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Forte dos Reis Magos e a Ponte Newton Narvarro na foz do rio Potengi |
O forte dos três Reis Magos em Natal é uma obra de arquitetura e engenharia militar, com um caráter excepcional, construído sobre os recifes na foz do Rio Potengi com o Oceano Atlântico na cidade de Natal, a capital do estado brasileiro do Rio Grande do Norte. Segundo diversas fontes, a construção do forte se iniciou em 06 de janeiro de 1598, por isso o seu nome dos Reis Magos, seguindo a tradição portuguesa de nomeação dos sítios a partir de sua chegada. A obra envolveu esforços notáveis, pois a construção sobre os recifes, num meio constantemente fustigado pelo mar deve ter mobilizado tecnologias e meios nada banais no século dezesseis. O forte foi inaugurado em 1602, quatro anos apenas após o início das obras
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Vista do pátio central do Forte |
Apesar do feito, a obra como grande parte da arquitetura portuguesa possui uma singeleza impressionante, que é obtida por uma manipulação inteligente da escala, que lhe confere um aspecto grandioso e monumental, sem ser exagerado e grandiloquente. Na arquitetura colonial brasileira há outros exemplos, que atestam essa forma sensível de interpretar um determinado sítio ou lócus, conferindo a obra uma forte adequação ao sítio em que se implanta. A Igreja do Outeiro da Glória no Rio de Janeiro, ou o Adro de Bom Jesus do Matosinhos do Aleijadinho, na cidade de Congonhas do Campo em Minas Gerais são exemplos dessa manipulação sensível da escala, capaz de destacar elementos sem investir na grandiosidade. Há na arquitetura colonial portuguesa no Brasil uma concisão de recursos, que parece dar a certas obras um caráter essencial, onde todos os esforços não são desmedidos, mas precisos e adequados.
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O marco português de fundação das cidades ultramarinhas no Forte em Natal |
Essa implantação e atitude simples, mas capacitada a criar um domínio do território expressivo, contrasta com a prepotência e ostentação da nova ponte Newton Navarro sobre o Rio Potengi, que se localiza próximo ao forte. Uma ponte estaiada, como outras que surgiram na paisagem das cidades brasileiras dentro do contexto das obras para a Copa do Mundo de 2014. A idealização da ponte é de 1996, o início das obras em 2004, e sua inauguração em 2007, portanto muito mais tempo de projeto e obras, que o singelo forte seiscentista. Apesar desse maior tempo, a ponte segue uma atitude prepotente, com uma ostentação desnecessária, incapaz de compreender, interpretar e adicionar uma transformação sensível a um sítio notável, da foz do Rio Potengi na cidade de Natal.
A simplicidade, a singeleza e até uma precariedade de recursos parece produtora de uma melhor adequação ao sítio, uma lição que permanece válida para um país que volta e meia se envolve com sonhos de grandeza, que me parecem mais próximos de uma ostenatação desnecessária e desmedida. Os tempos são outros, os recursos são muito maiores, o programa e as demandas também, mas onde se perdeu essa capacidade de se adequar a um sítio, que não tem nada de banal?
Excelente comparação entre a arquitetura militar de um país colonial e a arquitetura e engenharia civil de uma plutocracia comandada por empreiteiras de obras públicas privatizadas e oligopolizadas. Tristes trópicos.
ResponderExcluirÉ Daruiz, mas acho que a arquitetura colonial portuguesa continua apresentando melhores resultados. Apesar de concordar com sua leitura; será que nosso campo possui uma certa autonomia? Ou não?
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