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Vista da cidade de Istambul da torre de Galata para o casco mais antigo |
A reunião da UIA (União Internacional dos Arquitetos) foi realizada nos dias 06 e 07 de fevereiro na cidade de Istambul na Turquia. Em função da candidatura do Rio de Janeiro, que pretende sediar o Congresso Internacional desta mesma união em 2020, estivemos Sérgio Magalhães, presidente do IAB, e eu, Pedro da Luz Moreira, presidente do IAB-RJ na cidade de Istambul para esta reunião. A cidade de Istambul na beira do estreito de Bósforo é uma das mais belas capitais da Europa. Para nós de filiação portuguesa, ela lembra um pouco o Porto em Portugal ou Salvador no Brasil, com seus contrastes entre cidade baixa e alta. Pontilhada de mesquitas e minaretes, sobre uma topografia com uma série de colinas, ela é uma das mais antigas cidades do mundo. Foi fundada como colônia grega em 657 A.C. Muito além deste passado monumental a cidade continua viva, com seus atuais quinze milhões de habitantes, e com um centro histórico cheio de atividades econômicas e muita vida; banhos turcos antigos, comércio variado, especiarias. Enfim, uma vitalidade contagiante.
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A grande diversidade do Grand Bazar |
No dia 05 de fevereiro estivemos numa loja de tapetes no Grand Bazar, cujo o dono falava um português fluente, e, nos disse que ele era a inspiração para a composição do personagem Mustafá na última novela da Globo, Salve Jorge. Segundo este mesmo personagem, a autora Glória Perez, era sua amiga e se utilizara de seus relatos de vida para compor o personagem Mustafá. Muito além desta folclórica história, o que impressiona no Grand Bazar, assim como no comércio do centro de Istambul é sua pulverização em uma grande variedade de agentes e lojas. Muito longe da tendência de padronização e domínio de grandes cadeias, como Zara, Starbucks, Mc Donald e outras, há um comércio local poderoso, que negocia mercadorias únicas, que só se encontram em Istambul, e que acabam por dar uma personalidade toda especial a esta cidade entre o Oriente e o Ocidente. Ao contrário de uma certa museificação, que dominou as cidades mais antigas do mundo, o centro da cidade de Istambul é um local vivo, que garante a sobrevivência de uma variedade de atores e agentes. O resultado é a presença de uma cidade com personalidade única, um lugar que só pode ser desfrutado ali - a Istambul contemporânea - que deveria ser o principal objetivo das agências governamentais de turismo do mundo. Ao contrário da homogeneização do comércio, o fomento de uma atividade comercial única e particular.
Por outro lado, há na cidade de Istambul na gênese da sua morfologia de espaços públicos (ruas e praças) outra importante lição para nós arquitetos. A espacialidade de suas ruas, vielas, becos e mesmo pequenas praças se assemelha em muito ao desenvolvimento de nossas favelas no Brasil. Ambas seguem a tradição da cidade árabe e também medieval, que possuem uma gênese na qual, a casa, o espaço particular ou privado, antecede ao espaço público, da rua, como primeira conformação. Muito além de uma simplificação celebratória, o que Istambul nos ensina é que o espaço da favela possui potencialidades e qualidades, que quando recebem as devidas atenções públicas, via urbanização e oferecimento de infraestrutura urbana adequada podem se tornar em espaços muito agradáveis e aprazíveis.
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