sábado, 21 de maio de 2016

Debate com Janice Perlman no IAB-RJ mostra o desenvolvimento humano das favelas cariocas

Foi realizado na última quarta feira dia 18 de maio de 2016, debate com a americana Janice Perlman no IAB-RJ sobre o desenvolvimento humano da população das favelas cariocas. O evento foi carregado de forte carga emocional, pela apresentação do desenvolvimento social de moradores concretos das favelas cariocas, numa trajetória de mais de quarernta anos. O encontro celebrou também o centenário de nascimento da jornalista, também americana, Jane Jacobs, - autora do livro Morte e Vida das Grandes Cidades Americanas - que estaria comemorando cem anos, se estivesse viva. A jornalista e ativista americana teve um papel fundamental na cultura arquitetônica do segundo pós guerra, com sua proposta de dar protagonismo ao usuário dos espaços da cidade, impondo uma nova práxis para os profissionais.

"As cidades tem a capacidade de prover algo para alguém, somente porque, e apenas quando, são criadas por todos... Não existe melhor expert na cidade do que aqueles que vivem e experimentam seu dia a dia." JACOBS 2000 página 20

O posicionamento de Jacobs formou e informou as práticas de Janice nos anos sessenta no Rio de Janeiro, trazendo um olhar respeitoso para os esforços comunitários das comunidades faveladas, que impulsionaram a inserção social dos seus habitantes. A compreensão do espaço das favelas como máquinas impulsionadoras da inserção social e da melhoria das condições de vida foram descritas e analisadas a partir de casos concretos de famílias variadas e em localidades diferenciadas.

A coordenadora da ONG Megacities, Janice Perlman iniciou sua apresentação mostrando as condições de favelas como Catacumba e Praia do Pinto no ano de 1968, quando iniciou suas pesquisas na cidade do Rio de Janeiro. Nesse momento, Janice morou na extinta favela da Catacumba, na Lagoa Rodrigo de Freitas, num barraco de madeira, com uma familia que já naquela época não contava com a presença do pai, que num dia saiu para ir a farmácia e nunca mais voltou. Janice também apresentou um panorama da luta das comunidades faveladas no Rio de Janeiro, que parte do estigma da remoção nos anos sessenta, passa pela consolidação nos anos oitenta e noventa com os programas do Mutirão e depois com o Favela-Bairro, chegando ao momento atual, quando retorna o fantasma da marginalidade e novamente da remoção.

Os casos da Vila Autódromo, do PAC de Manguinhos e da implantação do teleférico no Complexo do Alemão foram apontados como esforços desestruturados e impensados, que acabaram apresentando poucos benefícios para as comunidades, atendendo mais aos interesses das construtoras, do que dos moradores. Nessas experiências percebe-se o declínio do tempo e da importãncia dada à fase de planejamento e de projeto, determinando um declínio na participação e mobilização das populações interessadas. A experiência de Medellin na Colômbia, que foi em grande parte inspirada nos exemplos do Favela-Bairro, foi apontada como um caso notável, onde a estruturação dos projetos a partir da participação e mobilização dos moradores, a implantação das obras e sua manutenção seguem apresentando resultados eficientes e notáveis.

Após a exposição de Janice Perlman foi franqueado o microfone para perguntas e questionamentos da platéia, destaco aqui apenas uma questão suscitada pelo presidente nacional do IAB, Sérgio Magalhães. Que a partir da menção ao sociólogo Richard Senett no livro A corrosão do caráter, mencionou a monetarização da produção habitacional nos EUA, gerando a partrir disso um forte desenraizamento dos usuários com relação ao seu habitat. O problema colocado pela questão é extremamente complexo, e sua resposta não pode ser simplificada ou romantizada, mas sem dúvida, o engajamento na auto-produção de seu próprio espaço é um aspecto fortalecedor dos laços entre morador e lugar.

A cidade do Rio de janeiro possui 22% de sua população morando em favelas, São Paulo apresenta 20%, esses números demonstram a importância desses assentamentos na constituição da própria realidade de nossas metrópoles. O enfrentamento dessa dinâmica demanda urbanização e políticas continuadas de manutenção dos serviços públicos implantados, de forma a que essa população participe das benesses da cidade. Janice Perlman, com seu olhar estrangeiro e suas pesquisas levou-nos de forma suave e serena para o cotidiano dessa população mostrando como a micro economia desses locais pode impulsionar nosso desenvolvimento humano de forma potente.

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