terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Mais um texto sobre New Haven: O condomínio de Beaver Hills

Pórtico de acesso ao bairro de Beaver
Hills em New Haven
Mais uma vez retorno a cidade de New Haven, onde está localizada a universidade de Yale, ao norte de Nova York, onde também meu irmão Paulo trabalha como professor de literatura comparada. As temperaturas por aqui na época do final-começo do ano estão constantemente abaixo de zero e no máximo em torno dele. Apesar disso me arrisquei em caminhadas pelo bucólico bairro onde ele vive, Beaver Hills a nordeste do centro da cidade, a área é limitada pela Crescent Street, Geoffe Terrace e Boulevard Street. E, é um dos primeiros subúrbios americanos a ser desenvolvidos, estando preservada no Registro Nacional de Lugares Históricos (National Register of Historic Places), havendo uma clara predominância de casas em estilo Tudor. A criação da Compania Beaver Hills, que fará o empreendimento é de 1908, desmembrando as fazendas de três famílias Mead, Osborn e Farnham.

Aerofotogramétrico da implantação do bairro de Beaver Hill
O pórtico de entrada de Beaver Hills na Geofe Terrace ainda está lá, com um logo do empreendimento num ladrilho com a representação de um castor estilizado. As quadras de maneira geral possuem dimensões retangulares, alojando dois lotes enfileirados, que se confrontam nos fundos. As ruas são extremamente generosas, já apresentando dimensões rodoviárias, quatorze metros de caixa de asfalto. Todas as ruas apresentam a mesma disposição, havendo apenas uma que se distingue das demais, a Boulevard, que apresenta um canteiro central, que está assinalada no mapa ao lado.

O bairro foi inicialmente desenhado para abrigar a classe média-média e a classe média-alta, tendo passado nos anos oitenta por um processo de deterioração acentuado. O interessante a ser
Imagem do pórtico na Geofe Terrace, marca a
entrada do empreendimento
destacado é que a universidade de Yale atualmente incentiva que seus professores se instalem no bairro, subsidiando o financiamento de habitações, que vem nos últimos anos sendo recuperadas, requalificando o bairro como um todo. A operação demonstra, que a promoção da requalificação urbana nos EUA não é dependente exclusivamente da atuação do poder municipal mas conta com outros agentes, que investem além de recursos, inteligência para melhorar territórios específicos das cidades. A universidade e a cidade identificam nos professores universitários uma categoria mais disposta a aceitar um certo pioneirismo, admitindo conviver com situações de degradação do ambiente habitacional, usando eles para reverter tendências dessa mesma deterioração. A operação já começa a apresentar bons resultados, que nos EUA é sempre medida pela tendência de valorização do preço dos imóveis na região.

A chave do processo está localizada numa certa transparência no trato das informações, como valor dos imóveis, valorização, desvalorização, que são monitorados e medidos numa temporalidade específica, evitando a especulação por parte dos agentes envolvidos. Muito além de um maniqueismo meramente celebratório, que já foi praticado no Brasil intensamente, o que a experiência nos mostra é que a qualificação da cidade é uma responsabilidade coletiva, de todos. E, que a desvalorização e a valorização da terra urbana envolve valores simbólicos, que quando manipulados com transparência podem atender ao interesse público, mesmo na cidade capitalista.

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