Cartaz do lançamento do livro de Ana Paula Koury |
No dia 03 de dezembro de 2019, uma terça feira chuvosa no Rio de Janeiro foi o lançamento do livro da Ana Paula Koury sobre Rodrigo Lefèbvre na sede do IAB-RJ, na rua do Pinheiro, 10 no bairro do Flamengo, ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA, UMA CRISE EM DESENVOLVIMENTO. Um livro notável, que se debruça sobre um período da arquitetura brasileira, que parece esquecido por nossa historiografia recente e pelas gerações mais novas de arquitetos e estudantes. Um período, que se sucedeu a construção de Brasília a nova capital do Brasil e o Golpe Civil-Militar de 1964, e envolveu figuras como Rodrigo Lefèvre, Flávio Império, Sérgio Ferro em São Paulo, e Carlos Nelson dos Santos e João Ricardo Serran ou Joca Serran no Rio de Janeiro. Figuras, que emergem e convivem com arquitetos personalistas e calcados no mecenato, como; Vilanova Artigas, Lucio Costa e Oscar Niemyer, dentre outros. Um período, e uma geração que iniciaram uma revisão crítica importante, que com a tendência brasileira de se desfazer e desprezar sua própria história nos indica, a perigosa possibilidade de repetição de erros.
Essa geração enfrentou, em meados dos anos sessenta a perda das liberdades democráticas e repetidos constrangimentos às suas expressões e posicionamentos, foram presos e exilados, mas apesar disso nos legaram uma reflexão importante no campo da teoria do projeto e da construção da nação. O país se defrontava com a massificação da contratação do plano e do projeto, instrumentos fundamentais na ampliação da participação societária na definição de seu futuro. O plano e o projeto ainda representavam documentos respeitáveis de antevisão das intervenções solicitadas, iniciando um processo de ampliação dos agentes indutores das suas definições. A profissão e o ofício do urbanismo e da arquitetura, como formuladora de planos e projetos era ainda considerada como uma elite intelectual, capaz de sintetizar e debater os grandes temas nacionais. A modernidade de Brasília expressa em seu traçado e em sua arquitetura contrastava com as formas arcaicas de contratação do precariado brasileiro, que povoava os canteiros de obras, e ficou relegado as periferias das cidades satélites. A convivência entre a face modernizadora superficial e o arcaísmo das relações entre topo e base da pirâmide social se explicitava de maneira emblemática nos canteiros de obra da nova capital, era uma modernização por cima, sem que o conjunto social o desfrutasse. A geração de Rodrigo Lefèvre, Sérgio Ferro, Carlos Nelson dos Santos e Joca Serran tomou consciência dessa realidade e a discutiu, a partir de suas pranchetas, com os instrumentos do nosso ofício.
De certa forma, a ausência de uma maior sinergia e interação entre a arquitetura paulista e a carioca já pode ser identificada nesse momento, pois ao final pelo que sei as citações mútuas entre esses autores são inexistentes, apesar da similaridade de abordagens e reflexões. Duas cidades afastadas por apenas 450 quilômetros simplesmente não se liam, e ainda não se leem mutuamente. A vertente paulista se mantém mais presa aos aspectos tecnológicos, produtivos e construtivos, enquanto a carioca se envereda mais por questões de composição, uso e uma sociologia aplicada. Apesar disso, ambas conseguem reconstruir um campo específico do urbanismo e da arquitetura, sempre centrados nas ações de plano e projeto. Basta para tal checarmos as páginas de A Cidade como jogo de cartas de Carlos Nelson dos Santos, ou O IAB e a política habitacional de Joca Serran, ou ainda os textos de Sérgio Ferro e de Rodrigo Lefèvre. Há nessa geração uma preocupação comum para entender a arquitetura e o urbanismo como uma linguagem construtiva disponível para todos e manipulável socialmente. A arquitetura das favelas e da auto construção, as formas de apropriação social do discurso erudito das escolas de arquitetura, a assimilação das técnicas do concreto armado, e a produção da cidade brasileira, enfim arquitetura como linguagem.
Essa geração enfrentou, em meados dos anos sessenta a perda das liberdades democráticas e repetidos constrangimentos às suas expressões e posicionamentos, foram presos e exilados, mas apesar disso nos legaram uma reflexão importante no campo da teoria do projeto e da construção da nação. O país se defrontava com a massificação da contratação do plano e do projeto, instrumentos fundamentais na ampliação da participação societária na definição de seu futuro. O plano e o projeto ainda representavam documentos respeitáveis de antevisão das intervenções solicitadas, iniciando um processo de ampliação dos agentes indutores das suas definições. A profissão e o ofício do urbanismo e da arquitetura, como formuladora de planos e projetos era ainda considerada como uma elite intelectual, capaz de sintetizar e debater os grandes temas nacionais. A modernidade de Brasília expressa em seu traçado e em sua arquitetura contrastava com as formas arcaicas de contratação do precariado brasileiro, que povoava os canteiros de obras, e ficou relegado as periferias das cidades satélites. A convivência entre a face modernizadora superficial e o arcaísmo das relações entre topo e base da pirâmide social se explicitava de maneira emblemática nos canteiros de obra da nova capital, era uma modernização por cima, sem que o conjunto social o desfrutasse. A geração de Rodrigo Lefèvre, Sérgio Ferro, Carlos Nelson dos Santos e Joca Serran tomou consciência dessa realidade e a discutiu, a partir de suas pranchetas, com os instrumentos do nosso ofício.
De certa forma, a ausência de uma maior sinergia e interação entre a arquitetura paulista e a carioca já pode ser identificada nesse momento, pois ao final pelo que sei as citações mútuas entre esses autores são inexistentes, apesar da similaridade de abordagens e reflexões. Duas cidades afastadas por apenas 450 quilômetros simplesmente não se liam, e ainda não se leem mutuamente. A vertente paulista se mantém mais presa aos aspectos tecnológicos, produtivos e construtivos, enquanto a carioca se envereda mais por questões de composição, uso e uma sociologia aplicada. Apesar disso, ambas conseguem reconstruir um campo específico do urbanismo e da arquitetura, sempre centrados nas ações de plano e projeto. Basta para tal checarmos as páginas de A Cidade como jogo de cartas de Carlos Nelson dos Santos, ou O IAB e a política habitacional de Joca Serran, ou ainda os textos de Sérgio Ferro e de Rodrigo Lefèvre. Há nessa geração uma preocupação comum para entender a arquitetura e o urbanismo como uma linguagem construtiva disponível para todos e manipulável socialmente. A arquitetura das favelas e da auto construção, as formas de apropriação social do discurso erudito das escolas de arquitetura, a assimilação das técnicas do concreto armado, e a produção da cidade brasileira, enfim arquitetura como linguagem.
O relacionamento da velha geração e a nova, com o nacional-desenvolvimentismo e a formulação de uma nova postura de desenvolvimento nacional-popular, que permanece em nossa pauta contemporânea, me parece a contribuição maior do livro de Ana Paula Koury, que traz de novo a tona um debate fundamental da nossa arquitetura. Uma marca na transição entre, "a passagem de um projeto nacional-modernizador-autoritário para outro nacional-democrático-popular." Uma bela e necessária reflexão para a cidade e a arquitetura brasileira.
Vale a leitura...
BIBLIOGRAFIA:
KOURY, Ana Paula, org. - Arquitetura Moderna Brasileira, uma crise em desenvolvimento, textos de Rodrigo Lefèvre (1963-1981) - Editora da Universidade de São Paulo Edusp 2019 São Paulo
SANTOS, Carlos Nelson dos - A cidade como jogo de cartas - editora Projeto Eduff 1987 Niterói
SERRAN, João Ricardo - O IAB e a política habitacional - editora 1983 Rio de Janeiro
Vale a leitura...
BIBLIOGRAFIA:
KOURY, Ana Paula, org. - Arquitetura Moderna Brasileira, uma crise em desenvolvimento, textos de Rodrigo Lefèvre (1963-1981) - Editora da Universidade de São Paulo Edusp 2019 São Paulo
SANTOS, Carlos Nelson dos - A cidade como jogo de cartas - editora Projeto Eduff 1987 Niterói
SERRAN, João Ricardo - O IAB e a política habitacional - editora 1983 Rio de Janeiro
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