quarta-feira, 21 de maio de 2014

Debate no IAB-RJ lança manual de incentivo a bicicletas em Favelas

Foi lançado hoje dia 20 de maio de 2014 o Manual com normas para incentivar o uso de bicicletas em Favelas, com um debate com o arquiteto colombiano Ricardo Montezuma, que foi responsável pelo sistema Transmilênio de BRTs (Bus Rapid Transit) de Bogotá, durante o governo do prefeito Monclós. O debate foi patrocinado pela ONG Embarq Brasil, que é financiada pela Bloomberg Philantropies, estavam presentes a Secretaria Municipal de Habitação e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Cultura da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro.

O arquiteto Ricardo Montezuma iniciou sua palestra descorrendo sobre a apropriação simbólica da bicicleta no mundo contemporâneo, salientando que existe uma mudança de paradigma na forma de se visualizar a bicicleta. A representação social da bicicleta foi apropriada por uma visão que associou-a a uma movimentação limpa, saudável, responsável e ativa. Limpa, porque não poluidora. Saudável, porque geradora de uma vida mais ativa. Responsável, porque não se utiliza de recursos do planeta, e portanto não poluidora. E, ativa pois parte de uma atitude individual que pretende ser um posicionamento autonômo para enfrentar problemas da pauta contemporânea, como poluição, obesidade, saúde, etc...

Para o arquiteto colombiano, a bicicleta nos anos 50 do século XX era muitas vezes vista como um símbolo da carência de recursos e precariedade. Os países que então se utilizavam da bicicleta de forma intensa eram China, Vietnam e India e se associavam a formas de vida com escassez de recursos e limitações para uma mobilidade de maior conforto. A partir da década de 70 com a crise do petróleo, e, principalmente na Holanda e nos países nórdicos começa um movimento na base destas sociedades de celebração da bicicleta, como forma comportamental diferenciada. Os dados relativos a nossa contemporaneidade, apresentados pelo arquiteto colombiano são impressionantes; 26% da população holandesa se movimenta exclusivamente de bicicleta, 18% na Dinamarca, 12,5% na Suécia. E, o mais novo membro deste clube, a Alemanha apresenta 10% de sua população que se movimenta exclusivamente de bicicleta. Esse cenário também vem apresentando emergências inesperadas, como os EUAs, a França e a Espanha, que a partir de redes sociais diferenciadas vem forçando seus governos a ampliar as vias, os desenhos e as comodidades para os usuários. Na Espanha, nos últimos anos pela primeira vez o número de compra de bicicletas superou o número de compra de carros, é claro também que tal fato se deve a crise econômica pós 2008 que assola esse país.

O fenômeno está estreitamente articulado com a emergência das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), que celebram redes sociais que elegeram a bicicleta como um novo padrão de comportamento. O arquiteto colombiano mencionou um evento que se reproduziu viralmente na internet no mundo todo, marcado para amanhã dia 21 de maio, que marca a morte de ciclistas  no trânsito de nossas cidades por veículos motorizados. O evento menciona o uso de bicicletas brancas e a utilização de roupas brancas pelos ciclistas, simulando fantasmas que se movimentariam em nossas cidades, representando os ciclistas sacrificados nas ruas. O consumismo e o fetihismo da mercadoria e de formas de vida do nosso capitalismo contemporãneo parece ter também colonizado o outrora vanguardista "bicicletismo"? De qualquer forma assim como há cooptação pelo capital - foi mencionada a bicicleta desenhada por Philip Stark ou a da grife Loui Vuiton, que assumiram preços exorbitantes - há também resistência, em várias cidades, já surgem lojas que propõe aos usuários remontar bicicletas a partir de escombros ou partes de antigas recicladas, saindo do ciclo da produção convencional.

Enfim, a palestra do arquiteto Ricardo Montezuma foi um provocante estímulo a confrontação das idéias e aos pensamentos e ideologias que condicionam o cotidiano de nossas cidades. Ao final, procurei pontuar que as ações de desenho e de projeto que celebram a utilização das bicicletas deveriam se enquadrar ao sistema geral de mobilidade das cidades, procurando se enquadrar de forma complementar aos modais de alta capacidade, como trens, barcas e BRTs. No Rio de Janeiro, uma cidade de clima quente, deveria também pensar-se em instalar nos grandes estacionamentos de bicicletas, apoio como vestiários e outras comodidades, que permitissem aos usuários a operação cotidiana das magricelas.



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