quarta-feira, 15 de julho de 2015

Debate sobre a Baía de Guanabara reune arquitetos e biólogos

Pedro da Luz (Presidente do IAB-RJ) na palestra sobre a Baía
de Guanabara
Na última quinta feira na Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro estavam reunidos arquitetos e biólogos para debater a despoluição da Baía de Guanabara. Estavam presentes como palestrantes, Mariana Guimaraens, bióloga da UFPE, Bruno Meurer, biólogo da Santa Úrsula, e eu (Pedro da Luz Moreira) presidente do IAB-RJ. A interdisciplinaridade foi a tônica da noite.

Como arquiteto procurei defender a idéia de que a relação entre cultura e natureza nas sociedades vem se modificando desde o início do século XX, desde de uma atitude de rejeição até a de uma aproximação de respeito e de busca de um maior entendimento.

Na minha palestra a cultura foi caracterizada como uma manifestação típica da humanidade, e que envolve as complexas interações do homem, como uma espécie que tende a independência do natural, e que, na verdade nunca é realizada. E o conceito de natureza,  que era entendido como o complexo de sistemas que envolve as vidas naturais, não humanas, que tenderam a ser vistas como além do comportamento humano. A cidade com sua vida artificial tendeu a ser o arquétipo do desenvolvimento da cultura, enquanto o meio natural inexplorado e intocado pelo homem seria a representação da natureza.

Imagem do projeto de saneamento do Manguezal de São
Diogo

A partir das bombas de Nagasaki e Iroshima em 1945, que marcam o final da segunda grande guerra inicia-se um processo de desconfiança com relação ao industrialismo e a padronização, desenvolve-se a consciência da finitude de alguns recursos retirados do planeta, abrindo-se uma perspectiva de uma visão de maior preservação e conservação. Na palestra mostrei o caso da transformação operada no inicio do século XX (1905), com a transformação do Saco de São Diogo de um manguezal para um típico boulevard parisiense, reafirmando que esse posicionamento não é mais possível na contemporaneidade, pela consciência dada a partir da constatação do imenso potencial destrutivo da ciência alcançado e realizado pelas bombas nucleares.

Na contemporaneidade reafirmamos uma noção de cultura, não mais como artificialidade humana, mas como um cuidar que também cresce naturalmente, como um didatismo, que é auto-formador de consciência. Nesse sentido as palavras de EAGLETON 2005 são esclarecedoras;
"Se cultura significa cultivo, um cuidar que é ativo, daquilo que cresce naturalmente, o termo sugere uma dialética entre o artificial e o natural, entre o que fazemos ao mundo e o que o mundo nos faz. É uma noção realista, no sentido epistemológico, já que implica a existência de uma natureza ou matéria prima além de nós; mas tem também uma dimensão construtivista, já que essa matéria prima precisa ser elaborada numa forma humanamente significativa."
O Aterro do Flamengo, projeto emblemático do modernismo brasileiro lança uma aproximação entre cultura e natureza mais dialética, uma vez que implica no reconhecimento do natural e na adoção de um construtivismo didático para provocar uma aproximação positiva entre cidade e natureza. A cidade metropolitana do Rio de Janeiro carrega uma experiência ímpar nesse sentido, pois está permeada de contínuos naturais expressivos no meio da vida artificial. Um local onde  essa experiência contemporânea está espacializado e conformado.


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