domingo, 5 de outubro de 2014

A Inconfidência Mineira

A cidade de Ouro Preto
O livro 1789 do jornalista Pedro Dória é um interessante relato sobre a Inconfidência Mineira, o século XVIII no Brasil, e a formação do estado de Minas Gerais, com o ciclo do ouro são relatos preciosos. A formação da primeira rede urbana no território da colônia do reino ultramarinho de Portugal, conformando uma hierarquia de centralidades e sub-centralidades é uma fato a ser destacado. Há em Minas um patrimônio construído invejável, com exemplares notáveis em Ouro Preto, Mariana, Congonhas do Campo, Sabará, Tiradentes, São João D´El Rei, Catas Altas, na região aurífera e Diamantina, e Serro na região de diamantes, dentre outras. Importante registrar que Vila Rica, o centro da região aurifera era então a maior cidade das Américas.

É importante mencionar como se percebe a emergência de uma sociedade mais liberal em seus costumes, Por exemplo, Simão Pires Sardinha havia nascido escravo, pois era filho de Francisca Oliveira da Silva, a Xica da Silva de Diamantina, que se casara com o  poderoso contratador da zona dos diamantes João Fernandes de Oliveira. Pois bem, Simão Pereira da Silva apesar de mulato tinha ido para a Universidade de Coimbra, tendo sido um dos estudiosos do país, que se dedicava aos fósseis, mas que também irá frequentar a Sociedade Literária do Rio de Janeiro, um grupo que logo após a Inconfidência Mineira esteve na mira das autoridades. Tiradentes visitou efetivamente Sardinha em três ocasiões, levando consigo uma edição em inglês da História da América Inglesa, que narrava os feitos de 04 de julho de 1776 com a independência das treze colônias. Numa outra ocasião levou uma edição em francês do Recueil de loix constitutives des colonies anglaise, confederées sous la dénominations d´États-Units da l´Amerique Septemtronial. Um livro pequeno do tamanho de um caderno Moleskine, pois tinha que ser escondido, afinal era proibido na França.

O impressionante no relato é como as idéias vinculadas ao Iluminismo se disseminaram no território de uma terra afastada e distante como Minas Gerais, de forma simultânea com a Europa e com a América do Norte. O cônego Luis Vieira da Silva, um dos inconfidentes possuía uma biblioteca com 270 títulos distribuídos em 800 volumes, o que era uma coleção representativa, comparando com a de Adam Smith na mesma época, que juntou em toda sua vida três mil volumes. A cultura urbana desenvolvida nessa parte do país certamente fomentou essa disseminação e embate das idéias de forma livre e arejada.

O sítio mágico de Bom Jesus do Matosinhos em Congonhas
do Campo
Talvez o atestado mais sofisticado dessa cultura se encontre no Adro da Igreja do Bom Jesus do Matosinhos na cidade de Congonhas do Campo na área aurífera. Uma obra que tem como referência o sitio de Bom Jesus de Braga em Portugal, mas que demonstra uma imensa superação pela sua adequação impressionante ao sítio. Realmente uma das maiores obras do barroco mineiro é a realização desse sítio - uma cumeada de montanha - com a manipulação do Adro da Igreja,  o Balé dos Profetas e os Passos da Paixão mais abaixo, numa sequência articulada e estruturada de forma sensível e inteligente.

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