Bandeirantes. Os recursos para a implantação da obra
viriam de Certificados de Potencial Adicional de Construção (CEPACs), a
serem obtidos nos terrenos vizinhos das futuras estações do metrô,
basicamente localizadas ao longo da Avenida das
Américas. Importante salientar que grande parte do capital imobiliário
da cidade atua na região, não precisando de incentivo. A última gestão
municipal, inclusive, construiu uma extensão da linha do BRT, ligando o
Terminal do Cebolão à Estação Jardim Oceânico
do metrô, que na prática faz a conexão com o Recreio, anunciada pelos
poderes executivos cariocas.
Mais uma vez, percebe-se
um caráter imediatista nas ações dos governos do Rio de Janeiro, tanto
municipal, quanto estadual, avessos aos planejamentos estruturados, ou
ao menos de promover um debate aprofundado
sobre as obras e as infraestruturas mais prioritárias para o conjunto
da população. Duas perguntas objetivas emergem da ampliação já realizada
no metrô carioca até o Jardim Oceânico, ligando a Barra da Tijuca a
Ipanema, ao custo de R$ 10 bilhões: qual o percentual
da população carioca beneficiada pela obra? Qual a extensão do debate
que precedeu a decisão de fazer esse investimento?
Se utilizarmos como
referência apenas a população existente no Recreio e na Barra da Tijuca,
chega-se a 180 mil pessoas, ou 3% da população do município (6 milhões
de habitantes), e pasmem apenas 1,5% da população
da cidade metropolitana do Rio de Janeiro (12 milhões de habitantes).
Ao analisar esses dados, percebemos que tanto o debate, quanto a
relevância dessa última obra nasceram de decisões arbitrárias e
irrelevantes para grande parte da população da metrópole
carioca. E isso por absoluta ausência de debate sobre o plano de obras
do metrô carioca, seus custos e as alternativas possíveis de serem
analisadas.
Desde o Plano Lucio
Costa, em 1969, as regiões da Barra e da Baixada de Jacarepaguá contam
com investimentos públicos vultuosos, que viabilizam grandes lucros
privados. A obra rodoviária que ligou a Gávea à Barra
da Tijuca, inaugurada em 1971 e custeada pelo governo federal,
beneficiou os investidores imobiliários, que lançaram novos
empreendimentos com nomes de Nova Ipanema e Novo Leblon, claramente vinculados à Zona Sul. Na verdade,
todos sabiam que a conexão natural da Barra da Tijuca era com Madureira,
pela Avenida Cândido Benício, no entanto essa ligação não garantia o vínculo de glamour habitacional obtido com a Zona Sul.
O Departamento Rio de
Janeiro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), desde 2010,
defende a requalificação dos ramais de trens da Central do Brasil. A
obra é prioritária e fundamental para garantir maior
qualidade para a mobilidade na cidade. Na Zona Norte carioca, em Santa Cruz e Campo Grande e em
municípios como Caxias e Nova Iguaçu, que são atendidos pelos ramais de trens metropolitanos, vivem cerca de 9 milhões de habitantes, gente que
merece ser levada em conta pelas obras de infraestrutura
da cidade. O projeto da cidade brasileira não pode mais ser fruto da
arbitrariedade de governos passageiros. Precisa estar ancorado na
premissa de uma política de Estado, para melhorar a qualidade de vida da
grande maioria de sua população, e não só de uma
minoria.
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