Nos dias 02 e 03 de fevereiro de 2015 foi realizado na sede do IAB-RJ o
Encontro Londres e Rio de Janeiro, metrópoles olímpicas em transformação, que pretende estabelecer um canal de colaboração contínua entre o
Royal Institute of British Architectes (RIBA) e o IAB-RJ. Importante salientar que a organização britânica fundada em 1884, assim como a brasileira fundada em 1921 são instituições da sociedade civil, sem portanto qualquer obrigação compulsória de filiação. São portanto instituições nas quais seus filiados se inscrevem pelo livre arbítrio, pela simples vontade de participar do debate.
Os motivos que impulsionam essa filiação são muitos, variados e particulares, mas principalmente giram em torno da questão da promoção da qualidade da produção da arquitetura, ou da produção do espaço construído pelo homem. Há também uma questão recorrente, que essas instituições encarnam na própria sociedade civil, são organizações reconhecidas pelo conjunto da sociedade como idôneas, dotadas de competência específica e capazes de se posicionar de forma independente, frente a interesses particulares.
O encontro com os ingleses se desenvolveu em torno de quatro eixos temáticos. O primeiro envolvia a estrutura da profissão no Reino Unido, na qual os arquitetos do RIBA - Marcus Deeley e Rob Earl - apresentaram os serviços prestados pela instituição, tais como; formação de potenciais clientes demandantes de serviços aos profissionais, concursos de projeto, desenvolvimento geral da qualidade arquitetônica, exposições e debates. Essa apresentação foi restrita a poucos membros do IAB-RJ, dentre os quais estavam o presidente do CAU-RJ Jeronimo Moraes e o professor da FAU-UFRJ Pablo Benetti. Interessante destacar que no Reino Unido existe; o Conselho, que é uma organização a qual os arquitetos são obrigados a estar filiados para o exercício profissional, e o RIBA, que é uma instituição na qual a inscrição é livre sem qualquer obrigatoriedade. Essa estrutura é muito semelhante a do Brasil, onde o Conselho (CAU) é responsável pela fiscalização do exercício profissional, e o IAB é responsável pela promoção da qualidade da arquitetura. Cabe apenas assinalar, que o RIBA no Reino Unido possui oitenta por cento da categoria fidelizada a ele.
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O arquiteto John MacAslan apresenta a cidade de Londres |
O segundo eixo temático envolvia a mobilidade nas duas cidades olímpicas e foi realizado no auditório do IAB-RJ e foi franqueado ao público, que se inscrevera com antecedência. A mesa foi composta por John McAslan, importante arquiteto britânico, nomeado arquiteto do ano em 2009 no Reino Unido, autor do projeto de reestruturação da estação de King Kross, e pelo arquiteto Vicente Loureiro, que é Subsecretário de Estado de Projetos de
Urbanismo Regional e Metropolitano do Estado do Rio de Janeiro. A mesa foi mediada pela arquiteta Fabiana Izaga, vice presidente administrativo do IAB-RJ. O tema da mobilidade das duas cidades partiu das pré-existências colocadas nos seus territórios, suas infraestruturas já instaladas e como essas devem ser consideradas pelos novos projetos. Outra questão importante foi a da legibilidade do sistema como um todo, desde os modais de alta capacidade como o metrô e trens urbanos até suas micro complementariedade, que devem se esforçar para construir na cabeça dos usuários uma descrição coesa, uma leitura capaz de ser reproduzida por qualquer um. A capacidade desses sistemas troncais de transporte de criar uma hierarquia no território, baseada em grandes centralidades e subcentralidade também foi destacada pelos palestrantes. Por último, foi também assinalado a capacidade desses sistemas de induzir a feição do território, criando centralidades, densidades, reorientando o crescimento da mancha urbana a partir da oferta de qualidade de deslocamento, que deve ter rapidez e tarifação acessível.
O terceiro eixo do encontro envolvia a questão do Meio Ambiente e das Cidades, no qual se destacava a questão dos corpos hídricos, como o rio Tâmisa em Londres ou a Baía de Guanabara no Rio de Janeiro, ou ainda as Lagoas de Jacarepaguá na mesma cidade no bairro da Barra da Tijuca. Os palestrantes foram os arquitetos Adam Williams e Ephim Scluger, o primeiro coordenador da firma de projetos AECOM e responsável pelo Masterplan do Parque Olímpico da Barra da Tijuca, e o segundo vice presidente institucional do IAB-RJ. A baía de Guanabara e o rio Tâmisa foram caracterizados como dois acontecimentos ambientais, paisagísticos e conformadores do território das duas cidades, que foram a razão da fundação e do desenvolvimento delas; Londres um porto fluvial e o Rio de Janeiro, um porto de baía. A questão da despoluição e a subsequente manutenção da qualidade ambiental dos corpos hídricos foi articulada com a questão da visibilidade que pode ser criada ou impulsionada por ações de planejamento e projeto. Outra questão debatida foi o da valoração da paisagem e sua capacidade de gerar amenidades para o espaço público da cidade, criando animação e compromisso com a promoção e manutenção da despoluição. Há na interação entre ser urbano e a paisagem natural um certo potencial ou capacidade de criar um didatismo de conservação e preservação.
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Pablo Lazo (ARUP), Otávio Espírito Santo (SMH), Pedro da
Luz Moreira (IAB-RJ) e José Martins de Oliveira (Rocinha) |
No quarto e último eixo de debates foi debatido o tema da Habitação nas cidades, os palestrantes foram; Pablo Lazo, diretor adjunto de Planejamento urbano na ARUP, importante firma inglesa de projetos, o líder comunitáro da Favela da Rocinha José Martins de Oliveira, e Pedro da Luz Moreira presidente do IAB-RJ. Um dos principais pontos que foram abordados foi a centralidade do tema da habitação nas cidades do mundo, e como o valor da terra urbana afeta a dinâmica habitacional em todas as cidades. A ideia de promoção de empreendimentos imobiliários com a presença da diversidade de categorias sociais e de usos, tornando as vizinhanças mais seguras é o grande desafio do nosso tempo contemporâneo. A habitação corresponde a uma demanda de oitenta por cento do solo construído em nossas cidades, e é o único uso que não gera uma sazonalidade especializada no espaço público da cidade. Daí a importância de sua presença em todas as partes da cidade. A definição da correta densidade, que articula a definição do gabarito em altura das edificações, e fachadas amigáveis que impulsionam a vida urbana intensa é também outro grande desafio. No campo mais específico da arquitetura foi também mencionada a importância do desenvolvimento de uma arquitetura mediana de qualidade, que reconstrua uma certa continuidade, e que se afaste dos gestos espetaculares. Por último também foi mencionado a absoluta importância da participação dos usuários na definição do desenho de seu ambiente.
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