segunda-feira, 12 de maio de 2014

Copa do Mundo, sociedade do espetáculo, paixão e política

Paulo Mendes Campos escreveu numa crônica emblemática, num tempo menos beligerante e mais ameno, que; "O brinquedo essencial do homem é a bola." Essa é a justificativa para nossa paixão pelo futebol. Nós a humanidade de forma geral, e, não apenas brasileiros alienados e despolitizados. Portanto, aqui na frase anterior, a palavra "nossa" se refere ao conjunto da humanidade, ou, melhor dizendo aos 3,6 bilhões de telespectadores previstos para assistirem a futura copa do mundo no Brasil. O poder nacional sempre procurou faturar vitórias da seleção brasileira, desde ditadores como Médici 1970 ou democratas como Lula 2002. No entanto, sou de opinião que a magia enlouquecedora e alienante do futebol só dura os noventa minutos da partida, ou no caso da Copa do Mundo há a possibilidade de se estender por cento e vinte minutos em função das eventuais prorrogações ou penaltis, mas ela termina com o final da partida. Todos voltamos a consciência e aos nossos problemas depois de terminada a partida.




Na minha experiência particular, apesar de ser um apaixonado por futebol a Copa do Mundo nunca me envolveu de forma definitiva. Gosto de acompanhar os bons jogos, mas de uma maneira geral me transformo num esteta distante e confortável, sem muito envolvimento. Em algumas ocasiões como em 1970 ou 1992 ou mesmo em 2002, quando tínhamos jogadores excepcionais, torci pelos jogadores brasileiros, mais que pelo time. Em tempos passados havia uma antiga prática, que me parece interessante para reacender a paixão pela seleção canarinho, a convocação de escolhidos com base em um ou dois times. Na década de sessenta fez-se convocações, que tinham como base equipes de times específicos, que apresentavam um futebol excepcional, como o Botafogo e o Santos, acrescidos de alguns jogadores de outros times. Essa era uma prática para fazer frente ao pouco tempo disponível para se treinar um grupo. Aliás a internacionalização do futebol afastou muito o significado da paixão pela seleção nacional, pois de uma maneira geral não acompanhamos mais a trajetória dos nossos jogadores, que são estranhos aos nossos clubes. E, para mim a paixão pelo futebol está centrada no clube.




No entanto, o que também gostaria de destacar aqui é o projeto da Copa do Mundo no Brasil. Onde se percebe um esforço premeditado de afastar a presença da espontaneidade das manifestações populares de nossos estádios, uma elitização do público. Mais uma vez nossas elites demonstram uma incapacidade de pensar com autonomia, desenvolvendo um projeto específico para nosso país. É interessante que numa área em que conquistamos uma certa hegemonia mundial, como nos campeonatos da Copa do Mundo; afinal, somos Penta Campeões. As elites governantes do Brasil não souberam pensar e formular um projeto próprio. Suprimiram com as gerais, com os lugares baratos, reproduzindo os estádios europeus, onde o ingresso é caro, e onde, quem vai aos estádios são só os endinheirados. Aliás, é preciso destacar que na Alemanha, onde o futebol envolve apaixonados equivalentes aos brasileiros, os estádios são mais inclusivos, diferenciando claramente esse país do conjunto da Europa.




No Brasil a tradição era outra, a presença da espontaneidade das classes populares fazia a fortuna do espetáculo. Cansei de levar gringos ao Maracanã ou ao Mineirão, que se encantavam com o espetáculo das arquibancadas e das gerais, muitas vezes esquecendo de ver o jogo. Eu mesmo vivi momentos inesquecíveis na torcida do Flamengo que pegava músicas das torcidas adversárias e recriava no calor da disputa, na hora em que o time mais precisva...

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