A residência do adolescente Jean no filme Casa Grande |
"Deixar de ver um filme como esse é perder a oportunidade de entender melhor quem somos nós."
A estrada Lagoa Barra, uma obra rodoviária, que conectou a Barra da Tijuca à Zona Sul, numa clara estratégia para beneficiar o capital imobiliário. |
Um dos personagens principais da trama é a casa do adolescente Jean, que se localiza no Itanhangá na Barra da Tijuca, num distanciamento encastelado da cidade, e numa aproximação idilica com a Floresta da Tijuca e a natureza. O encastelamento de segurança que é garantido por sistemas modernos de alarme e vigilância, não inclui o quarto da empregada que dorme na casa numa área além da proteção, demandando que Jean drible cotidianamente o sistema, para visitá-la na calada da noite, sem que os pais saibam.
O escritório do pai de Jean, um cenário sem ligação com o restante da casa. Ostentação e Uso desconexos... |
O interior da casa também é uma manifestação interessante do filme, o escritório do pai, o quarto do garoto, as salas, o quarto da empregada, a sala de jantar denunciam a falta de coesão e de ligação entre os compartimentos, como se não pertencessem ao mesmo organismo. A cena do pai de Jean, mostrando a residência para um amigo corretor é memorável, e menciona o recurso meio falsificador do gesso, e da ostentação dos sistemas de som e de segurança. O conjunto todo parece denunciar uma origem principal ostentatória, deslocada do uso efetivo e do conforto das pessooas.
Por último, há também um protagonista de peso, a cidade do Rio de Janeiro, suas autopistas, suas favelas, a exposição ou reclusão a uma certa sociabilidade, a ansiedade adolescente por conhecer e se expor a cultura do país. Fica claro o isolamento a que a classe média alta se determinou com medo da sociabilidade geral desenvolvida pelo país, a partir de motivos de ocasião, ou estruturais. As noites de sábado nas quais os adolescentes e a juventude querem buscar novas experiências, claramente se chocam de forma conflituosa com essa reclusão das familias abastadas.
Ao final, a realização dos anseios sexuais da adolescência de Jean, mesmo quando reproduz comportamentos da "Casa Grande e da Senzala" traz uma mensagem positiva e alegre, que talvez seja uma reconciliação para lá de necessária, anunciada pelas novas gerações, pelo menos através da cultura.
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