Típica Main Street americana |
A rua Wall Street em Nova Yorque, sede da bolsa de valores mais poderosa do mundo |
É absolutamente imperioso que nossa economia passe a beneficiar o conjunto maior da população, ao invés de beneficiar os mais ricos, que invariavelmente produzem mais riqueza para si a partir de processos especulativos, que sequer impulsionam atividades efetivamente empregadoras de mão de obra, produtivas de mercadorias reais, e produtoras de benfeitorias para todos. Nesse sentido, o mesmo presidente Obama declarou em seu último discurso no Conselho de Segurança da ONU;
"um mundo no qual 1% da humanidade controla uma riqueza equivalente à dos demais 99% nunca será estável"
Há fortes indícios de que a concentração de renda está aumentando, segundo recente pesquisa do economista Thomas Pickety nos EUA revela que nos últimos 30 anos, a renda dos 50% mais pobres permaneceu inalterada, enquanto a do 1% mais rico aumentou 300%. O discurso neo-liberal da eficiência produtiva a partir de salários reprimidos e fragilizados ganhou o mundo, determinando um decréscimo da produção na participação da riqueza socialmente construída. Na década de 1980,
produtores de cacau ficavam com 18% do valor de uma barra de chocolate – atualmente,
ficam com apenas 6%. Tal situação mostra como a efetiva produção das mercadorias perde para a circulação, distribuição e comercialização, que assumem volta e meia características especulativas e financeiras. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 21 milhões de pessoas são trabalhadores forçados que geram cerca de US$ 150 bilhões em lucros para empresas anualmente, sendo que a grande parte desse contingente é de mulheres e meninas. Tal situação, deprime a demanda, elitiza o mercado, e radicaliza a concentração de renda.
Por outro lado, há um recorrente discurso, que pleiteia a redução de impostos e a criação de oportunidades a partir da isenção tributária, que impulsionaria a atividade econômica de forma virtuosa para todos. A poderosa Federação das Industrias do Estado de São Paulo (FIESP) no Brasil acaba de fazer violenta campanha contra um imposto denominado Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF) proposto pelo governo federal. E, essa prática não se restringe aos países da semi-periferia do capitalismo central, há relatos de que a Apple pagou apenas 0,005% de imposto sobre seus lucros na Europa em 2014. Na Inglaterra, com um investimento de 2 milhões de libras é possível desfrutar do direito de viver, trabalhar e comprar imóveis no Reino Unido, bem como beneficiar-se de generosas isenções fiscais. Nos EUA a maior alíquota do imposto de renda em 1980 era de 70%, hoje em dia não passa de 40%. O Quênia perde US$ 1,1 bilhão por ano em isenções fiscais para empresas: valor quase duas vezes mais alto que o do seu orçamento para a saúde – em um país no qual a probabilidade de mulheres morrerem no parto é de uma em 40. Uma série de paraísos ficais espalhados pelo mundo disputam o interesse de super-ricos, que não querem mais pagar impostos já reduzidos.
Por tudo isso percebe-se os motivos da vitória de Donald Trump, ou a ameaça que Bernie Sanders representou para as eleições, e a incapacidade de Obama de construir uma continuidade na Casa Branca, apesar dos aspectos simbólicos de suas duas vitórias eleitorais. Enfim, o mundo parece se revoltar de uma maneira não muito consciente, para as consequências criminosas da política do neo-liberalismo.
Bibliografia:
Relatório OXFAM Uma economia para os 99% disponível em https://www.oxfam.org.br/noticias/8-homens-tem-mesma-riqueza-que-metade-mais-pobre-do-mundo
PIKETY, Thomas - O capital no século XXI - Editora Intrínseca Rio de Janeiro 2014
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