Os anos Thatcher e Reagan, no começo dos anos oitenta, determinaram uma predominância do livre mercado em nosso cotidiano contemporâneo, uma compreensão compartilhada pelo senso comum, de que a economia precisa ser desregulada do controle público (governamental). A desregulamentação da atividade econômica acabou levando a crise de liquidez de 2008 dos bancos americanos, devido a enorme especulação que se descolou da prática efetiva das empresas e atividades. A doutrinação repetia, e ainda repete de forma incessante, que a iniciativa dos indivíduos atuando de forma isolada deve ser festejada, frente as ações coletivas e públicas que sempre seriam ineficientes e demoradas.
No âmbito da atuação privada essa atitude acabou determinando uma supremacia da alteridade, uma afirmação repetida e contínua da diferença absoluta entre os seres humanos, que deixam de compartilhar objetivos comuns. Os interesses e objetivos passam a ter uma origem variada compartilhada por identidades que são cada vez menores e mais pulverizadas. Há uma constante reafirmação da diferença entre nós, que pode variar pela nossa origem; mineiros, paulistas, cariocas... ou pela nossa existência; empresários, trabalhadores, ricos, pobres..., ou pelas crenças; cristãos, muçulmanos, judeus..., ou ainda por todas essas e outras. Longe de querer negar essa diferenciação, o que aqui se questiona é a paralisação do diálogo, que parece não ser mais possível. O discurso da racionalidade universal compartilhada por diferentes atores e agentes - um certo universalismo humanista - tornou-se uma vertente do colonialismo ocidental redutor e homogeneizador.
No âmbito da vida privada passamos a uma hierarquização emburrecedora e simplista, que afirma de forma repetida, que para amarmos o outro é preciso que primeiro nos amemos a nós próprios, tenhamos uma auto-estima elevada. Antes de tudo é preciso amar-se a si próprio, para depois amar ao outro. Esse psicologismo barato de botequim permeia quase toda nossa sociedade contemporânea, que parece se esqueceu de forma definitiva da dialética entre o particular e o universal, entre o individual e o outro, que na verdade continuam se construindo mutuamente...
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